Nas décadas de 50 a 80, grande parte dos habitantes de Alpiarça são migrantes de primeira, segunda e, mais raramente, de terceira geração. Vieram quase sempre das zonas montanhosas a montante atraídos pelas promessas de mais facilidades de acesso ao trabalho e à terra oferecidas pelas férteis planícies aluviais. A maioria dos que aqui residem são descendentes de camponeses e, pelo menos durante uma parte da vida, camponeses. Assim, os conhecimentos específicos necessário à obtenção das diversas colheitas que compunham a policultura destas economias faziam parte da herança imaterial transmitida pela família e/ou pela comunidade de origem. Uma vez fixados na borda d´água, os migrantes vão com frequência traçar como objectivo a aquisição de alguma terra
ao mesmo tempo que estão atentos às oportunidades para trazer de renda as melhores parcelas.
Muitos dos proprietários e agricultores de Alpiarça começaram por adquirir ou arrendar parcelas na zona alta e menos fértil do concelho (a charneca), procurando ao longo da vida, com maior ou menor sucesso, as oportunidades para explorar o campo (a vasta planície aluvial do Tejo), a terra da sua ambição.
O Ribatejo é com frequência inserido nos campos do Sul, o que pode levar a generalizar a esta região características que são mais frequentes no Alentejo. Se as diferenças agro-ecológicas são facilmente detectáveis, já as de organização social podem estar mais dissimuladas. Refiro apenas uma característica, que tem implicações directas nos objectivos deste artigo. Ao contrário do que vários investigadores têm verificado em outras povoações do Ribatejo (Godinho, 2001) e do Alentejo (Cutileiro, 1976), em Alpiarça são raras as linhagens de famílias de assalariados rurais. Pode ser-se assalariado rural sazonalmente ou durante uma fase da vida, mas esta actividade combina-se com o acesso directo ou indirecto à terra. Grande parte dos habitantes, pode assim ter uma visão global do processo de produção. Conhecem e participam nas diversas fases que compõem os ciclos produtivos das culturas praticadas e estão atentos às vantagens e às desvantagens decorrentes da introdução de inovações tecnológicas disponíveis. Isto não impede que nas construções identitárias de alguns grupos, os elementos característicos do estatuto de trabalhador rural, jornaleiro, assalariado surjam sobrevalorizadas a ponto de ocultarem outros traços (Freire, 2004).
ao mesmo tempo que estão atentos às oportunidades para trazer de renda as melhores parcelas.
Muitos dos proprietários e agricultores de Alpiarça começaram por adquirir ou arrendar parcelas na zona alta e menos fértil do concelho (a charneca), procurando ao longo da vida, com maior ou menor sucesso, as oportunidades para explorar o campo (a vasta planície aluvial do Tejo), a terra da sua ambição.
O Ribatejo é com frequência inserido nos campos do Sul, o que pode levar a generalizar a esta região características que são mais frequentes no Alentejo. Se as diferenças agro-ecológicas são facilmente detectáveis, já as de organização social podem estar mais dissimuladas. Refiro apenas uma característica, que tem implicações directas nos objectivos deste artigo. Ao contrário do que vários investigadores têm verificado em outras povoações do Ribatejo (Godinho, 2001) e do Alentejo (Cutileiro, 1976), em Alpiarça são raras as linhagens de famílias de assalariados rurais. Pode ser-se assalariado rural sazonalmente ou durante uma fase da vida, mas esta actividade combina-se com o acesso directo ou indirecto à terra. Grande parte dos habitantes, pode assim ter uma visão global do processo de produção. Conhecem e participam nas diversas fases que compõem os ciclos produtivos das culturas praticadas e estão atentos às vantagens e às desvantagens decorrentes da introdução de inovações tecnológicas disponíveis. Isto não impede que nas construções identitárias de alguns grupos, os elementos característicos do estatuto de trabalhador rural, jornaleiro, assalariado surjam sobrevalorizadas a ponto de ocultarem outros traços (Freire, 2004).
«http://www.aibr.org/antropologia/01v03/articulos/010310.pdf»