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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Inteligência emocional e a arte de (bem) gerir pessoas


Por: Anabela Melão


Arménio Rego é Professor da Universidade de Aveiro. E é simplesmente brilhante. Devíamo-lo seguir fervorosamente.

Já vi tanta gente incrivelmente genial a tropeçar na vida porque são useiros na falta de diplomacia, na falta de tacto, na grosseria e na sobranceria. E ficam pelo caminho. Outros, nem por isso assim tão inteligentes "sabem lidar" com os outros e isso é uma mais valia preciosa, sobretudo para quem aspira a ser líder. É óbvio que a facilidade de criar empatias, de gerar simpatias, é mais um dom, um talento, mas tem muito de trabalho, de aplicação e de disciplina também. Aproveitando o slogan budista de que não se "dá murros em ponta de faca", essa arte de bem conviver é uma falha de muito gente que conheço e que, embora brilhante, fica sempre, constantemente, na sombra, porque são inveterados, incuráveis, trapalhões sociais.

Vejamos porque acho que o Arménio os pode ajudar. Explica ele a importância da inteligência emocional (IE). Trata-se de uma capacidade, uma habilidade até, para conciliar emoções e razão: "usar as emoções para facilitar a razão, e raciocinar inteligentemente acerca das emoções." Implica que tenhamos consciência das nossas próprias emoções e das dos outros, que sejamos empáticos, que conheçamos as causas e as consequências das emoções, que saibamos reparar os estados de espírito negativos e, finalmente, que nos empenhemos a gerir todas essas emoções. Goleman sugere que quase 90% das competências necessárias para o sucesso da liderança são de natureza emocional e social. E não sendo uma evidência científica, há fortes razões para acreditar que a IE pode ser um valioso contributo para a nossa vida.

Diz-se que os líderes emocionalmente inteligentes denotam várias capacidades: - Sintonizam as emoções dos outros e isso motiva-os. - Articulam a sua visão para uma organização mobilizadora dos talentos. - Desenvolvem relações interpessoais dentro e fora da organização. - Fomentam a criatividade dos colaboradores, compelindo à inovação. - Reparam estados de espírito negativos, tornam-se mais perseverantes e corajosos. - Captam as emoções "em redor", o que os habilita a escolher os momentos apropriados para tomar decisões.

Os líderes com elevados níveis de IE criam climas que geram partilha, confiança, níveis saudáveis de tomada de risco e uma (sede de) aprendizagem contínua, ao contrário dos que os não têm, que provocam medo, ansiedade, inibição de arriscar, resistência à partilha de conhecimentos e experiência. Um líder sob estados de espírito positivos contagia os que o rodeiam e estes passam a encarar as envolventes mais positivamente. Como uma "espécie de liderança ressonante". Se aliarmos à IE características como a integridade e as competências técnicas e conceptuais, temos um lider "em cheio".

Na nossa Administração Pública, a IE é pior do que a peste. Todos fogem dos que a têm e pobre de quem a tem. Num espaço onde a incompetência grassa, a sensibilidade emocional é uma enorme tragédia. Porque a primeira potencia a insegurança e esta um alheamento para o que as circunstâncias endógenas afectivas do grupo. Infelizmente, também há gente inábil no sector provado. Igualmente porque também gente incompetente e insegura.

Poucos são os que percebem que gerir recursos humanos é gerir afectos, almas e corações. E por isso não os gerem, suportam-nos. Se a IE pode ser aprendida ou apreendida é algo que se desconhece, mas existem já algumas conclusões interessantes. Sabe-se que a IE tem uma componente genética, mas sabe-se também que uma adequada formação "conta". Se a formação for fundamentalmente expositiva pode ser pouco eficaz, porque se focaliza na parte errada do cérebro. Há que direccionar a sua fulcralidade para o sistema límbico - induzindo motivação no indivíduo para mudar, impelindo-o a praticar, proporcionando-lhe feedback, levando-o a observar actuações empáticas de outras pessoas. Outra condição é ter mesmo um sincero desejo de mudar e tomar a IE a peito. De todo o modo, seria bom que treinássemos e investíssemos nesta parte menosprezada da nossa formação. Até porque se os líderes devem ser emocionalmente inteligentes, o certo é que "os colaboradores também precisam de saber gerir os seus líderes."

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