A
ida da Ministra do Ambiente ao Parlamento foi a ilustração exacta e em
tempo oportuno do aviso da Troika de que "é preciso combater com maior
determinação os interesses instalados".
O puxão de
orelhas de quem nos empresta dinheiro de nada serviu, porque Assunção
Cristas arranjou mais uma justificação para não parar as obras de uma
barragem que vai custar aos portugueses cerca de 3 mil milhões euros e a
classificação da UNESCO em troca de coisa nenhuma, que é 0,67% a mais
de energia para o País. As centenas de milhões de indemnização que diz
ter de se pagar são tão verdade como "o imenso paredão" que não existia,
quando em Outubro lhe serviu de desculpa para a continuação da Barragem
do Tua. Anda-se nisto há um ano, com este caso e todos os outros que
envolvem PPP.
O relatório do Tribunal de Contas que estava feito
ainda antes das Eleições Legislativas só saiu agora. São 120 PPP que
representam uma das principais causas do endividamento. Era sobre elas e
sobre os poderosos grupos de pressão que se esperava (desejava) uma
mudança de atitude do Estado e do Governo. Havia a expectativa de que o
discurso eleitoral tivesse seguimento na governação e que a sociedade
portuguesa deixasse de ter zonas de favor, leis de favor ou omissões de
favor. Mas, ao fim de um ano, temos mais do mesmo a recair sobre quem
não anda pelas Irmandades, não pode oferecer benesses ou empregos a
políticos sem cargo. Houve cortes nos salários como solução para a
competitividade, menos regalias sociais como remédio para as despesas e
aumentos de impostos.
Houve uma reforma laboral que deixa
completamente desprotegido o trabalhador, porque não foi acompanhada da
necessária rapidez dos processos laborais na justiça e uma Lei do
Arrendamento que continua a ter no senhorio um substituto da Segurança
Social. Fora isto, vão saindo umas leis avulsas que Passos Coelho
apregoou como "a maior mudança estrutural dos últimos 50 anos". Como não
parece ter sido um momento de alucinação, só pode ter mesmo a ver com
este povo elogiado como era nos anos 60 por ser "extremamente paciente".
E, acrescento eu, domesticado, crédulo, que deixa tudo. Como diz D.
Januário Torgal Ferreira: "Tenho vergonha deste País."
Artigo de opinião de Manuel Moura Guedes no CM

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