DISCURSO DO PRESIDENTE DA
ASSEMBLEIA MUNICIPAL,
MÁRIO SANTIAGO, NA SESSÃO SOLENE
REALIZADA EM 24.04.2012,
COMEMORATIVA DO 25 DE ABRIL
Excelentíssimo Senhor Presidente
da Câmara Municipal,
Senhoras e Senhores Deputados
Municipais,
Senhora Presidente da Junta de
Freguesia e Senhor Presidente da Assembleia de
Freguesia,
Senhoras e Senhores Vereadores,
Senhor Pároco de Alpiarça
Distintos Convidados,
Órgãos da Comunicação Social,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Todos os anos comemoramos o 25 de
Abril, mas cada vez mais nos esquecemos do
real significado da revolução dos cravos e como a mesma influenciou a nossa existência e convivência social.
Se a preservação da memória
colectiva em relação à nossa história é
uma obrigação por parte dos intervenientes políticos deste regime democrático, também
é verdade que cada vez mais desprezam essa memória.
Esses mesmos intervenientes
tentam sugerir-nos que a liberdade
conquistada afinal não passa de um
efémero registo e que deve vassalagem a outros interesses económicos instrumentalizando a vida humana
como uma mera ferramenta e de pouca
importância quando comparada a siglas ou expressões como o PIB, Dívida Soberana, BCE, Sistema Monetário Mundial ou o
próprio EURO.
Poderíamos hoje recordar algumas
das conquistas de Abril
• O Serviço Nacional de Saúde
• O Poder Local
• A Liberdade de Expressão
• Os Direitos Laborais
• O Direito à Justiça
Curiosamente, as mesmas
conquistas que agora são questionadas, agredidas, subvertidas e eliminadas.
Se a ditadura do Estado Novo
atormentou este povo durante 50 anos, até que o povo disse BASTA, agora, apenas 38 anos depois
de 1974, após 38 anos de democracia,
vemos essas mesmas conquistas nos serem retiradas.
Mas recordar essas conquistas,
sem no entanto sublinhar que qualquer dia nem a memória dessas conquistas
existirá, era como deixar passar mais uma ocasião, mais um ano, para todos nós, sem excepção,
reflectirmos sobre se preferimos continuar
a comemorar de forma passiva esta data, ou se ao invés disso, vamos defender os ideais que esta data representa.
E defender os ideais de Abril,
não se pode limitar a todos os anos,
pela mesma altura, subirmos a este palco
e perante esta plateia, repetir chavões, expressões, gritar VIVAS, como se a Liberdade do 25 de
Abril, fosse exclusivamente dos políticos,
e não fosse uma conquista colectiva, onde infelizmente quem mais a deveria defender e preservar, os tais
políticos, afinal apenas aparentam honrar essa LIBERDADE em períodos eleitorais.
Mas na prática e quando detêm o
poder, esmagam essa LIBERDADE, moldando-a para servir interesses, ora pessoais, ora
alheios, e que não respeitam quem por ela lutou, e que sofreu, que foi torturado, que
foi preso, ou que deu a própria vida.
A destruição e degradação dessas
conquistas completam aquilo que há um ano por ocasião das comemorações do 25 de Abril,
eu designei como um Retrocesso Civilizacional
em que mais do que significar uma clara e visível penalização das nossas condições
de vida, representam a destruição do sonho de que os nossos filhos afinal
teriam melhores condições de vida do que aquelas que os nossos pais tiveram ou
nos proporcionaram. E esse sonho não era nada por aí além. Apenas o anseio
natural e legítimo de que o progresso tecnológico e social se encarregaria de
nos proporcionar um futuro cada vez melhor.
Afinal fomos enganados e hoje
cada vez mais existe a certeza que nos próximos anos e décadas assistiremos a mais desemprego,
pior educação, menos direitos laborais e
sociais, menos representatividade democrática local junto das populações, entre tantos outros direitos
conquistados com Abril.
Se alguns tentam fazer esquecer o espírito de Abril presente em todos nós, eu digo aqui publicamente e sem medo,
e porque vivemos em Liberdade, que nunca como hoje o 25 de Abril fez tanto
sentido.
E não se trata de um apelo
inconsciente à revolução ou desobediência civil generalizada.
Trata-se sim, de uma manifestação
de quem não reconhece legitimidade para os governantes subverterem o voto
popular, voto esse que no caso de alguns Ministérios com responsabilidades
sociais fundamentais, as mesmas que foram conquistadas há 38 anos atrás,
estejam agora na mão de forças politicas que foram simplesmente e apenas a 3ª
mais votada nas últimas eleições. Não podem estes mesmos partidos políticos
agora, e representando pouco mais de 10% do eleitorado, vir a ter um papel
critico na adopção de medidas e politicas sociais que contrariam as mesmas
conquistas de Abril.
Assim como nenhum homem, eleito
democraticamente por um povo, pode vir agora alegar que desconhecia a real
situação das finanças publicas, vendendo uma falsa necessidade de sacrificar
violentamente o seu próprio povo, para que os juros pagos às Instituições
Financeiras Internacionais sejam liquidados em prazos e níveis
incomportáveis.
Nós, alpiarcenses, filhos e netos
de grandes combatentes na luta pela Liberdade também não aceitamos ser tratados
como Danos Colaterais.
Se a especulação financeira faz
vítimas diferenciadas na sua condição social, então a agiotagem internacional
institucionalizada não pode ser admitida num contexto de estado social.
Não pode haver uma moeda de troca
para tudo. Não podem trocar a dignidade humana pelo cumprimento de limites
macro-económicos definidos pelo FMI ou pelo BCE.
Se a vida humana não tem preço,
então a dignidade social de um povo também não pode ter.
Que os principais culpados da
crise económica sejam julgados, que sejam condenados e que sejam inibidos de
qualquer actividade política. É o mínimo que podemos exigir.
Não é justo que paguemos pela
mentira, pela incompetência, pelo benefício de cargos políticos e públicos, que
nos reduzam salários, que nos retirem o acesso facilitado à saúde, que tributem
reformas, e os direitos desses políticos continuem intocáveis, que continuem a
beneficiar de reformas chorudas após
curtos mandatos, que continuem a usufruir de elevados salários em empresas
públicas quando terminam o seu mandato político, que tenham acesso a regalias pagas através dos nossos
impostos.
Não é justo!
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Este também é um momento de
homenagem.
Homenagem por todos aqueles que
no passado lutaram para que as conquistas de
Abril que infelizmente agora
significam tão pouco para aqueles que nos governam, sejam ainda uma
realidade.
Os Alpiarcenses:
*** João da Silva Sanfona
*** João Carvalho Pereira
*** Manuel Lopes Vital
*** Jacinto Ramiro Marvão
Lutaram por estas
conquistas.
Lutaram, foram presos, foram
torturados, e também houve quem tombasse na sua luta pela Liberdade.
Para hoje estarmos aqui sem medo
de repressões ou cargas policiais.
Este é o 3º ano do nosso ciclo de
homenagens. E cada vez que tenho a honra de na qualidade de Presidente da
Assembleia Municipal, o órgão máximo do município, entregar as Medalhas da
Liberdade aos homenageados ou aos seus
familiares, faço-o não só com um sentimento de agradecimento pessoal, mas
também representando o povo alpiarcense que reconhece colectivamente a luta
pela Liberdade destes ilustres alpiarcenses.
Quaisquer palavras que eu pudesse
usar para descrever estes homens que se destacaram na luta contra o Fascismo e
pela conquista da Liberdade eram infinitamente pequenas para descrever a sua
história.
As suas histórias de vida serão
perpetuadas através desta Assembleia, e nesta noite imortalizaremos os seus
nomes como alpiarcenses de referência e inspiradores das gerações vindouras.
*** Obrigado João Sanfona
*** Obrigado João Pereira
*** Obrigado Manuel Vital
*** Obrigado Jacinto Marvão
OBRIGADO A TODOS,
VIVA A LIBERDADE
NR: O discurso de Mário Santiago, Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça só agora é publicado porque só hoje nos foi entregue.
2 comentários:
Incisivo, objetivo e sem contemplações. À boa maneira do Mário.
Talvez tenha faltado algum recado mais explicito aos seus camaradas, mas se continuam assim, não perdem pela demora.
O melhor discurso nas comemorações do 25 de Abril!
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