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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Aldeia das Ilusões




Por: António Centeio

Nos dias que correm há dois tipos de zeladores da «coisa pública»: o ‘Zelador Rural’ e ‘Zelador Urbano’.
O Zelador Rural é aquele que zela pela «coisa pública». Foi eleito pelo povo. Mais não faz do que mandar tapar uns buracos nesta ou naquela rua, arranja esta ou aquela estrada. Manda esburacar esta ou aquela artéria para que lá possa passar os mais variados meios de abastecimento (telefones, cabos da PT, da TV e outros afins). Depois manda tapá-los para poucos meses tudo voltar à mesma. Consegue pedir aos órgãos institucionais umas verbas nem que seja para limpar o telhado patrimonial de qualquer monumento ou coisa do género que a ser concedido apregoa então como fosse a «obra mais importante» quando na verdade mais não foi do que um «bem de conservação».
Faz orçamentos para obras públicas do burgo por um preço. Depois da obra concluída a despesa ultrapassa o previsto mas não é responsabilizado pelos gastos excessivos. Manda meia dúzia de piropos a dizer que isto e aquilo «são um bem necessário para o cidadão». Tudo em prole da cidadania. Tudo para bem do cidadão
Manda fazer pequenos melhoramentos naquilo que é património de todos mas cujo pagamento é sempre feito com o dinheiro dos outros e nunca com o dele. Fala bem porque tem o dom da palavra e diz «tudo o que existe e foi feito» a ele e aos seus «companheiros de bancada» se deve. Dá-se ao luxo de aumentar as taxas que bem entende conseguindo depois fazer a proeza de apregoar que tais aumentos mais não são do que necessidades básicas – um fazedor de promessas.
Até tem o desplante de aplicar nos recibos de ‘consumo de água’ uma ‘taxa de resíduos sólidos’ em que o consumidor (pagante) paga a respectiva taxa em proporção com os metros cúbicos da água que consome. Com esta lógica (constante nos recibos) eu (e o leitor) ao abrir a torneira para beber um simples copo de água já estou a fazer lixo.
Pode ser um inimigo perigoso para com quem dele depende ou por ele é mandado. É azedo para quem o critica e em especial para quem não tem as suas opiniões politicas. Se alguém diz em público que não é «grande praça» é capaz de usar o seu poder e influência para exigir a quem representa a lei que fulano «chamou-lhe ou disse nomes feios» O suficiente para o pacato cidadão ir «de cana» ou ter que vender alguns dos bens que possui para pagar alguma indemnização. No entanto apregoa aos sete ventos que «vivemos em democracia onde todos podemos e temos o direito de ter e dar a nossa opinião».
Eis talvez o cerne da questão de não aceitar «piropos» e ainda muito menos quando é publicada na comunicação social algum dizer menos favorável. Por razões ainda por investigar ou pelo motivo de o zelador estar numa edilidade de poucos habitantes as criticas são vistas como «uma seita de maldizentes que apenas tentam destruir» aquilo que o zelador pensa ser o melhor.
Nos meios pequenos todo aquele que crítica, seja qual for a forma são todos «nossos inimigos que só nos querem mal». Na verdade o poder cega as pessoas, cuja cegueira impede de ver e compreender que quem exerce um lugar público está sujeito a toda a espécie de critica. A confusão ou a maldade impera quando estes zeladores nomeados confundem a critica com mal dizer. Quantas vezes as críticas negativas mais não são de que os pilares para uma gestão mais positiva.
Passados alguns anos no poder até é homem para mandar construir algum edifício, que passou a ser público mostrando assim que «apresenta obra feita».
Para que não baste a substância consegue ainda utilizar os seus conhecimentos políticos ou pessoais para que se construa uma ou duas fabriquetas na aldeia, dando trabalho a meia dúzia de cidadãos cujos tem a sua vida estabilizada na terra onde se instalou a dita não trazendo assim mais qualquer valia para outros habitantes salvo o aumento da receita directa ou indirecta que vai acabar na rotina dos arranjos das ruelas ou de um ou outro melhoramento mesmo que seja «mandar pintar as passadeiras de peões ou pintar alguma fachada de um qualquer edifício que tenha mau aspecto».
É pessoa para implementar uma ‘Zona Industrial’ onde vista à distância até parece que a industria trabalha de noite e de dia quando na verdade o que lá existe são empresas de «prestação de serviços ou de transformação»
Promete «coisas do outro mundo» e obras que se vão fazer. O pacato cidadão pensa que mais ano menos ano, algum extraterrestre vá passar por tudo que é sitio, tal é o progresso. Todos lhes batem palmas excepto aqueles que não são defensores das suas promessas porque sabe que a «coisa não é bem assim».
É homem para apregoar: praias, fábricas, estabelecimentos de ensino superior, rodovias planeadas para três séculos depois, hotéis aquáticos e um mundo de promessas que começamos a duvidar se vivemos num mundo real ou de fantasia. Consegue criar a ilusão que os cidadãos não vivem numa «zona rural» mas sim numa «zona de turismo».
Esquece-se o Zelador Rural que o que faz e manda fazer em nada contribui para o desenvolvimento/crescimento do burgo porquanto o tempo passa e tudo continua na mesma.
Os cidadãos continuam a ser os mesmos e os habitantes acabam por não ser nenhuma mais valia pela graça de «não terem para onde caírem em pé» isto é: de poucos recursos que por sua vez em nada beneficia a localidade.
Os jovens continuam a não ter qualquer futuro em termos profissionais na terra que os viu nascer para passarem a perder os elos de ligação às origens. A cultura mais não passa do que ignorância; o comércio vai-se findando dia após dia e … o burgo, por causa do edil não passa de uma simples aldeia de ilusões.

Pobre ignorância! (Quem não é capaz de zelar por aquilo que é dos outros? Até há quem diga que o «melhor emprego é zelar pelas as coisas dos outros» ou então….da «coisa pública» - se a coisa der para o torto, em abono da verdade, o dito nada tem a perder)

O Zelador Urbano pouco difere do Rural. Alguns (poucos) sabem aproveitar-se do lugar para o qual foi eleito e quer ser «cidadão exemplar» não por vaidade mas porque se preocupa com o futuro
Delega poderes e a «pasta de decisões» partindo de seguida para lugares incertos em busca de algo melhor para os seus concidadãos e futuros habitantes. Vai procurar quem queira investir no lugar «oferecendo» aquilo que é de todos. Em troca traz a realização de instalações de fábricas e outras coisas do género tendo com a finalidade do aumento de habitantes que por sua vez (mais tarde ou mais cedo tem que acontecer) vão poisar na terra dos cidadãos.
De quem procurou e do «dinheiro da edilidade» que gastou trouxe como «documento de despesa» a futura instalação de algo que vai: exigir mão-de-obra especializada não existente na zona; criar postos de trabalho também não existentes nas proximidades; residentes que passam e viver no concelho. Por consequência torna-se necessário o crescimento do comércio, da habitação, das mentalidades e porque não, até de pessoas com outras saberes e conhecimentos podem destituir os zeladores rurais e urbanos então existentes
O Zelador Urbano quer aumentar a população que por sua vez cria outras formas de vida no concelho e o faz crescer não apenas no vertical mas sim também no horizontal. Noutras palavras: «fazer aumentar o progresso mesmo que este tenha os seus inconvenientes». Pararmos no tempo e não «aprendermos com quem já mostrou obra» é fazer da nossa terra uma aldeia de ilusões.
As personagens, lugares ou outros constantes são fictícios e qualquer semelhança com pessoas ou situações existentes haverá que ser atribuída a coincidência