O pretendente ao trono de Portugal, Duarte Pio, considera que o Presidente da República tem tido um “papel positivo” na crise, apesar da inevitável suspeita de falta de isenção, e condena o pouco investimento numa “economia produtiva”.
Em entrevista à Lusa, Duarte Pio afirmou que a atual crise vem dar-lhe razão quando criticou a entrada do país no euro e pede “respeito” pelo dinheiro dos impostos dos cidadãos dos países europeus que vai ser usado na assistência financeira a Portugal.
No contexto da crise política, económica e financeira, considera que Cavaco Silva, por quem tem “muita admiração pessoal”, tem tido “um papel positivo e útil”.
“Estou convencido de que a situação de crise que vivemos leva-nos a considerar que apesar de termos tido bons presidentes, como o general Ramalho Eanes, o Presidente Cavaco Silva, pessoas excelentes e com muito valor, apesar disso, tiveram dificuldade em fazer acreditar que são isentos”, afirmou.
“Tentam, fazem um trabalho nesse sentido, mas quem acreditaria no futebol num árbitro que pertencesse a um dos clubes em jogo, mesmo que o árbitro seja totalmente sério? Uma das razões que torna tão difícil o trabalho do Presidente da República é ser sempre suspeito de ser partidário do seu próprio clube político”, argumentou, numa referência a uma das mais-valias que considera existir na Monarquia.
Duarte Pio considera que se no país tivesse havido uma tomada de consciência “da situação” há três anos, a “atitude tinha sido outra”, embora identifique a raiz dos problemas mais atrás.
“Se quando entramos na União Europeia tivéssemos investido naquilo que é reprodutivo, como sejam o fomento da produção, a educação da população, formação técnica e profissional, hoje estaríamos numa economia produtiva e com uma balança comercial positiva”, argumentou.
“A economia produtiva foi assassinada, a agricultura foi em grande parte abandonada, a produção industrial diminuiu”, acrescentou.
“Recebemos imenso dinheiro para gastar, em coisas que podem ser muito engraçadas, como a Expo, ter autoestradas por todo o lado, ter centros culturais de Belém, monumentos, mas isso não produz riqueza”, defendeu.
Por outro lado, defende que Portugal não estava “em condições de entrar na moeda única”: “A nossa economia não era suficientemente competitiva para termos a moeda dos alemães. Agora já dizem que não devíamos ter entrado no euro. Estes acontecimentos dão-me totalmente razão. Se tivéssemos uma moeda própria poderíamos manipula-la”, disse.
O pretendente ao trono critica também “o hábito de comprar produtos estrangeiros” que se foi instalando na mentalidade portuguesa, a começar pela falta de exemplo do Estado, e diz que há que começar a “comprar sempre que possível um produto feito em Portugal” e “forçar hipermercados a favorecerem a produção portuguesa”.
“Os hospitais portugueses foram todos equipados com cerâmicas importadas. Não se vê um carro feito em Portugal ao serviço do Estado português, desde a Presidência às câmaras municipais”, ilustrou.
Para Duarte Nuno, num cenário de crise, sobressaem as qualidades das monarquias, em que, defendeu, o monarca desenvolve “uma ação pedagógica, quase um pouco familiar, paternal”, junto dos partidos e que “os leva a coordenarem as suas posições, a confiarem no rei e a resolver os problemas por acordo, evitando os confrontos e as hostilidades públicas”.
«Lusa»
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