O presidente do BPI, Fernando
Ulrich, veio afirmar que «há sectores da população com margem de
manobra» para a aplicação de mais medidas de austeridade. A primeira e
humana reacção quando se ouve uma frase destas é uma rajada de palavrões
e adjectivos, que se é verdade não resolverem coisa alguma têm pelo
menos o condão de baixar a tensão arterial.
Se formos capazes de uma reação mais ponderada, seremos no entanto capazes de compreender a posição expressa por este senhor.
Primeiro,
é importante perceber bem quem é o senhor – os salários e comissões
milionários que recebe vêm-lhe de servir os interesses dos accionistas
do BPI (La Caixa, Espanha, 30%; Itau, Brasil, 19%; Santoro, Angola, 10%;
Allianz, França, 9%), ou seja, come as migalhas dos milhares de milhões
que estes accionistas esperam arrecadar. Depois, importa ter noção de
que o capital social do BPI é constituído por 990 milhões de acções que
se transacionavam em bolsa a 0,347 euros no dia 24 de Maio, colocando a
capitalização bolsista do banco em 343,5 milhões de euros.
Ora o
exemplo mais recente da austeridade imposta ao BPI foi um plano de
recapitalização que, como o próprio banco anunciou a 4 de Junho «inclui a
subscrição pelo Estado, em 29 de Junho de 2012, de instrumentos de
dívida elegíveis para fundos próprios core tier one (obrigações de
conversão contingente), no montante de 1,5 mil milhões de euros». O nome
técnico deste tipo de obrigações é CoCos, o que me faz suspeitar da
existência de humor negro nos banqueiros – reparem, se o Estado
comprasse todas as acções do BPI pagava 350 milhões, mas opta por
comprar umas coisas que não lhe dão direitos nem poder por cinco vezes
esse valor, as «cócós»! E, como é natural, este anúncio já fez duplicar o
valor das acções «limpas» do banco.
É por isso, com toda a
ponderação, que reconheço que existe a possibilidade de Ulrich estar
simplesmente a desejar para os restantes portugueses a austeridade que
lhe tocou a ele – o que faria dele um santo e não o miserável canalha
que parece.Fonte:«Jornal Avante»
Enviado por um colaborador
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