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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Os "cofres cheios" custam dinheiro em juros

Esta reserva foi usada para garantir a chamada "saída limpa" do programa de ajustamento há um ano, mas desde então não parou de crescer. Acumulou já mais 47%, contribuindo para agravar a dívida pública. Em abril, a dívida pública total já ia em 208,8 mil milhões de euros, quase mais 5 mil milhões face a igual mês de 2014.
Segundo dados  divulgados, Portugal nunca teve os cofres tão cheios, de facto. Há várias razões de peso que para assim seja.
O Governo resolveu pagar antecipadamente ao Fundo Monetário Internacional (FMI), mas para o fazer têm ido ao mercado contrair novos empréstimos (emissões de OT - Obrigações do Tesouro).
Existe aqui uma vantagem imediata: o empréstimo do FMI (que desembolsou 26,35 mil milhões de euros) é "dispendioso", cobrando uma taxa de juro média efetiva de 4,6%, segundo dados da Agência da Dívida Pública (IGCP).
Ora, Portugal já está a conseguir ir ao mercado pedir dinheiro a dez anos a taxas de 2% ou 2,5%, o que permitirá uma poupança substancial na enorme fatura dos juros que continua a pesar no défice.
Este ano, o Orçamento do Estado prevê quase 8,6 mil milhões de euros em juros e encargos, fruto da dívida pública monumental acumulada durante os anos que precederam a crise financeira e durante o próprio ajustamento.
"As taxas atuais muito baixas são um grande apoio à sustentabilidade da dívida, as necessidades de financiamento são razoavelmente baixas ou geríveis. O pagamento antecipado ao FMI, que foi um empréstimo comparativamente dispendioso, ajuda", repara Kathrin Muehlbronner, a analista da Moody"s que segue o país.
"As trocas de dívida que o Governo tem feito e que permitiram alargar as maturidades, a extensão da maturidade do FEEF... Todos estes fatores somados tornaram as maturidades muito mais geríveis", acrescentou em conversa com o Dinheiro Vivo.
Uma barreira protetora
Mas há outro motivo não menos importante. Ter uma almofada financeira grande permite à República mais autonomia e acomodar eventuais choques que venham a acontecer.
Um género de seguro para dias mais difíceis, sobretudo quando está tudo em aberto no caso da Grécia. Mesmo que o país não saia do euro, se ocorrer algum evento de crédito, Portugal está na linha da frente e receberá um embate violento.
É um dos países mais endividados do globo, o rating continua a ser "lixo", tem níveis de crescimento anémicos, demasiadas empresas insolventes, bancos pouco ou mesmo não lucrativos e dependentes de capital externo.
Em março, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, reforçou essa ideia do seguro. "Quando olhamos para a dívida pública, está lá tudo e está também o conforto de saber que, para além disso, temos cofres cheios para poder dizer tranquilamente que se alguma coisa acontecer à nossa volta que perturbe o funcionamento do mercado, nós podemos estar tranquilamente durante um período prolongado sem precisar de ir ao mercado, satisfazendo todos os nossos compromissos".
Os "cofres cheios" custam dinheiro em juros, claro está, mas quando o Governo decidir usar esse fundo de maneio para amortizar dívida, o rácio pode cair de forma mais pronunciada.
Este ano, o IGCP diz que o plano é usar 2,5 mil milhões de euros desses depósitos, pagar mais cedo outros 4 mil milhões de euros ao FMI, sendo que "as necessidades de financiamento de 2015 já estão totalmente cobertas". Ou seja, algum do dinheiro que está nos cofres já serve para financiar parte de 2016.
«NM»

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