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sábado, 30 de junho de 2012

Assim sim, austerizem-me por favor!

 O presidente do BPI, Fernando Ulrich, veio afirmar que «há sectores da população com margem de manobra» para a aplicação de mais medidas de austeridade. A primeira e humana reacção quando se ouve uma frase destas é uma rajada de palavrões e adjectivos, que se é verdade não resolverem coisa alguma têm pelo menos o condão de baixar a tensão arterial.
Se formos capazes de uma reação mais ponderada, seremos no entanto capazes de compreender a posição expressa por este senhor.
Primeiro, é importante perceber bem quem é o senhor – os salários e comissões milionários que recebe vêm-lhe de servir os interesses dos accionistas do BPI (La Caixa, Espanha, 30%; Itau, Brasil, 19%; Santoro, Angola, 10%; Allianz, França, 9%), ou seja, come as migalhas dos milhares de milhões que estes accionistas esperam arrecadar. Depois, importa ter noção de que o capital social do BPI é constituído por 990 milhões de acções que se transacionavam em bolsa a 0,347 euros no dia 24 de Maio, colocando a capitalização bolsista do banco em 343,5 milhões de euros.
Ora o exemplo mais recente da austeridade imposta ao BPI foi um plano de recapitalização que, como o próprio banco anunciou a 4 de Junho «inclui a subscrição pelo Estado, em 29 de Junho de 2012, de instrumentos de dívida elegíveis para fundos próprios core tier one (obrigações de conversão contingente), no montante de 1,5 mil milhões de euros». O nome técnico deste tipo de obrigações é CoCos, o que me faz suspeitar da existência de humor negro nos banqueiros – reparem, se o Estado comprasse todas as acções do BPI pagava 350 milhões, mas opta por comprar umas coisas que não lhe dão direitos nem poder por cinco vezes esse valor, as «cócós»! E, como é natural, este anúncio já fez duplicar o valor das acções «limpas» do banco.
É por isso, com toda a ponderação, que reconheço que existe a possibilidade de Ulrich estar simplesmente a desejar para os restantes portugueses a austeridade que lhe tocou a ele – o que faria dele um santo e não o miserável canalha que parece.
Fonte:«Jornal Avante»
Enviado por um colaborador

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