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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Discursos de abril: incoerências de um Presidente



Por: Anabela Melã
Quem viu e quem vê Sua Excelência o Presidente da República!?

Já nos surpreendeu com silêncios inexplicados, frases a roçar a comédia e apelos mais ou menos melodramáticos, mas, desta vez, o cheiro dos cravos, que outras “excelências” levaram na lapela para são bento, terá justificado afirmações que transformaram o discurso anódino numa versão saudosista da governação dos últimos anos, a lembrar um elogio póstumo a Sócrates. Juro que até me indaguei se este estaria de boa saúde ou se teria tropeçado nalguma das escadinhas ingremes da Torre Eiffel e temi o pior!
O homem que disse coisas como "É altura de os Portugueses despertarem da letargia em que têm vivido e perceberem claramente que só uma grande mobilização da sociedade civil permitirá garantir um rumo de futuro." "É oportuno tomar uma posição clara contra a iniquidade, o medo e o conformismo que se estão a instalar na nossa sociedade." "Precisamos de uma política humana, orientada para as pessoas concretas, para famílias inteiras que enfrentam privações absolutamente inadmissíveis num país europeu do século XXI." "Portugal é já o país da União Europeia com maiores desigualdades sociais." "Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza que corroem a nossa unidade como povo." "O rumo político seguido protege os privilégios, agrava a pobreza e a exclusão social, desvaloriza o trabalho." "A expectativa legítima dos Portugueses é a de que todas as políticas públicas e decisões de investimento tenham em conta o seu impacto no mercado laboral, privilegiando iniciativas que criem emprego ou que permitam a defesa dos postos de trabalho. [...] Exige-se, em particular, um esforço determinado no sentido de combater o flagelo do desemprego." "As medidas e sacrifícios impostos aos cidadãos portugueses ultrapassaram os limites do suportável. Condições inaceitáveis de segurança e bem-estar social atingem a dignidade da pessoa humana." "Sem crescimento económico, os custos sociais da consolidação orçamental serão insuportáveis. [...] Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos." "O contrato social estabelecido na Constituição da República Portuguesa foi rompido pelo poder." "Precisamos de gestos fortes que permitam recuperar a confiança nos governantes e nas instituições." "Queremos apelar ao Povo português e a todas as suas expressões organizadas para que se mobilizem e ajam, em unidade patriótica, para salvar Portugal, a liberdade, a democracia." "É necessário um sobressalto cívico." "Queremos reafirmar a nossa convicção quanto à vitória futura, mesmo que sofrida, dos valores de Abril no quadro de uma alternativa política, económica, social e cultural que corresponda aos anseios profundos do Povo português." "Façam ouvir a vossa voz. Este é o vosso tempo. [... ] Mostrem que não se acomodam nem se resignam.", é o mesmo que acordou, numa manhã de Abril, e descoberto que existe lá fora "a intenção deliberada de fornecer um retrato negativo do nosso país, de evidenciar apenas uma parte da realidade", que "essa perceção negativa é veiculada internamente, constituindo um fator de desmobilização dos cidadãos e prejudicando as expectativas dos agentes económicos" e que concluiu que "corrigir a falta de informação ou até a desinformação que subsiste no estrangeiro" já não é vender ilusões, nem recorrer à ficção ou à propaganda. É, isso sim, e cito: "fornecer um retrato realista e positivo de Portugal". Ora bem! Disto culpava o atual partido no poder (o mesmo de Cavaco) José Sócrates. Aqueloutro que, segundo eles, teatralizava o País lá por fora, como terra de oportunidades e paraíso à beira-mar plantado! E isto nada tem a ver com simpatias socráticas, acrescento já para calar as mas línguas.
Mas lá que é estranho ver o Presidente a não regatear elogios aos últimos anos de governação (a duplicação do investimento em Investigação e Ciência, o desenvolvimento na inovação e modernização tecnológica, os avanços no domínio energético, o dinamismo nas áreas da cultura, da arquitetura, das artes plásticas, da moda e das indústrias criativas, a afirmação do prestígio de Portugal, através da eleição para o Conselho de Segurança, das presidências portuguesas da União Europeia e do próprio Tratado de Lisboa, não são questões de curto prazo!) em jeito de elogio póstumo ao governo socialista que tanto se orgulha de ter contribuído para cair, lá isso é.
Cavaco Silva não gosta de Passos Coelho. Passos Coelho não gosta de Cavaco Silva. Nem o cravo os fez sentir obrigados a cumprimentarem-se em são bento. Mas que isto não sirva para evasivas presidenciais a uma apreciação da governação. Não gostam um do outro, e daí? Também há quem não goste de um. E há quem não goste do outro. E até há quem não goste de nenhum deles. O problema é que começamos a pensar que ambos também não morrem de amores por nós. O Povo que até votou neles e agora os vê pisar a bandeira! 

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