Por: Anabela Melão |
Ainda é dia de
Ascensão de Jesus Cristo quando escrevo este pequeno apontamento.
Corre um ano desde que foi aprovado o programa de ajustamento português
acordado com a troika. Para a semana, na terça-feira, a troika faz-nos o favor
de começar a quarta avaliação. Preocupações: os níveis de desemprego e a eventual
saída da Grécia da Zona Euro.
Somente em 1988
(era Cavaco Silva primeiro-ministro deste paraíso à beira mar plantado) se
conseguiu alcançar um número tão baixo de trabalhadores em Portugal. Só a construção
e o imobiliário perderam 38 mil postos de trabalho no primeiro trimestre deste
ano, cerca de 400 empregos por dia. No final do mês de abril, estavam inscritos
nos centros de emprego do continente e regiões autónomas, 655.898 desempregados
- mais 113.924 desempregados inscritos do que em abril de 2011 -, representando
83,6% de um total de 784.292 pedidos de emprego. Convertendo isto na linguagem
do nosso atual Primeiro-Ministro (porque será que escrevi isto com
maiúsculas?!): que extraordinárias oportunidades!
Paira uma “nuvem
negra” sobre a União Europeia. Fala-se da saída da Grécia do euro. Falamos de prejuízos
de que ordem? Circunscrevendo-nos às duas maiores economias do euro. A França
enfrentaria um prejuízo de 66,4 mil milhões de euros. A Alemanha somaria até 89,8
mil milhões de euros. Da fatura não se livra Malta “apenas” 300 milhões de euros (que representam 4,5% do PIB), Estónia assumiria 700 milhões (4,5%
do PIB) e Eslováquia a bater os 2,6
mil milhões (3,8% do PIB).
A assistir a tudo
isto de plateia, o Governo soma e segue com as exceções/adaptações aos “cortes”
da administração pública. A par da TAP Portugal, da SATA, da CGD e do Banco de
Portugal, já temos privilégios firmados para vinte e três empresas e institutos
públicos, que beneficiam de um regime “a leste” do geral: regras mais abertas e
flexíveis no que toca às reduções salariais, quer dos trabalhadores, quer dos
gestores (parabéns a estes últimos que tanto contribuíram para o descalabro das
contas públicas!) que bem podem ver nisto “prémios de desempenho”! Ele há
fenómenos ….
Passos Coelho encontra-se
com Hollande, domingo, em Chicago, antes
da cimeira da NATO. Agenda: crise europeia. O nosso Primeiro (porque será que
continuo a escrever isto com maiúsculas?!) continua escravo do cumprimento das
metas de austeridade – a apressada ratificação por Portugal do Tratado europeu
foi por si só um “tratado”! – e dos tetos da dívida (agarrado ao teto e sem
chão?!), enquanto François Hollande defendeu, na campanha, que o Tratado deve
ser renegociado. Parece que na “carta” dirigida a Jean-Marc Ayrault, Passos
disse estar convencido de que o empenho conjunto entre os dois países “dará os
seus frutos para impulsionar uma nova dinâmica de crescimento, de criação de
emprego e de prosperidade na Europa”. O homem de Massamá ao leme! Há nisto uma
pinta de provincianismo!
E, voltando à Ascensão, estamos no caminho
do céu. “Subiu abrindo o caminho na frente deles” (Mq 2, 13), Cristo. “Vou
preparar-vos o lugar” (Jo 14, 2)), disse. E, pela penitência que cumprimos,
suspeito que seja um “lugar” de honra. Haja paciência! E fé (não era isto que
dizia a Assunção – nome apropriado ao dia – Cristas – também muito
apropriado!).
“O orçamento
nacional deve ser equilibrado. As dívidas devem ser reduzidas, a arrogância das
autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos
estrangeiros devem ser reduzidos se a nação não quiser ir à falência. As
pessoas devem, novamente, aprender a trabalhar, em vez de viver por conta
pública.” (Cícero) – é o lembrete que
deixo para o nosso primeiro (e agora em minúsculas!).
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