Por: Joaquim Moedas Duarte |
Não tenho escrito nada neste espaço que o JA, na sua generosidade, me facultou. Hoje não resisto a meter a colher, amigavelmente, como sempre que falamos os dois.
Não te acompanho neste teu desabafo, meu amigo. Por uma razão simples: Sócrates é a direita no poder, com uma máscara de esquerda na cara, como os nossos miúdos no carnaval. É por isso que o Passos Coelho anda a encanar a perna à rã e não tem apetência nenhuma para ir para lá. Não saberia fazer melhor. E acirraria mais aquelas franjas de centro-esquerda que ainda vão acreditando que não há alternativas ao Sócrates.
Estás farto do homem, queres uma mudança. Mas mudar o quê? O estilo mais truculento do Sócrates pelo estilo mais penteadinho do Coelho?
Estamos num impasse político e não é a cavacal figura que o vai desfazer. Até porque ele está ao lado do Sócrates, embora tenha feito a discursata inconsequente da tomada de posse - aquilo foi para agradar à sua Maria e aos filhos... podes crer.
Uma saída poderá ser o que Marcelo Rebelo de Sousa tem andado a defender, até dentro do PSD: é uma espécie de governo de salvação nacional, com outra gente do PS, do PSD e até do CDS. Seria a única solução que o directório europeu aceitaria, para além da manutenção do Sócrates. Mas Cavaco não tem estatura para lidar com um processo destes...
O grande drama da nossa política é a total inoperância da "esquerda à esquerda do PS", como bem disse o Daniel Oliveira que eu citei noutro lugar. Tanto o BE como o PCP esgotam a sua intervenção em tiradas moralistas sobre "outras políticas" mas são incapazes de apresentarem uma solução de governo que diga como seria possível pô-las em prática. Não se dão conta de que jogam ao absurdo: exigir aos políticos de direita que prossigam políticas de esquerda. E continuam teimosamente nesta lenga-lenga, que não arrasta ninguém para o seu campo e só convence os próprios fiéis. Têm uma linguagem e um comportamento sectários, sem perspectivas na vida democrática.
Como homem de esquerda, acho que o PCP e o BE deviam:
Jogar o jogo democrático, começando por eles próprios se aliarem, numa convergência leal, sem sectarismo, e procurando alianças com todos os sectores de esquerda não alinhada, ou com sensibilidades de esquerda dentro dos partidos do Centro (PS/PSD). Não hostilizando o Presidente da República, antes procurando com ele linhas de diálogo, aproveitando por exemplo, a deriva "esquerdóide" do discurso da tomada de posse. Delineando um "Programa de Governo" exequível, pondo-o em cima da mesa para discussão e negociação. Pelo menos haveria uma alternativa credível, um espaço produtivo de discussão.
Mas não tenho ilusões. Aquela gente, sobretudo o PCP, vive a política como uma religião. Têm fé, mais nada. São incapazes de lidar com a realidade complexa da vida social, que vêem a preto e branco, num mundo em que só há bons ( "os trabalhadores e o povo") e maus ( os outros, sobretudo os que não pensam como eles). Actuam com base numa crença: se acirrarem os descontentes, se explorarem o desespero dos que têm fome, eles acabarão por se levantar numa insurreição popular e entregarão, finalmente, o poder ao grande Partido dos trabalhadores e do povo. Seria a albanização de Portugal, a saída do Euro, a miséria mais negra. Mas eles são cegos para a realidade.
Quanto à hostes do BE, são uma espécie de PCP mais culto e actualizado mas com as mesmas limitações políticas.
De modo que... mal por mal, antes a cadeia do que o hospital, como diziam na minha terra.
Até que surja D. Sebastião?...
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