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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Isto não é homem


Acima dos governos, dos parlamentos, dos juízes, dos jornalistas, dos sindicatos, dos intelectuais, das Igrejas, dos exércitos, dos cientistas reinam os mercados financeiros.
Jean Ziegler

Está provado. Esta organização (global) do mundo fracassou. E fracassou sobretudo devido à capitulação dos poderes democráticos face à ganância de ocultos grupos de interesse. Atente-se na crise que presentemente devasta o sistema financeiro mundial. Na realidade ela não atinge os que têm beneficiado com o sistema, o especulador obcecado pelo ganho. Ela fere sobretudo os que estão na base da pirâmide, os mais pobres. Estes são atirados para o desemprego ou recebem salários de miséria, perdem benefícios sociais, assistem ao corte nas reformas. Enquanto o Estado acorre, solícito, a salvar o especulador ameaçado no seu lucro, deixa ser arrastada para a miséria uma multidão.
Bastaria olhar para o mundo que nos rodeia para verificar que um sistema que gera a mais obscena opulência, cria também a mais inominável das misérias.
Diríamos que estamos perante um sistema terrorista que produz insegurança, angústia e instabilidade social. É um sistema iníquo até porque fecha todos os horizontes ao criar um mundo totalmente imprevisível.
Toda a população sofre esta situação mas são os jovens que mais estão condenados neste mundo fechado. Sujeitos a uma longa escolaridade obrigatória; incentivados a conquistar um diploma para obter um lugar ao sol; desafiados a ter sucesso escolar para só esbarrarem no insucesso de vida, vivem esmagados por uma situação em que lhes é negada toda a possibilidade de traçarem um projecto para o seu futuro. Isto, porque o presente é a precariedade, sem emprego ou com salários que mal dão para sobreviver no dia-a-dia.
Um homem que quer trabalhar e não encontra resposta não é um homem. Não é um homem livre. Vê ser-lhe negada a possibilidade de participar na construção da cidade e de poder decidir acerca do seu destino. Perde a dignidade de ser humano porque é humilhado ao não ter voz activa e ao não poder realizar a essência da sua condição: construir-se e construir o mundo.
Temo que os jovens desempregados estejam a ser atirados para o desespero. Eles vivem numa selva e nenhuma voz se ouve a falar de certezas e de um futuro estável; nenhuma mão se levanta a apontar um rumo. A descrença é um convite a que dificilmente podem fugir.
Eduardo Bento
(Professor de Filosofia)

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