Após o afastamento do poder do general Spínola e dos elementos que o apoiaram, o grande debate entre os militares e os políticos era o da definição do modelo de sociedade para Portugal. Enquanto uns defendiam, o modelo democrático-socializante, de base parlamentar, outros propugnavam pela revolução socialista de base popular, sob égide militar. Entre o 28 de Setembro e o 11 de Março de 75 de 75, o PCP e os militares mais radicais, defensores duma via colectivista, reforçaram as suas posições no controlo dos pontos-chave do aparelho do Estado, o que provocou a reacção do grupo spinolista, que, vítima duma manobra de contra-informação, optou pela força e pela tentativa de golpe.
No início de Março de 1975, circulou pelo país o boato de que o PCP e os militares do COPCON iriam proceder à liquidação de dezenas de oficiais e civis de direita, nomes que constavam duma lista: a chamada «matança da Páscoa». A pretexto destas informações, militares afectos ao general Spínola, no dia 11 de Março de 1975, levaram a efeito uma tentativa de derrube do poder instituído. No entanto, o movimento desencadeado por tropas paraquedistas ficou-se pelo ataque ao RAL1, donde resultou uma vitima mortal e doze feridos, dos quais dois eram civis. Após civilizadas conversações entre atacantes e atacados, a situação foi superada.
No seguimento dos acontecimentos do 11 de Março, Spínola e os oficiais implicados no golpe foram demitidos e fugiram para Espanha, deixando o caminho aberto aos sectores mais radicais do MFA. A Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado foram substituídos pelo Conselho da Revolução, que se manteve como órgão de soberania até 1982. Foram então decretadas as nacionalizações da banca e dos seguros. O IV Governo Provisório, entretanto constituído, continuou os saneamentos, as nacionalizações e legislou no sentido da expropriação dos latifúndios e concretização da reforma agrária.
O 11 de Março saldou-se pela viragem extremista, à esquerda, com a aplicação de medidas que tenderam para o socialismo colectivista.
«Expresso»
«Expresso»
O 11 de Março (Memória descritiva)
O que se passou, há 35 anos, em
11 de Março de 1975? Algo que se esperava desde a Revolução – uma reacção
revanchista da direita. Que essa reacção estava iminente era evidente para quem
lesse o que se escrevia, ouvisse o que se dizia. A instabilidade social, a luta
entre partidos, a deriva para a esquerda, com o primeiro-ministro Vasco
Gonçalves em rota de colisão com Otelo Saraiva de Carvalho, comandante do
COPCON, reflectindo as inconciliáveis posições das duas principais vertentes da
esquerda militar.
A Revolução assumia contornos
marxistas, alarmando os conservadores. A estes meios terá chegado a informação
(oriunda dos serviços secretos espanhóis) de que estava planeada uma operação
de grupos de extrema-esquerda, a “Matança da Páscoa”, na qual seriam mortos
cerca de 1500 civis e militares entre os quais o general Spínola. Miguel
Champalimaud e o tenente Nuno Barbieri, que colheram a informação, o coronel
Durval de Almeida, José Maria Vilar Gomes, João Alarcão Carvalho Branco, José
Carlos Champalimaud, reuniram-se para a discutir. Convencido da sua veracidade
(provável manobra de intoxicação da secreta espanhola), Spínola decidiu avançar
com um golpe. Alguns oficiais secundaram-no e a conspiração passou das reuniões
para o terreno. As coisas foram mais ou menos como se segue.
Na madrugada de 11 de Março,
começaram a afluir à Base Aérea nº3 (Tancos) viaturas com elementos ligados ao
movimento, incluindo António de Spínola. Reuniram-se em casa do major Martins
Rodrigues.
8:00 – O coronel Moura dos
Santos, comandante da Base, perante oficiais e sargentos, fez um briefing
explicando os objectivos políticos, alvos a atingir e meios a utilizar. Os
majores Mira Godinho e Neto Portugal e o capitão Brogueira reuniram com os
comandantes e pilotos, distribuindo as missões que a cada uma cabia.
8.30 – Os oficiais, sargentos e
praças da Base Aérea nº 3 foram informados de que a instrução normal do
princípio da manhã fora cancelada. Perto, no regimento de Caçadores
pára-quedistas, o coronel Rafael Durão reuniu os oficiais para lhes explicar a
operação, dizendo ter recebido ordens do CEMFA (Chefe de Estado Maior da Força
Aérea), o que não era verdade
.
9:00 – Em Tancos, entrou em cena
o general Spínola que, no seu estilo grandiloquente, falou em nome da «pureza
do processo de 25 de Abril», dizendo que para evitar «a prostituição das Forças
Armadas», era preciso dizer “basta!” à escalada comunista. Enquanto o general
perorava, na pista, aviões T-6, helicópteros e helicanhões eram abastecidos e
municiados.
9:40 – Na Base Aérea nº 6
(Montijo) , o coronel Moura de Carvalho, comandante da base, colocou em estado
de alerta todos os meios aéreos.
10.30 – O major Casanova
Ferreira, comandante distrital da PSP de Lisboa, deu conhecimento do golpe a
alguns oficiais daquela corporação.
10:45 – De Tancos, descolaram os
seguintes aviões: dois T-6 armados com metralhadoras e ninhos de foguetes
anti-pessoal, pilotados pelo major Neto Portugal e segundo-sargento Moreira,
tendo como alvos, além do R. A. L. 1, as antenas da R. T. P. e Forte do Alto do
Duque; dez 10 Allouette III, transportando um grupo de 40 pára-quedistas. Dois
dos helicópteros estavam armados com canhão, tendo como missão o bombardeamento
do R.A.L.1. Eram pilotados pelos major Zuquete e major Mira Godinho, aos
canhões estavam os alferes Oliveira e primeiro-cabo Carapeta. Na operação
inseria-se o lançamento sobre Lisboa de panfletos, missão que foi executada por
dois dos heli-transportadores, pilotados pelos capitão Oliveira e tenente
Jacinto. Os restantes heli-transportadores eram pilotados pelos alferes
Chinita, alferes Afonso, alferes Mendonça, segundo-sargento Ladeira,
segundo-sargento Souto e furriel Emaúz; três Noratlas com 120 pára-quedistas
destinados a cercar o R.A.L.1.- dois T-6 desarmados, com missão de intimidação.
Eram pilotados pelo capitão Faria e alferes Melo, ambos da B.A.7 e em
diligência na B.A.3.
11:00 – O comandante da B.A.5
(Monte Real) o coronel Naia Velhinho, recebida uma indicação vinda de Lisboa
por via normal, colocou a base em estado de prevenção rigorosa.
11:15 – A B.A.6 (Montijo) entrou
também em prevenção rigorosa.
11:30 — Todas as Unidades da
Força Aérea passaram a prevenção rigorosa. A esta hora chegaram à B.A.5, num
Aviocar vindo de Tancos, o coronel Orlando Amaral e o tenente-coronel
Quintanilha. Recebidos pelo comandante da Base, e na presença dos majores
Simões e Ayala, enunciaram os tópicos da operação. Invocando o general Spínola,
pediram a Velhinho que enviasse aviões F-86F para fazer passagens baixas de
intimidação sobre o RAL1, a Avenida da Liberdade e o quartel-general do COPCON.
Desconfiado, o comandante telefonou CEMFA, não obtendo resposta conclusiva.
Entretanto o major Simões fez um briefing com os pilotos da esquadra dos F-86F,
repetindo o que escutara no gabinete do comandante da base. Alguns oficiais
manifestaram-se imediata e abertamente contra, recusando-se a aderir àquilo
que, desde logo, configurava um golpe de direita.
11:45 — Chegaram à B.A.3, de
helicóptero, o brigadeiro Lemos Ferreira e o tenente-coronel Sacramento
Marques, delegados do C.E.M.F.A. e C.E.M.E., procurando esclarecer a situação.
11:45,/11:50 – O RAL.1 começou a
ser atacado pelos T6 da Base Aérea nº 3, sendo atingidas as casernas dos
soldados e os principais edifícios do aquartelamento. Morreu o soldado Joaquim
Carvalho Luís e houve 15 feridos e muitos estragos nas instalações da unidade.
Neste, ataque foram consumidas 220 munições de metralhadoras calibre 7,7mm e 99
foguetes Sneb 37mm anti-pessoal dos T-6 e 318 munições de MG-151 de 20mm dos
helicanhões.
11:50 – Na base do Montijo
aterraram dois helicópteros Alouette III, estando um armado. O héli desarmado
aterrou numa das ruas de acesso à placa, tendo deixado um pára-quedista ferido
e cujo piloto, o alferes Chinita, também ferido, viria a ser recuperado pelo
heli-canhão uns metros mais à frente.
12:00 – Tropas pára-quedistas, do
Regimento de Pára-quedistas de Tancos, sob o comando do major Mensurado
cercaram o RAL 1. À mesma hora o COPCON iniciara a movimentação para
neutralizar o golpe, ocupando o Aeroporto e encerrando-o ao tráfego civil No
Quartel do Carmo, oficiais da G.N.R. no activo e outros afastados do serviço,
comandados pelo major Freire Damião, prenderam o comandante-geral e outros
oficiais fiéis ao MFA.
12:05 – As forças do RAL 1,
comandadas pelo capitão Diniz de Almeida, tomaram posições de combate e
estabeleceram um perímetro de segurança, ocupando prédios em frente do quartel.
12:20 – Da Base de Tancos
descolaram três helicópteros Allouette, com 12 elementos para sabotar as
antenas do Rádio Clube Português, em Porto Alto. Um deles estava armado com
canhão, sendo pilotado pelo segundo-sargento Leitão, tendo ao canhão o
segundo-sargento Bernardo de Sousa Holstein. Os outros dois eram pilotados pelo
alferes Laurent e segundo-sargento Serra. A esta hora, da Base do Montijo
descolaram cinco helicópteros com destino a Tancos tendo um deles levado o
pára-quedista ferido ao Hospital da Força Aérea no Lumiar e juntando-se aos
outros na Chamusca.
12.45 – No exterior do RAL 1
ocorreu o diálogo entre o capitão Diniz de Almeida e o capitão pára-quedista
Sebastião Martins gravado pelas câmaras da RTP: “Diniz de Almeida: – porque é
que o camarada não vem comigo ao COPCON? Reconhece ou não a autoridade do
COPCON? o General Carlos Fabião, o Chefe do Estado Maior do Exército? Os nossos
chefes deram-nos ordens contrárias…A si de atacar…a mim de me defender…Porque
não deixamos que eles discutam o assunto? Sebastião Martins: – As Forças
Armadas não estão consigo. Diniz de Almeida: – Se assim for, não terei a mínima
dúvida em me render à maioria. Mas, que eu saiba, o Exército está connosco, a
Marinha está connosco, só vocês é que não. Sebastião Martins: – Vamos ver.
Vamos então esperar que os nossos chefes decidam.” Os dois comandantes, Coronel
Mourisca do RAL 1 e Major Mensurado dos pára-quedistas deslocam-se ao Estado
Maior da Força Aérea para esclarecer a situação e tentar um acordo, o que só
foi obtido pelas 14.30 horas.
http://www.livevideo.com/flvplayer/embed/7AF419241FD842B4B28FD5F153472DC1
12.45 – Lançados apelos à mobilização
popular pela Intersindical. Levantaram-se barricadas nas estradas de Vila
Franca e Setúbal. Organizaram-se piquetes de trabalhadores em locais
estratégicos: Bancos, Emissora Nacional, etc. A população, em diversos pontos
do país, acorreu aos quartéis, pedindo armas e colocando-se à disposição dos
militares.
12:50 – Começaram as reacções
oficiais ao golpe. A 5.a Divisão emitiu um comunicado a todas as Unidades do
Exército, Armada, Força Aérea, G.N.R., P.S.P. e G.F.: “O COPCON, a Comissão
Coordenadora do M.F.A. e a 5.a Divisão do E.M.G.F.A. alertam todas as unidades
para se colocarem em estado de mobilização para destruir forças rebeldes
contra-revolucionárias que neste momento atacam unidades do M.F.A..” Este rádio
foi seguido de outro semelhante enviado para comandos militares das Ilhas
Adjacentes e de África. Vendo o golpe fracassar, Spínola tentou aliciar, pelo
telefone, o major Jaime Neves, comandante do Batalhão de Comandos nº 11. Este
respondeu que só obedeceria à hierarquia a que estava sujeito. O general ligou
depois para o tenente-coronel Almeida Bruno que se recusou a atender.
Desesperado, ligou ao tenente-coronel Ricardo Durão tentando obter deste e do
capitão Salgueiro Maia, a adesão da Escola Prática de Cavalaria. Durão e Maia
não atenderam.
13:00 – O RCP deixou de
transmitir em onda média, de Lisboa, continuando a emitir em frequência
modulada e onda média do Porto. Um grupo de civis armados, comandados por dois
militares atacou o emissor, transportados em dois helicópteros, seguindo num o major
Silva Marques, António Simões de Almeida, João Alarcão Carvalho Branco e José
Carlos Champalimaud e no outro o 1°tenente Nuno Barbieri, José Maria Vilar
Gomes, Eurico José Vilar Gomes, António Ribeiro da Cunha e Miguel Champalimaud.
Deste ataque resultou a paralisação da emissão e a destruição de material. De
Tancos descolaram T-6, pilotados pelos segundo-sargento Gomes da Silva e
furriel Falcão. Armados com metralhadoras e ninhos de foguetes anti-pessoal
tinham por missão o ataque ao R.A.L.1. À mesma hora descolou um Allouette,
armado com um canhão, pilotado pelo alferes Jofre, com o alferes Figueiredo ao
canhão tendo por missão o ataque ao R.A.L.1. e outros possíveis objectivos.
13:10 – A Emissora Nacional
interrompeu a programação normal, passando a transmitir do Centro de
Esclarecimento de Informação Pública da 5.a Divisão, emitindo comunicados
aconselhando a população de Lisboa a manter-se calma e vigilante em união com o
M.F.A.
13:20 – O major Rosa Garoupa
ligou ao major Casanova Ferreira comandante da P.S.P. de Lisboa, pedindo-lhe a
ocupação da Rádio Renascença (em greve) e que pusesse “no ar” os comunicados
dos golpistas. O que não foi feito.
13:22 – De Monte Real descolou a
primeira parelha de F-86F, comandada pelo major Ayala, a qual cumpriu a missão
que fora pedida ao coronel Velhinho, sendo os aviões alvejados no COPCON.
13:30 – Foi transmitido pelos
estúdios de Lisboa da E.N. o primeiro comunicado da 5.a Divisão lido pelo
capitão Duran Clemente. Protegida por forças do COPCON, a Rádio da Madeira
começou a transmitir. De Tancos descolou um helicóptero Allouette III para
transportar o brigadeiro Morais, de Tomar para a E.P.C. trazendo no regresso,
além deste, o tenente-coronel Ricardo Durão e o capitão Salgueiro Maia.
Aterraram cinco helicópteros Allouette IIl, vindos da B.A.6. Uma força da
G.N.R. constituída por moto-blindados surgiu junto do G.D.A.C.I., tentando
desactivar a antena da R.T.P. em Monsanto. Interceptada e intimada a retirar
por forças do COPCON, obedeceu imediatamente.
13:50 – De Tancos descolou um
helicóptero Allouette III, pilotado pelo tenente-coronel Quintanilha,
acompanhado pelo major Cóias. Foram à B.A.5, seguidos por dois Aviocar com
pára-quedistas. Tentou forçar a neutralidade da base, ameaçando que os
pára-quedistas a ocupariam. Em seguida, quando alguns sargentos, alertados por
Lisboa, tentaram prender Quintanilha, este evadiu-se no helicóptero seguido
pelos Aviocar que se tinham mantido sobrevoando a base de Monte Real. As três
aeronaves regressaram a Tancos.
14:00 – Em Monte Real, descolou a
segunda parelha de F-86F, comandada pelo capitão Calhau, o qual acabaria por
sobrevoar os mesmos pontos de Lisboa da primeira e a estrada Santarém-Lisboa. A
ambas as parelhas foi dada ordem de não abrir fogo. A Rádio Renascença interrompeu
a greve iniciada 22 dias antes, passando a transmitir em simultâneo com o RCP.
A Rádio Ribatejo, a Rádio Alto Douro e a Rádio Altitude, transmitem ao mesmo
tempo.
14:30 – De Tancos descolaram para
Lisboa dois T-6, armados com metralhadoras e ninhos de foguetes anti-pessoal,
pilotados pelo segundo-sargento Jordão e segundo-sargento Carvalho, tendo a
missão de ataque a objectivos não apurados. A mesma hora, descolaram dois
aviões Noratlas, transportando uma companhia de pára-quedistas (75 homens) para
Lisboa, para reforço da companhia anterior. Ainda à mesma hora, descolaram dois
aviões Aviocar, transportando 25 pára-quedistas para a B.A.5.
Às 14:40 , as forças pára-quedistas
levantaram o cerco ao RAL 1. Militares e civis confraternizaram. Ricardo Durão
deslocou-se com Salgueiro Maia a Tancos para dialogar com Spínola. O general
admitiu o malogro do golpe.
Às 14:45 a E.N. emitiu o primeiro
comunicado do Gabinete do Primeiro-Ministro: “Esclarece-se a população terem-se
verificado hoje, de manhã, incidentes envolvendo forças militares reaccionárias
em tentativa desesperada de travar o processo revolucionário Iniciado a 25 de
Abril. Tais incidentes consistiram numa tentativa de ocupação do R.A.L.1,
envolvendo meios aéreos e terrestres. A situação encontra-se sob controle, pelo
que se apela para que a população se mantenha calma, sem abrandar contudo a sua
vigilância. A aliança entre o Povo e as Forças Armadas demonstrará, agora como
sempre, que a revolução é irreversível”.
15:00: Em Tancos descolou um
Allouette III, armado com canhão, tendo como missão o ataque às antenas da
Emissora Nacional. Era pilotado pelo segundo-sargento Souto e Silva e levava ao
canhão o capitão Jordão. À mesma hora, descolaram dois T-6, desarmados,
pilotados pelo alferes Melo e alferes Correia, com a missão de intimidação.
O Diário de Lisboa foi o primeiro
jornal a sair com a cobertura dos acontecimentos. Faria três edições. Em
Tancos, soldados e sargentos da B.A.3 amotinaram-se contra os conspiradores,
atacando as viaturas civis utilizadas pelos golpistas e encontrando armamento.
O general Tavares Monteiro foi depois preso naquela unidade por soldados,
sargentos e oficiais milicianos.
15:10: a Radiotelevisão
Portuguesa noticiou a síntese dos acontecimentos.
15:15 – Os pára-quedistas que
atacaram o R.A.L.1 depuseram as armas, juntando-se aos militares da unidade.
15:30 — Em Tancos, descolaram
dois aviões T-6, armados com metralhadoras e ninhos de foguetes anti-pessoal,
pilotados pelo segundo-sargento Brandão e pelo furriel Bragança, para ataque a
alvos não identificados..
À mesma hora, descolaram dois
Allouette III, um transportando para o Regimento de Pára-quedistas o general
Spínola e alguns elementos e outro armado com canhão para protecção daquele
oficial durante a sua permanência naquela unidade. Eram pilotados pelo major
Zuquete e major Godinho.
17:15 – Vasco Gonçalves, dirigiu,
pela TV e Rádio, uma alocução aos portugueses, denunciando a acção como “um
golpe contra-revolucionário”
15.25 – Entrevista com Otelo
Saraiva de Carvalho na televisão: A situação está perfeitamente calma. Os
responsáveis do sucedido serão exemplarmente castigados. As Forças Armadas,
estão totalmente serenas e com o MFA.
16:00: – Mensagem do Presidente
da República: “que desta lamentável aventura saia mais uma vez reforçada a
unidade Povo-MFA e que a população portuguesa dê mais uma vez ao mundo um
exemplo da sua maturidade cívica”.
16:20 – De Tancos descolaram
quatro Allouette III, um equipado com canhão, protegendo os restantes e nos
quais alguns militares efectuaram a evasão.
17:00 – Renderam-se, libertando
os oficiais detidos, os revoltosos do Carmo. O general Freire Damião, o
tenente-coronel Xavier de Brito, o major Rosa Garoupa e o tenente Gomes,
pediram asilo político na Embaixada da RFA.
17:15 – Discurso de improviso do
Primeiro-Ministro: “Uma minoria de criminosos lançou homens das Forças Armadas
contra as Forças Armadas, o que é o maior crime que hoje se pode perpetrar em
Portugal”.
17:30 – Novo comunicado da 5ª
Divisão em que se fazia “o ponto da situação militar no país regressado à
normalidade”. O general Pinto Ferreira foi à janela do Carmo, já livre, e
reafirmou a confiança nos seus homens que, segundo ele, foram enganados».
17:45 – Mensagem do Ministro da
Comunicação Social, Correia Jesuíno, à imprensa.
19:00 – (Badajoz) Spínola,
acompanhado de sua mulher e de 15 oficiais, chegou à Base Aérea de Talavera la
Real (Badajoz), sede da “Ala 23”, unidade de instrução de caça e ataque da
força aérea espanhola, demonstrando algo que se sabia – o regime de Franco
estava disposto a apoiar uma revolta que extinguisse as chamas da revolução
portuguesa.
19:30 – Em conferência de
imprensa Otelo Saraiva de Carvalho afirmou que os acontecimentos corresponderam
a “mais um assalto das forças contra-revolucionárias à jovem democracia
portuguesa”.
20:00 – Milhares de pessoas
agitando bandeiras e gritando “unidade” e “soldado amigo o povo está contigo”
desfilaram em Lisboa, do Campo Pequeno ao Rossio. Idênticas manifestações
decorreram por todo o país.
21:00 – Mensagem do Presidente da
República, incluindo uma lista dos implicados no golpe -António de Spínola,
Alpoim Calvão, António Ramos, Neto Portugal, Rosa Garoupa, Rafael Durão, Freire
Damião, Tavares Monteiro e Xavier de Brito e outros.
23:50 – Realizou-se uma reunião
Extraordinária do MFA, durante toda a noite. Pela primeira vez participaram
sargentos e praças dos três ramos das Forças Armadas. Foi decidida a
institucionalização do MFA, a constituição do Conselho da Revolução (CR) e
realização de eleições. No comunicado final afirmava-se: “a
assembleia reconheceu o valor e o espírito de sacrifício com que o RAL 1
suportou e reagiu ao intempestivo ataque de que foi vítima e manifestou a todo
Povo Trabalhador Português, que dos seus locais de trabalho acorreu a tomar o
seu lugar ao lado do Movimento das Forças Armadas, o seu reconhecimento de que
na Revolução Portuguesa o Povo e o Movimento das Forças Armadas caminham unidos
e firmes para o desenvolvimento e progresso social do país”.
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