O Conselho Editorial do norte-americano New York Times escreve hoje que a
"medicina amarga" da austeridade está a matar o doente, usando o
exemplo de Portugal para defender a emissão de títulos de dívida
apoiados pela zona euro.
"Há mais de dois anos que os líderes europeus
têm imposto um 'cocktail' de austeridade orçamental e de reformas
estruturais em países debilitados como Portugal, Espanha e Itália,
prometendo que isso será o tónico para curar as maleitas económicas e
financeiras, mas todas as provas mostram que estes remédios amargos
estão a matar o paciente", escreve o Conselho Editorial do jornal
norte-americano New York Times, um dos mais vendidos nos Estados Unidos
da América.
O artigo de opinião explica que o principal problema
de as medidas de austeridade não estarem já a ter o efeito pretendido -
crescimento económico - é, para além do aumento do desemprego, a
criação de um descontentamento popular que favorece grupos como o
Movimento Cinco Estrelas, em Itália.
"O verdadeiro perigo para a
Europa é que movimentos como esse aumentem e que os eleitores e os
decisores vejam cada vez menos vantagens em permanecer no euro. Se os
países começam a sair da moeda única, isso causaria pânico generalizado
no Continente e milhares de milhões de dólares em perdas para os
governos, os bancos e os investidores na Alemanha e noutros países ricos
europeus, já para não falar no resto do mundo", escreve o jornal,
sublinhando que "se os líderes europeus deixaram essas forças políticas
ganharem força, toda a gente no Continente, e não apenas os portugueses
ou os italianos, ficarão pior".
Numa parte dedicada exclusivamente
a Portugal, o jornal escreve que "o Governo de Passos Coelho cortou a
despesa e aumentou os impostos, tanto que o défice orçamental caiu cerca
de um terço entre 2010 e 2012" e acrescenta que o resultado destas e de
outras reformas é que o desemprego subiu para os 18%. Assim, "os
economistas dizem que Portugal vai provavelmente ter um défice
orçamental, este ano, maior que o acordado [com a 'troika'] (...) porque
as políticas nacionais, sem surpresa, causaram uma recessão mais
profunda que o previsto".
O artigo defende, por isso, que líderes
como a chanceler Angela Merkel parem de insistir na austeridade e
"ajudem a aumentar a procura, por exemplo, permitindo que os países mais
frágeis possam emitir dívida pública apoiada pela zona euro", o que, no
entender deste Conselho Editorial composto por editores e antigos
directores, e que responde directamente ao presidente do grupo detentor
do New York Times, ajudaria os países a sair da "espiral recessiva".
"Os
decisores políticos em Portugal e em Itália teriam a vida facilitada na
defesa da necessidade de reformas se não tivessem de, ao mesmo tempo,
cortar programas e apoios sociais", diz o texto, que argumenta que "um
crescimento económico mais rápido e um desemprego mais baixo criariam os
recursos que podiam ser usados, mais tarde, para cortar a dúvida e
reduzir o défice".
Lusa/SOL
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