A UGT já encontrou o sucessor de João Proença, apesar da
passagem do testemunho só ocorre formalmente para o ano. Trata-se do
típico caso da pescada, que antes de ser já o era!
O escolhido
reúne bastos requisitos para o cargo: preside ao Sindicato dos Bancários
do Centro desde 2007; é líder da UGT/Coimbra; pertence ao Secretariado
Nacional da central; é membro da Comissão Nacional do PS; assume-se como
«um candidato de continuidade» e um «homem de consensos».
Dir-se-ia
que tais predicados bastariam, mas a coisa não se fica por aqui. Carlos
Silva, o escolhido, já mostrou ser melhor do que a encomenda. Apesar da
tendência social-democrata da UGT só analisar as propostas de
candidatura à liderança depois do congresso aprazado para Julho, Silva
já tem garantido o apoio não só de Proença como também do presidente da
UGT, o social-democrata João de Deus, ambos signatários da sua lista.
Entretanto, assegurou o voto de 33 organizações da UGT, o que representa
70 por cento dos votos, bem como o apoio da tendência democrata-cristã.
Dir-se-ia,
repete-se, que tudo isto bastaria para a sucessão, mas o facto é que
tudo isto não é tudo e sobretudo não é o essencial.
O essencial, o
que torna Carlos Silva o sucessor ideal de Proença, está para além de
cargos, funções e apoios, que não sendo despiciendos poderiam não valer
um cêntimo se as características intrínsecas do Silva não fossem aquilo
que são.
E quais são elas? Em entrevista ao Expresso, há cerca de
um mês, o bancário revelou as suas humanas fragilidades ao reconhecer
que o assusta a «exposição mediática» do cargo e a «dificuldade
gigantesca» que o mesmo representa, designadamente no respeitante ao
«reboliço» das negociações políticas e sindicais ao mais alto nível.
Nada no entanto que o demova da escolha feita, pois como afirma está
«habituado aos gabinetes aveludados da banca», já participou numa
reunião com o primeiro-ministro e a partir de Setembro vai integrar a
delegação da UGT na Concertação Social e demais reuniões políticas que
ocorram, onde, para além de seguir a pisadas de Proença, se propõe
mostrar que é um «basista», uma «pessoa reivindicativa», «como João
Proença mas mais musculado».
O retrato que Carlos Silva faz de si
próprio não ficaria no entanto completo sem a informação que prestou em
entrevista concedida, também há cerca de um mês, ao Diário As Beiras, e
que se transcreve:
«Como sabe, eu sou bancário, do BES, que é
quem paga o meu salário – o único que tenho e que faço questão de
manter. Por isso, antes de formalizar a candidatura, fiz questão de ter
uma reunião com o doutor Ricardo Salgado, a quem transmiti, de forma
transparente, a minha intenção. Naturalmente que ele, enquanto
presidente da comissão executiva do BES, desejou-me sorte e disse que
era também um factor de prestígio para o BES ter um dos seus
colaboradores como secretário-geral da UGT».
Ou seja, temos um
abençoado a caminho da liderança da UGT, capaz de «dar um murro na mesa
se for necessário» e de «abandonar a sala a meio de uma reunião»... e de
continuar a assinar tudo como Deus manda, perdão, como o patronato
gosta, nos aveludados gabinetes da banca. Está tudo dito.Fonte:«Jornal Avante»
Enviado por um colaborador
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