.

.

.

.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cimeira da NATO

Por: Ilda Figueiredo *

Como é conhecido, realiza-se, a partir de 19 de Novembro, em Lisboa, a Cimeira da Nato. Lamentavelmente, o governo português aceitou que, mais uma vez, Portugal fique associado a acontecimentos graves da nossa actualidade. Foi assim com a Cimeira nos Açores, poucos dias antes da guerra do Iraque, com a participação de Durão Barroso, então primeiro-ministro, e, agora, Presidente da Comissão Europeia. Foi assim com o Tratado de Lisboa. Volta a ser agora com a Cimeira da Nato.

O Tratado de Lisboa aprofundou a via capitalista e o militarismo como caminhos da União Europeia. Ora, como a História o demonstra, o capitalismo e a guerra são indissociáveis. É impossível discutir a NATO sem ter uma perspectiva histórica e ideológica de como o militarismo e a guerra são parte integrante da exploração e opressão capitalistas. Visam prolongar e alargar o domínio económico, político e geo-estratégico do capital e das principais potências capitalistas mundiais, reprimir a luta dos povos, face às profundas e cada vez mais evidentes contradições insanáveis do capitalismo, e conter processos de construção de alternativas de fundo ao capitalismo. Aconteceu assim no passado, como as duas guerras mundiais do século XX e nos Balcãs demonstram, acontece no presente, de que são exemplo as guerras no Iraque e Afeganistão, e pode acontecer no futuro. A História da NATO também é exemplo disso.

Ou seja, sendo, por si próprias, expressões do poder do capitalismo e afirmações de força, o militarismo, a guerra e os blocos político militares, como a NATO, são também expressões das suas fraquezas enquanto sistema, por que o recurso à repressão e à guerra demonstram que só conseguem os seus objectivos de forma violenta.

E se é certo que vivemos um tempo marcado por grandes perigos, por uma poderosa ofensiva imperialista, estamos também num tempo em que o sistema capitalista tem as suas contradições à vista, e, portanto, há grandes potencialidades de desenvolvimento da luta dos trabalhadores e dos povos. É que a profunda crise económica nos EUA e na União Europeia coexiste com profundas mudanças nas relações internacionais, com destaque para a China, Índia e Brasil, as potências emergentes. Por isso, sendo uma situação propícia ao desenvolvimento de contradições intra-imperialistas, há também um quadro que permite desenvolver alternativas. Ou seja, concertação e rivalidade inter-imperialistas coexistem com novas apostas no desenvolvimento e na paz, com destaque para as profundas mudanças na América Latina, onde estive recentemente, e onde pude comprovar as grandes apostas no desenvolvimento económico, no progresso social e na paz, com destaque para Cuba, Equador, Venezuela, Argentina, Brasil, Bolívia, Nicarágua e El Salvador

É à luz deste quadro que devem ser analisados processos ou acontecimentos como a militarização da União Europeia, a imposição do Tratado de Lisboa e esta Cimeira da NATO, cujo conceito estratégico em discussão é claro relativamente à concepção da UE como pilar europeu da NATO, com destaque para a Alemanha.

Não pode ser esquecida a escalada militarista dos EUA como resposta, até face aos seus aliados, e que surge com mais evidência após o 11 de Setembro, com a guerra no Iraque e no Afeganistão. Mas não se pode ignorar que os EUA também já somaram importantes derrotas, e que a União Europeia aparece aliada, infelizmente, ao que de pior tivemos em todo o processo, incluindo no uso da tortura.

Agora, apesar da tentativa de branqueamento com a operação «Obama», é claro que nada de substancial mudou e que se vive uma nova ofensiva no plano militar: Afeganistão (NATO) e Paquistão, ocupação do Iraque mascarada de retirada, além do aumento dos focos de tensão, como na América Latina (golpe nas Honduras, bases militares na Colômbia, tentativas de golpes de estado na Bolívia e Equador, quarta esquadra americana na Costa Rica, além da manutenção do bloqueio a Cuba e da prisão de Guantanamo), o arrastar da situação no Médio Oriente, entre outras.

Quanto à Cimeira da NATO, os EUA pretendem arrancar novo compromisso aos “aliados” (UE) para uma maior escalada, de que se destaca o novo conceito estratégico, a instalação de mísseis na Europa, apoios para a guerra contra o Afeganistão e, até eventualmente, contra o Irão.

Mas o povo português sempre demonstrou que não quer mais guerras, que os ideais da revolução de Abril de 1974 perduram na defesa da paz. Por isso, no dia 20 de Novembro os senhores do capital económico e financeiro e do militarismo terão a resposta, com a manifestação contra a NATO, em Lisboa, que a Campanha Paz sim! Nato Não! Está a preparar e, logo a seguir, no dia 24, com a greve geral que a CGTP e outros sindicatos já convocaram.

Assim, além de denunciarmos esta subserviência aos EUA, NATO e União Europeia, insistimos no cumprimento da Constituição da República Portuguesa, na defesa da paz e do desarmamento, no desenvolvimento e progresso social, na cooperação com os povos de todo o mundo.

* Deputada do PCP no PE

NR: Com a publicação desta crónica, Ilda Figueiredo começa a colaborar periodicamente com "textos exclusivos" para com este jornal