Diretora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal diz que Portugal é um dos poucos países europeus onde se investigam "grandes negócios do Estado". A procuradora-geral Adjunta Cândida Almeida afirmou
sábado que "Portugal não é um país corrupto" e que existe uma "perceção"
exagerada da dimensão deste crime, sublinhando que é dos poucos Estados
europeus onde se investigam "grandes negócios do Estado".
"O nosso país não é um país corrupto, os nossos
políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são
dirigentes corruptos. Portugal não é um país corrupto. Existe corrupção
obviamente, mas rejeito qualquer afirmação simplista e generalizada, de
que o país está completamente alheado dos direitos, de um comportamento
ético (...) de que é um país de corruptos", disse a diretora do
Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), numa
conferência na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide.
Depois de insistir várias vezes nesta ideia, a
magistrada disse que, porém, não é essa a "perceção" da opinião pública,
referindo que os relatórios da organização Transparência Internacional
Portugal e os meios de comunicação social "arrasam-nos permanentemente"
com a ideia de que o país "é corrupto".
Cândida Almeida sublinhou que, no caso da Transparência
Internacional, os relatórios "refletem tão só a perceção" que existe
num país dois níveis de corrupção e que, no que toca aos meios de
comunicação social e a declarações públicas nesse sentido, a maioria dos
casos não têm fundamento ou referem-se a outros crimes, sendo o mais
frequente a fraude fiscal.
"A corrupção tem a ver com cidadãos ou funcionários que se vendem ou querem vender-se"
"A corrupção tem a ver com cidadãos ou funcionários que se vendem ou querem vender-se"
"Acontece que as pessoas, de uma maneira geral, sem
saber exatamente o que estão a dizer, falam de corrupção num conceito
sociológico, ético-político eventualmente, mas falam de coisas que não
são corrupção, falam de coisas afins", disse, acrescentando que "a
corrupção tem a ver com cidadãos ou funcionários que se vendem ou querem
vender-se". E deu o exemplo do Operação Furação, que a opinião
pública perceciona como estando relacionada com corrupção, quando, na
realidade, está em causa fraude fiscal.
A procuradora insistiu em que "a corrupção é
residual", embora tenha de ser combatida para ser contida, sublinhando
várias vezes que é e deve ser uma "preocupação" de todas as democracias,
porque abala as suas estruturas e fundamentos.
Segundo a diretora do DCIAP, sempre que alguém "com
crédito" publicamente refere a existência de corrupção, é chamado a
declarar, nunca se confirmando o fundamento das afirmações, porque se
baseiam em rumores, revelando que, por exemplo, o bastonário dos
advogados, Marinho Pinto, já foi ouvido neste âmbito.
Para Cândida Almeida, é preciso, assim, combater esta
perceção errada e "preocupante": "Porque ficamos com a ideia de que, por
um lado, ninguém faz nada contra a corrupção e, por outro, somos todos
corruptos", afirmou.
"Portugal está na média europeia"
"Portugal está na média europeia"
A procuradora disse que a nível de "corrupção" e do
combate a este crime, "Portugal está na média europeia" e é até um dos
países que vai mais longe na investigação deste tipo de ílicito, dando
como exemplo o processo judicial relacionado com a compra de submarinos
pelo Estado português.
"Este é um caso de exemplo e que está a ser tratado a
nível da Europa, exatamente porque não há peias, nem do Ministério
Público, nem dos órgãos de soberania, do Governo, seja de quem for.
Temos feito efetivamente o nosso trabalho (...). Ninguém nos impediu e,
portanto, se vocês virem a nível europeu (...) não veem ninguém a ser
investigado não há investigação de grandes negócios do Estado e que
interessam ao Estado. E nós temo-lo", afirmou.
Cândida Almeida contou que anda há quatro nos a trocar
e-mails com "um colega" na Alemanha por causa do caso dos submarinos por
causa de documentos que devem ser enviados para Portugal e que nunca
mais saem daquele país.
Em relação ao combate à corrupção, a procuradora
explicou que se trata de investigações "difíceis" porque existe "um
código de silêncio neste tipo de crimes", não havendo registos de
conversas ou trocas de mensagens. E quando há uma denúncia, normalmente
já passou "muito tempo", ficando a investigação dependente de documentos
que, muitas vezes, são destruídos.
A este propósito, Cândida Almeida lamentou a frequente
violação do Segredo de Justiça, nomeadamente pela comunicação social,
que "revela a existência de processos e acaba por fazer desaparecer
documentos importantes"
«Expresso»
2 comentários:
Claro que Cândida de Almeida fala assim porque lhe convêem. Não quisesse ela o lugar de Pinto Monteiro para ir para Procuradora-Geral da República
Como está o caso da ARPICA?
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