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domingo, 24 de abril de 2011

Quando um aluno fica para trás, por não querer estudar ou porque não tem capacidades, o discurso oficial arranja-lhe um bode expiatório

Por: Ramiro Marques

A educação em Portugal tem vivido, nas duas últimas décadas, sob a influência perniciosa da utopia da igualdade.
Quando um aluno fica para trás, por não querer estudar ou porque não tem capacidades, o discurso oficial arranja-lhe um bode expiatório: ou é porque a família é pobre ou porque a escola não soube encontrar respostas adequadas ou porque os professores não souberam encontrar as estratégias apropriadas aos interesses e necessidades do aluno.
A responsabilidade pelo fracasso nunca é do aluno nem da família.
Vivemos há mais de duas décadas a ensinar as crianças, adolescentes e famílias de que a culpa pelo fracasso nunca é do fracassado. A vitimização é a grande bandeira e o remédio de eleição de uma esquerda igualitária que confunde há dois séculos a realidade com os desejos.
O resultado da hegemonia do discurso e da prática da vitimização está à vista de todos: os portugueses tornaram-se um povo de fracassados, pobres com a mania de ricos, queixinhas, mariquinhas e sempre prontos a atirar as culpas para cima dos outros.
Para inverter o rumo que nos transformou num povo de fracassados é preciso ruturas em todas as práticas políticas, económicas e educacionais das últimas duas décadas.
A primeira coisa a fazer é reconhecermos que fracassámos como país e como povo. A segunda é deixarmo-nos de lamentos e de atribuir culpas aos outros e começarmos a pagar as dívidas com mais trabalho e poupança e a exigirmos uma escola onde o esforço, o sacrifício, a responsabilidade, o respeito e o trabalho sejam os valores cultivados diariamente por todos.
Um escola centrada no respeito, responsabilidade, esforço e sacrifício é o contrário de tudo o que temos andado a fazer.
Desde logo, temos de acabar com toda a parafernália pseudopedagógica que existe nas escolas com o único propósito de desresponsabilizar os alunos e as famílias pelo fracasso dos alunos, imputando aos professores culpas que não lhes cabem.
Em segundo lugar, é preciso educar as crianças e os adolescentes num ambiente de exigência e de rigor. Não há nada melhor do que os exames para criar esse ambiente e mostrar aos alunos que o esforço compensa mas que as capacidades e os talentos não estão distribuídos de forma igual por todos. Há alunos mais capazes, mais inteligentes e mais esforçados do que outros. E há alunos com menos capacidades intelectuais e menos gosto pelo trabalho. Os primeiros são melhores do que os segundos. Aos primeiros devem estar reservadas as vias de ensino que conduzem às melhores universidades do país. Aos segundos devem estar reservadas as vias de ensino que conduzem à aprendizagem de um ofício e à continuação de estudos de carácter técnico e prático.
Essa distinção tem de ser feita à saída da escola básica de seis anos. E nada melhor do que os exames nacionais à saída do 6º ano de escolaridade para fazer essa distinção.
A Suiça faz isso é um dos países mais ricos do Mundo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Senhor Ramiro Marques, concordo em quase tudo o que diz.
Na verdade, é uma triste realidade que temos vindo a constatar desde há muitos anos a esta parte. A "revolução" no ensino parece não ter tido os resultados que muitos esperavam. No entanto, concordará que há professores (como há aliás noutras profissões) muito mal preparados para ensinar. Talvez até por também eles serem produto deste sistema de ensino de tão fracos resultados.
Estou em crer que, hoje um estudante do 12º ano, tem menos bagagem cultural(com excepção em informática que nesse tempo era uma utopia) que um aluno do antigo 5º ano de Liceu.
Note-se que os pais desse tempo teriam na sua esmagadora maioria uma simples instrução primária e outros até nunca frequentaram a escola.
Para terminar, também não me recordo de alguma vez ter ouvido falar de que o falhanço (quando havia) do aluno se devia à pobreza ou ao professor. O aluno era sempre o principal responsável pelo seu insucesso.
Já para o lado do sucesso haveria muita gente envolvida pelo caminho...
Enfim, outros tempos.

(Um aluno dos velhos tempos)