Por: Lino Mendes |
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Não raras vezes gente ligada ao folclore afirma que este ou aquele grupo está bom etnograficamente isto é, quer ele dizer, está bem trajado. É este o conceito que se generalizou. No entanto e no que me diz respeito, e porque diversos são os conceitos que me chegam, não sei concretamente o que é ETNOGRAFIA, quais as fronteiras com o Folclore, quando se encontram.
No PORTO EDITORA (2006) a explicação é simples e clara:
FOLCLORE: conjunto das tradições populares nas suas variadas manifestações (música, dança, canções, provérbios, anexins, lendas);
ETNOGRAFIA: estudo dessas tradições populares.
Simples, claro. No entanto estudiosos credíveis da cultura tradicional, apresentam-nos diferentes conceitos
Dois exemplos:
BERTINO COELHO, tem o seguinte ponto de vista:
“…Folclore, é a abstracção popular que vem até nós pelo ouvido: a fala, o canto, a dança; os usos, os costumes ,a tradição, a devoção ,a crença ; as superstições e as lendas, tudo são manifestações folclóricas.”
“ Etnografia vem da matéria popular, isto é, tudo o que nos passa pelas mãos, os trabalhos em todos os seus aspectos: o artesanato, a agricultura, a habitação, o fabrico do pão e do vinho, a caça e a pesca, a fiação e a tecelagem, etc., um sem número de trabalhos em que as mãos intervêm, tudo é Etnografia.”
“Porém, entre Folclore e Etnografia há, sem dúvida pontos de contacto que convém diferenciar. Dois exemplos, apenas: Uma moça apresenta-se-nos com o seu traje regional. Se observarmos, apenas, os seus aspectos de vestir, de compostura, dos adornos, estamos no campo folclórico. Mas se apalparmos as roupas e apreciarmos as qualidades do tecido em lã, algodão ou linho, o talho das peças, os bordados; enfim, todo o trabalho das mãos, estaremos no campo etnográfico. Se, na execução de uma música popular, pelo ouvido, distinguimos os timbres e os ritmos dos instrumentos e a pudermos classificar de Fadinho ou Verdegaio, de Vira ou Fandango, isto será Folclore. Mas se pegarmos numa viola ou cavaquinho, num bombo, clarinete ou acordeão e observarmos como foram construídos, os materiais empregues, as afinações ou posições próprias ,por exclusiva aptidão das mãos ,teremos Etnografia.”
“Conclusão: os sentidos da vista e do ouvido nas coisas populares, conduzem-nos ao Folclore. Os outros sentidos, pelo trabalho das mãos, dão-nos a Etnografia.
Mais recentemente, Artur Fernandes dá-nos o seguinte conceito:
Etnografia quer dizer, à letra, grafismo de um etnia. Assim Etnografia é a actividade de grafar (registar) a tradição de uma localidade ou região. Temos como exemplo o acto da recolha, que é um acto etnográfico por excelência. A apresentação pública em forma de espectáculo é um acto folclórico que quanto mais respeito revelar pela tradição, mais etnográfico será
Ora bem, é urgente e importante que se “normalize”o conceito de “ etnografia” e “a sua relação com o “folclore”, que para Tomaz Ribas, são duas das ciências auxiliares da Antropologia Cultural (ou Etnologia).E seguir o exemplo dos que em 2002 reuniram em Santarém para, sem alienação do seu conteúdo, encontrar uma definição comum para o conceito de “folclore” parece-me o passo a tomar.
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