Aqui está o primeiro-ministro em todo o seu esplendor. Na retórica, um demagogo. Na atitude, um actor
José Sócrates é, definitivamente, o exemplo do político sem grande respeito pela palavra. Se alguém ainda tivesse dúvidas, elas teriam sido dissipadas por completo com o novo pacote de austeridade. Vejamos os factos:
Em Janeiro e Fevereiro, o primeiro-ministro fez uma festa com a execução orçamental. Estava perfeita. Como já antes era perfeito e rigoroso o orçamento aprovado no final de 2010. Quando alguém se atrevia a dizer que eram precisas medidas adicionais, logo era catalogado de profeta da desgraça. E, afinal, as medidas orçamentais adicionais aí estão. Mais cedo e mais duras do que se pensava.
Ao longo de meses, o primeiro-ministro andou a disparar contra o FMI. Que não, que nem pensar, que não era necessário, que era uma humilhação para Portugal. Afinal, temos pior. Temos de aplicar as medidas que o FMI defende (cortes de salários e pensões) sem termos o dinheiro que o FMI nos emprestaria. Chama-se a isto ter a fama sem ter o proveito.
A meio da semana, comentando o discurso de posse do Presidente da República, o primeiro-ministro afirmou: primeiro, que o governo garantia total lealdade para com o Chefe do Estado; depois, que o país precisa de convergência entre órgãos de soberania. No dia seguinte, fazendo tábua rasa do que tinha dito, recusou-se, de forma grosseira e arrogante, a informar o Presidente deste novo pacote de austeridade e escondeu-o do Parlamento.
Este primeiro-ministro passa o tempo a encher o peito para falar do Estado social. É o Estado social para trás, para a frente, para a direita, para a esquerda. Depois, quando acaba a retórica e passa à realidade, corta nos salários e nas pensões e contribui para agravar o desemprego. Ou seja, mata o Estado social.
Aqui está o primeiro--ministro em todo o seu esplendor. Na retórica, um demagogo. Na atitude, um actor. No comportamento político, uma pessoa que tem um problema estrutural e compulsivo com a verdade. Confiar na palavra deste homem não é uma tarefa arriscada. É um acto falhado.
Apesar de tudo isto, foi a este homem que o país confiou o governo e a quem os portugueses deram, por duas vezes, o voto maioritário. Não admira, assim, que sejamos hoje, e por vários anos, um país à rasca. É que, apesar de o homem estar politicamente a finar, a tragédia do País, essa, ainda vai no adro
«CM»
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