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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CINISMO E POUCA VERGONHA

Por: António Filipe *

O candidato Cavaco Silva está preocupado no facebook com o desprestígio da “classe política” e acha que os portugueses já não têm paciência para alguns discursos.

Acontece que quem o diz foi Primeiro-ministro e líder partidário durante dez anos, dando uma contribuição mais que relevante para que o país chegasse ao estado a que chegou. Afastado da vida política involuntariamente, pela derrota que os portugueses lhe infligiram em 1995, regressou, para assumir a Presidência da República, o que faz há quase cinco anos, e pretende continuar. Se Cavaco Silva não pertence àquilo a que chama a “classe política”, não sei a que classe pertencerá. Talvez pertença ao clube das reformas douradas…

Acontece ainda que os discursos que ontem ouvimos e que mais desprestigiam os políticos aos olhos dos cidadãos, foram feitos em defesa de uma Proposta de Orçamento do Estado de que Cavaco Silva se assumiu como padrinho. Tenho para mim que, mais do que os discursos, o que impacienta os portugueses são os cortes nos salários, os aumentos dos impostos e do custo de vida, a perda de direitos, o empobrecimento de muitos para o enriquecimento de alguns. Sobre isso, não há uma palavra de Cavaco Silva.

Tal como o BPN foi o Banco do cavaquismo no Governo, este Orçamento do Estado é o Orçamento de Cavaco na Presidência. Quando o candidato Cavaco Silva pretende lançar sobre outros políticos o odioso de responsabilidades que são suas, isso não revela mais do que cinismo e pouca vergonha.

(*) Deputado do PCP na Assembleia da República e colaborador deste jornal