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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Leme e a Tormenta

 Por: Capoulas Santos *

A história explicará um dia o que foi a crise económica e financeira que assolou o mundo e atingiu Portugal no início do século XXI.
E registará quem segurou o leme no meio da tempestade.
Duvido contudo que alguém se lembre dos que buscaram abrigo em terra, aguardando que a tormenta passasse, com a esperança de poder vir a segurá-lo, após certificação de que a nau estava em condições de navegar.
Não se trata de história trágico-marítima mas de uma imagem que ilustra bem a actual situação politica portuguesa.
Houve eleições em Portugal há pouco mais de um ano, depois da mais vergonhosa e sistemática campanha para abater um primeiro-ministro de que há memória. Contra tudo e contra todos, o PS, ainda que apenas com maioria relativa, ganhou folgadamente.
O primeiro gesto do vencedor foi lançar convite aos demais partidos para avaliar a possibilidade de se abrir uma negociação visando criar condições de governabilidade e de estabilidade politica absolutamente necessárias face à situação politica internacional e às suas consequências internas. É aliás o que sucede em toda a Europa como foi recentemente demonstrado no Reino Unido, onde até existe um sistema eleitoral que facilita a obtenção de maiorias, e onde, há muitos anos, não se verificava um situação de maioria relativa no parlamento. Em poucos dias, liberais e conservadores puseram-se de acordo, abdicando ambos de aspectos importantes dos respectivos programas eleitorais, para dar estabilidade ao país em momento de crise.
Entre nós, a resposta foi o que sabe. Todas, sem excepção, desde a oposição retórica até à que pretende ser responsável e alternante, disseram simplesmente não e tudo têm feito desde então para dificultar a acção governativa.
O mais recente e ridículo episódio foi a novela do orçamento de Estado. Sem coragem para uma recusa categórica e para assumir a responsabilidade da abertura de uma crise politica que seria a sua consequência lógica, o principal partido da oposição ficou-se pelo suspense e pelo descarte de responsabilidades.
Surpreendeu-me a cedência à chantagem e até a quase humilhação a que o Ministro das Finanças, desnecessariamente, se sujeitou.
Ultrapassada a falsa “crise do orçamento”, voltou a carga de cavalaria. Enquanto “comentaristas” escolhidos a dedo de entre as fileiras da oposição ou de ressabiados da situação, de que o ex-ministro das Finanças Campos e Cunha é o maior expoente, “colunistas” e outros que tais, continuam, até ao enjoo, a sua cruzada em tudo o que é jornal, estação de rádio ou canal de televisão.
E uma nova solução para os problemas do país, em diferentes variações, parece ter sido agora encontrada por alguns notáveis da nossa praça como Paulo Portas, Pacheco Pereira ou António Capucho: uma coligação do PS com um ou mais partidos da direita mas com outro primeiro-ministro. Um, obviamente ao seu gosto, e por eles escolhido. Isto é, pondo a mexer, precisamente, a única pessoa que cometeu o pequeno pecado de ganhar as eleições.
Enquanto isso, as exportações cresceram mais do que o previsto, o crescimento do PIB excedeu as previsões do Governo e da OCDE e o país continua a resistir às investidas dos mercados financeiros. E vários líderes mundiais reconheceram em Lisboa, aquando da Cimeira da NATO, a justeza e a coragem das medidas de contenção que estão a ser executadas.
Quando a tempestade amainar, os portugueses saberão bem quem esteve firme no leme. E também espero que não esqueçam as patrióticas gaivotas que preferiram ficar seguras em terra.

* Eurodeputado do PS e colaborador periodico deste jornal