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quinta-feira, 10 de maio de 2012

ESCLARECIMENTO DO DEPUTADO MUNICIPAL FERNANDO RAMALHO (PS)


Exmo. Senhor António Centeio
Administrador do Blog “Jornal Alpiarcense”



Meu Caro Conterrâneo e Amigo,

Não quero começar sem que antes lhe manifeste a minha mais sentida homenagem pelo papel que tem vindo a desenvolver de promotor da livre expressão da opinião pública alpiarcense. Sei que deve ser dificil.

Fui alertado por amigos para a existência de vários comentários sobre a intervenção que tive o prazer de fazer aquando da sessão solene da AM comemorativa dos 38 anos do 25 de Abril.

Li aqueles comentários e desde logo estranhei que os mesmos tivessem aparecido tantos dias depois, como se existisse uma tentativa de criar um caso.

Apesar de entender que em Democracia as opiniões são livres, vejo-me na necessidade, para evitar alguns mal entendidos, a vir precisar alguns pontos que, pelos vistos, não foram bem entendidos.

Em primeiro lugar, visei com a intervenção focar um aspecto sobre as consequências do 25 de Abril que no meu entender não tem sido suficientemente enaltecido, qual seja, o exemplo de uma transição democrática bem conseguida para a vaga de países europeus e não só, que desde ali encetaram também um processo de democratização. Invariavelmente, aquelas transições democráticas passaram por um processo de integração económica e social à semelhança de Portugal.

Como, desde muito novo, sempre me considerei um Europeista convicto, é com preocupação que assisto à destruição do velho ideal europeu, um continente livre da guerra e da ditadura, democrático e economicamente solidário. Independentemente do deve e haver da integração portuguesa sempre considerarei a Europa Unida como futuro de Portugal. Nesta ocasião de dificuldades, dúvidas e incertezas nunca é demais fazer apelo ao espirito dos fundadores da União, na tentativa de que entre alguma luz na cabeça dos actuais dirigentes da Europa e se consciencializem que não é impunemente que se destroem as bases do Estado social. A ditadura dos mercados, a austeridade e o abandono dos mais fracos, a breve prazo, caso não se faça marcha atrás em relação ao seguidismo de modas ultra liberais, trará como consequência o desmembramento da União. A reacção já se faz sentir na Europa como demonstram os resultados eleitorais em França no ultimo fim de semana. Ainda vamos a tempo !

O ideal da Europa unida foi consequência de uma Aliança frutuosa entre socialistas e cristãos democratas. Infelizmente o movimento comunista nunca participou ou concordou, antes pelo contrário, com a integração, porque sabia que a Europa forte e economicamente desenvolvida seria o maior obstáculo ao sonho soviético de impor a cortina de ferro dos Urais ao Atlântico.  Em Portugal, nunca o PCP aceitou a ideia de pertença ao espaço europeu. Agora parecem conformados mas nunca esperaremos ouvir das suas bocas que foi o Portugal de Abril que nos permitiu fazer parte desta grande Europa. Mais uma razão para enaltecer o 25 de Abril num aspecto que não seria referenciado pela CDU naquela noite, como, aliás, nunca o foi.

 Pessoalmente, nunca comunguei dos ideais quer de Freitas do Amaral quer de Carlos da Mota Pinto, no entanto a referência, justíssima que lhes fiz, deveu-se ao facto de tentar mostrar que, no que diz respeito aos Partidos que no passado dirigiram (PSD e CDS), ouve uma inversão de pensamento e de políticas. Se antes eram convictamente defensores (em maior ou menor medida) do ideal europeu e de políticas publicas de assistência e de promoção social, hoje, alinham com aqueles que pretendem desmantelar a saúde e o ensino públicos, bem como o apoio aos economicamente mais débeis em nome do equilíbrio orçamental, mas que no fundo, mais não traduzem do que a recusa dos poderosos em contribuírem para a coesão social. Não é pecado, em qualquer ponto do país de Abril, e não é certamente em Alpiarça, referir publicamente pessoas que na prossecução das suas ideias políticas que podem não ser as nossas mas que foram livremente sufragadas pelo povo, se dedicaram ao serviço da coisa pública. Tentar dizer ou manipular as opiniões no sentido de ter constituído ofensa ao Povo de Alpiarça elogiar opositores politicos faz-me lembrar aquela atitude salazarenta, vigente no estado dito novo, de tentar apagar das memórias colectivas aqueles velhos republicanos que se distinguiram durante a 1ª República.

(Já agora, e que isto não seja visto como desculpa, nada me move contra os dois homenageados não referidos e considero a homenagem muito justa. Aconteceu apenas que aqueles nomes apenas foram propostos escassos dias antes em sessão de Câmara e não na Assembleia. Não terem sido referidos em conjunto com os dois demais tem apenas a ver com o facto de estar a ilustrar um ponto de vista: de que em Democracia é legitimo mudar de opinião, ou mantê-las quando todos os outros mudam, sem que isso possa constituir objecto de censura) 

Esperando ter ajudado a contextualizar o que disse no pavilhão dos Águias e apresentando-lhe os meus respeitosos cumprimentos, subscrevo-me,
Atentamente

 
Lisboa, 10 de Maio de 2012

Fernando Ramalho

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