.

.

.

.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

FANTASMAS

Por: Carlos Céu e Silva

Havia quem conhecia de cor todas as histórias de almas penadas e de fantasmas . Diziam os mais velhos, no tempo em que não havia electricidade, que as noite eram assustadoras. Mas não perigosas, como agora.
Era rara a noite, em que não se via um vulto estranho caminhar pelas ruas, deixando um rasto e um cheiro esquisito que ninguém conseguia definir. Uns diziam ser cera queimada, outras lava, incenso, ou simplesmente água fétida. Mas não havia consenso.
Quanto aos fantasmas, as histórias também eram muitas. Corsários, ladrões sem cabeça, mães desventradas, crianças disformes, homens de corpos bizarros, tudo servia, até os papões, para deixar crianças, adultos e velhos, presos em casa.
E diziam alguns, poucos, que o local escolhido, para o encontro dessas figuras do além, era no coreto. Com lobisomens à mistura. E não faltava música muito afinada, como se fizessem parte de uma imponente orquestra sinfónica.
Eram tocadas músicas muito antigas, sem registo em pautas, gravadas na memória colectiva. Só os mais velhos as conheciam e muito vagamente.
E o resto da noite passava-se assim. O barulho só acabava, um pouco depois dos primeiros alvores da madrugada. Mas, quem por lá passava, logo pela manhã, ainda ouvia a madeira do chão estalar e sentia o bafo morno, que confirmava ter havido ali, grandes festins e muita farra.
Só que, para aquelas festas, ninguém era convidado.
Todos os direitos reservados. O leitor não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida autorização do autor.

Sem comentários: