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quarta-feira, 2 de maio de 2012

DISCURSO INTEGRAL DE MÁRIO SANTIAGO NAS "COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL"


DISCURSO DO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL, 
MÁRIO SANTIAGO, NA SESSÃO SOLENE REALIZADA EM 24.04.2012, 
COMEMORATIVA DO 25 DE ABRIL

 
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal,
Senhoras e Senhores Deputados Municipais,
Senhora Presidente da Junta de Freguesia e Senhor Presidente da Assembleia de
Freguesia,
Senhoras e Senhores Vereadores,
Senhor Pároco de Alpiarça
Distintos Convidados,
Órgãos da Comunicação Social,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Todos os anos comemoramos o 25 de Abril, mas cada vez mais nos esquecemos  do real significado da revolução dos cravos e como a mesma influenciou a nossa  existência e convivência social.
Se a preservação da memória colectiva em relação à  nossa história é uma obrigação por parte dos intervenientes políticos deste regime democrático, também é verdade que cada vez mais desprezam essa memória.
Esses mesmos intervenientes tentam sugerir-nos que  a liberdade conquistada  afinal não passa de um efémero registo e que deve vassalagem a outros interesses  económicos instrumentalizando a vida humana como uma mera ferramenta e de  pouca importância quando comparada a siglas ou expressões como o PIB, Dívida  Soberana, BCE, Sistema Monetário Mundial ou o próprio EURO.
Poderíamos hoje recordar algumas das conquistas de Abril
• O Serviço Nacional de Saúde
• O Poder Local
• A Liberdade de Expressão
• Os Direitos Laborais
• O Direito à Justiça
Curiosamente, as mesmas conquistas que agora são questionadas, agredidas, subvertidas e eliminadas.
Se a ditadura do Estado Novo atormentou este povo durante 50 anos, até que o  povo disse BASTA, agora, apenas 38 anos depois de 1974, após 38 anos de  democracia, vemos essas mesmas conquistas nos serem retiradas.
Mas recordar essas conquistas, sem no entanto sublinhar que qualquer dia nem a memória dessas conquistas existirá, era como deixar passar mais uma ocasião,  mais um ano, para todos nós, sem excepção, reflectirmos sobre se preferimos  continuar a comemorar de forma passiva esta data, ou se ao invés disso, vamos  defender os ideais que esta data representa.
E defender os ideais de Abril, não se pode limitar  a todos os anos, pela mesma  altura, subirmos a este palco e perante esta plateia, repetir chavões, expressões,  gritar VIVAS, como se a Liberdade do 25 de Abril, fosse exclusivamente dos  políticos, e não fosse uma conquista colectiva, onde infelizmente quem mais a  deveria defender e preservar, os tais políticos, afinal apenas aparentam honrar  essa LIBERDADE em períodos eleitorais.
Mas na prática e quando detêm o poder, esmagam essa LIBERDADE, moldando-a  para servir interesses, ora pessoais, ora alheios, e que não respeitam quem por ela  lutou, e que sofreu, que foi torturado, que foi preso, ou que deu a própria vida.  
A destruição e degradação dessas conquistas completam aquilo que há um ano  por ocasião das comemorações do 25 de Abril, eu designei como um Retrocesso  Civilizacional em que mais do que significar uma clara e visível penalização das nossas condições de vida, representam a destruição do sonho de que os nossos filhos afinal teriam melhores condições de vida do que aquelas que os nossos pais tiveram ou nos proporcionaram. E esse sonho não era nada por aí além. Apenas o anseio natural e legítimo de que o progresso tecnológico e social se encarregaria de nos proporcionar um futuro cada vez melhor.
Afinal fomos enganados e hoje cada vez mais existe a certeza que nos próximos  anos e décadas assistiremos a mais desemprego, pior educação, menos direitos  laborais e sociais, menos representatividade democrática local junto das  populações, entre tantos outros direitos conquistados com Abril.
Se alguns tentam fazer esquecer o espírito de Abril presente em todos nós, eu digo aqui publicamente e sem medo, e porque vivemos em Liberdade, que nunca como hoje o 25 de Abril fez tanto sentido. 
E não se trata de um apelo inconsciente à revolução ou desobediência civil generalizada. 
Trata-se sim, de uma manifestação de quem não reconhece legitimidade para os governantes subverterem o voto popular, voto esse que no caso de alguns Ministérios com responsabilidades sociais fundamentais, as mesmas que foram conquistadas há 38 anos atrás, estejam agora na mão de forças politicas que foram simplesmente e apenas a 3ª mais votada nas últimas eleições. Não podem estes mesmos partidos políticos agora, e representando pouco mais de 10% do eleitorado, vir a ter um papel critico na adopção de medidas e politicas sociais que contrariam as mesmas conquistas de Abril.
Assim como nenhum homem, eleito democraticamente por um povo, pode vir agora alegar que desconhecia a real situação das finanças publicas, vendendo uma falsa necessidade de sacrificar violentamente o seu próprio povo, para que os juros pagos às Instituições Financeiras Internacionais sejam liquidados em prazos e níveis incomportáveis.  
Nós, alpiarcenses, filhos e netos de grandes combatentes na luta pela Liberdade também não aceitamos ser tratados como Danos Colaterais. 
Se a especulação financeira faz vítimas diferenciadas na sua condição social, então a agiotagem internacional institucionalizada não pode ser admitida num contexto de estado social.
Não pode haver uma moeda de troca para tudo. Não podem trocar a dignidade humana pelo cumprimento de limites macro-económicos definidos pelo FMI ou pelo BCE.
Se a vida humana não tem preço, então a dignidade social de um povo também não pode ter.
Que os principais culpados da crise económica sejam julgados, que sejam condenados e que sejam inibidos de qualquer actividade política. É o mínimo que podemos exigir.
Não é justo que paguemos pela mentira, pela incompetência, pelo benefício de cargos políticos e públicos, que nos reduzam salários, que nos retirem o acesso facilitado à saúde, que tributem reformas, e os direitos desses políticos continuem intocáveis, que continuem a beneficiar de reformas  chorudas após curtos mandatos, que continuem a usufruir de elevados salários em empresas públicas quando terminam o seu mandato político, que tenham  acesso a regalias pagas através dos nossos impostos.
Não é justo!
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Este também é um momento de homenagem.
Homenagem por todos aqueles que no passado lutaram para que as conquistas de
Abril que infelizmente agora significam tão pouco para aqueles que nos governam, sejam ainda uma realidade.  
Os Alpiarcenses: 
*** João da Silva Sanfona
*** João Carvalho Pereira
*** Manuel Lopes Vital
*** Jacinto Ramiro Marvão
Lutaram por estas conquistas. 
Lutaram, foram presos, foram torturados, e também houve quem tombasse na sua luta pela Liberdade.
Para hoje estarmos aqui sem medo de repressões ou cargas policiais. 
Este é o 3º ano do nosso ciclo de homenagens. E cada vez que tenho a honra de na qualidade de Presidente da Assembleia Municipal, o órgão máximo do município, entregar as Medalhas da Liberdade aos homenageados  ou aos seus familiares, faço-o não só com um sentimento de agradecimento pessoal, mas também representando o povo alpiarcense que reconhece colectivamente a luta pela Liberdade destes ilustres alpiarcenses.
Quaisquer palavras que eu pudesse usar para descrever estes homens que se destacaram na luta contra o Fascismo e pela conquista da Liberdade eram infinitamente pequenas para descrever a sua história.
As suas histórias de vida serão perpetuadas através desta Assembleia, e nesta noite imortalizaremos os seus nomes como alpiarcenses de referência e inspiradores das gerações vindouras.
*** Obrigado João Sanfona
*** Obrigado João Pereira
*** Obrigado Manuel Vital
*** Obrigado Jacinto Marvão
OBRIGADO A TODOS, 
 VIVA A LIBERDADE

NR: O discurso de Mário Santiago, Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça só agora  é publicado porque só hoje nos foi entregue.

2 comentários:

Anónimo disse...

Incisivo, objetivo e sem contemplações. À boa maneira do Mário.
Talvez tenha faltado algum recado mais explicito aos seus camaradas, mas se continuam assim, não perdem pela demora.

Anónimo disse...

O melhor discurso nas comemorações do 25 de Abril!