Exmo. Senhor
António Centeio
Administrador do Blog “Jornal
Alpiarcense”
Meu Caro Conterrâneo e Amigo,
Não quero começar sem que antes lhe manifeste a minha mais
sentida homenagem pelo papel que tem vindo a desenvolver de promotor da livre
expressão da opinião pública alpiarcense. Sei que deve ser dificil.
Fui alertado por amigos para a existência de vários
comentários sobre a intervenção que tive o prazer de fazer aquando da sessão
solene da AM comemorativa dos 38 anos do 25 de Abril.
Li aqueles comentários e desde logo estranhei que os mesmos
tivessem aparecido tantos dias depois, como se existisse uma tentativa de criar
um caso.
Apesar de entender que em Democracia as opiniões são
livres, vejo-me na necessidade, para evitar alguns mal entendidos, a vir
precisar alguns pontos que, pelos vistos, não foram bem entendidos.
Em primeiro lugar, visei com a
intervenção focar um aspecto sobre as consequências do 25 de Abril que no meu
entender não tem sido suficientemente enaltecido, qual seja, o exemplo de uma
transição democrática bem conseguida para a vaga de países europeus e não só,
que desde ali encetaram também um processo de democratização. Invariavelmente,
aquelas transições democráticas passaram por um processo de integração
económica e social à semelhança de Portugal.
Como, desde muito novo, sempre me
considerei um Europeista convicto, é com preocupação que assisto à destruição
do velho ideal europeu, um continente livre da guerra e da ditadura,
democrático e economicamente solidário. Independentemente do deve e haver da
integração portuguesa sempre considerarei a Europa Unida como futuro de
Portugal. Nesta ocasião de dificuldades, dúvidas e incertezas nunca é demais
fazer apelo ao espirito dos fundadores da União, na tentativa de que entre
alguma luz na cabeça dos actuais dirigentes da Europa e se consciencializem que
não é impunemente que se destroem as bases do Estado social. A ditadura dos
mercados, a austeridade e o abandono dos mais fracos, a breve prazo, caso não
se faça marcha atrás em relação ao seguidismo de modas ultra liberais, trará
como consequência o desmembramento da União. A reacção já se faz sentir na
Europa como demonstram os resultados eleitorais em França no ultimo fim de
semana. Ainda vamos a tempo !
O ideal da Europa unida foi
consequência de uma Aliança frutuosa entre socialistas e cristãos democratas.
Infelizmente o movimento comunista nunca participou ou concordou, antes pelo
contrário, com a integração, porque sabia que a Europa forte e economicamente
desenvolvida seria o maior obstáculo ao sonho soviético de impor a cortina de
ferro dos Urais ao Atlântico. Em
Portugal, nunca o PCP aceitou a ideia de pertença ao espaço europeu. Agora
parecem conformados mas nunca esperaremos ouvir das suas bocas que foi o
Portugal de Abril que nos permitiu fazer parte desta grande Europa. Mais uma
razão para enaltecer o 25 de Abril num aspecto que não seria referenciado pela
CDU naquela noite, como, aliás, nunca o foi.
Pessoalmente, nunca comunguei dos ideais quer
de Freitas do Amaral quer de Carlos da Mota Pinto, no entanto a referência,
justíssima que lhes fiz, deveu-se ao facto de tentar mostrar que, no que diz
respeito aos Partidos que no passado dirigiram (PSD e CDS), ouve uma inversão
de pensamento e de políticas. Se antes eram convictamente defensores (em maior
ou menor medida) do ideal europeu e de políticas publicas de assistência e de
promoção social, hoje, alinham com aqueles que pretendem desmantelar a saúde e
o ensino públicos, bem como o apoio aos economicamente mais débeis em nome do
equilíbrio orçamental, mas que no fundo, mais não traduzem do que a recusa dos
poderosos em contribuírem para a coesão social. Não é pecado, em qualquer ponto
do país de Abril, e não é certamente em Alpiarça, referir publicamente pessoas
que na prossecução das suas ideias políticas que podem não ser as nossas mas
que foram livremente sufragadas pelo povo, se dedicaram ao serviço da coisa
pública. Tentar dizer ou manipular as opiniões no sentido de ter constituído
ofensa ao Povo de Alpiarça elogiar opositores politicos faz-me lembrar aquela
atitude salazarenta, vigente no estado dito novo, de tentar apagar das memórias
colectivas aqueles velhos republicanos que se distinguiram durante a 1ª
República.
(Já agora, e que isto não seja
visto como desculpa, nada me move contra os dois homenageados não referidos e
considero a homenagem muito justa. Aconteceu apenas que aqueles nomes apenas
foram propostos escassos dias antes em sessão de Câmara e não na Assembleia.
Não terem sido referidos em conjunto com os dois demais tem apenas a ver com o
facto de estar a ilustrar um ponto de vista: de que em Democracia é legitimo
mudar de opinião, ou mantê-las quando todos os outros mudam, sem que isso possa
constituir objecto de censura)
Esperando ter ajudado a contextualizar
o que disse no pavilhão dos Águias e apresentando-lhe os meus respeitosos
cumprimentos, subscrevo-me,
Atentamente
Lisboa, 10 de Maio de 2012
Fernando Ramalho
Sem comentários:
Enviar um comentário