Mais
de dois milhões de tordos e 888 mil coelhos-bravos foram abatidos nas
zonas de caça portuguesas entre 2009 e 2011 e terão sido as duas
espécies mais caçadas. Logo a seguir vem a perdiz-vermelha, com mais de
516 mil exemplares.
Os dados, cedidos em exclusivo ao SOL pela
Autoridade Florestal Nacional (AFN), correspondem, porém, apenas a uma
parte dos animais caçados em todo o país. É que este organismo (tutelado
pelo Ministério do Ambiente e Agricultura) só tem disponíveis na base
de dados, os valores referentes às espécies mortas em 62% das zonas de
caça (na época de caça 2009/10), e a 49% destas áreas na de 2010/2011.
Aliás,
os vários organismos do sector acusam a tutela de falta de controlo
sobre as espécies caçadas e há muito que alertam para a importância de
se saber quais e quantos animais são mortos no país com esta actividade.
«Os
dados sobre a caça deviam estar publicados e ser disponibilizados às
organizações todos os anos. Mas, se existem, nunca foram actualizados»,
explica o presidente da Confederação Nacional de Caçadores Portugueses
(CNCP), Vítor Palmilha, acrescentando que são importantes para apurar o
impacto sócio-económico da actividade em Portugal. «Só assim podemos
descobrir, de uma vez por todas, o peso económico que os caçadores têm
para a economia do país, sobretudo, numa época de crise como a que
vivemos», avisa.
Também João Carvalho, da Associação Nacional dos
Proprietários da Caça (ANPC), alerta para a importância destas
estatísticas. Por um lado, nota o responsável, só a divulgação anual dos
valores permite «prever as oscilações das populações migratórias».
Por
outro, adverte, «com estes números, cada zona de caça pode fazer a
gestão das populações das suas espécies, e perceber se podem ser mais
abatidas».
Rola-comum cada vez mais ameaçada
As estatísticas são também fundamentais para a conservação das espécies.
Segundo
os dados da AFN, foram várias aquelas em que se verificou um aumento de
abates. É o caso de algumas espécies de patos selvagens, cujo abate a
tutela decidiu reduzir em Março, cumprindo directivas da Comissão
Europeia (CE). Os dados a que o SOL teve agora acesso revelam um aumento
na caça dos patos nos últimos anos: de 2009 para 2011, houve mais 5847
animais abatidos – apesar de existirem menos exemplares desta espécie
migratória. Também a galinhola –, cuja população está a regredir no país
– continua a ser mais caçada: em 2011 foram mortas mais 15 aves do que
na época anterior.
Já no caso da rola-comum – outra das espécies em perigo –, houve uma diminuição de quase 30 mil aves caçadas entre os dois anos.
Mas,
para a Quercus, isto é um mau sinal: «Pode significar que há menos
exemplares e estamos a falar de uma das espécies mais ameaçadas no
país».
Referindo-se aos veados e javalis, fonte daquela associação
ambiental acrescenta que, «se o levantamento estivesse feito há mais
tempo, podiam prevenir-se os problemas que agora existem de tuberculose
em toda a faixa raiana, de Trás-os-Montes a Barrancos».
Apesar de a
AFN garantir que estão a ser caçados menos javalis e veados, a Quercus
avisa que essa garantia não é suficiente: «Continua a não se saber
quantos animais existem. Por isso, a doença pode espalhar-se para o
resto do país».
Para a próxima segunda-feira, dia 16, está
agendada uma reunião entre as organizações da caça e a AFN, para
discutir o calendário venatório deste ano que deverá ser apresentado até
final de Maio.
Uma das soluções que está em cima da mesa, sabe o
SOL, é a de se transferir para as confederações de caçadores a
responsabilidade de elaborar estas estatísticas. «Será mais fácil
adaptar as espécies a caçar nos próximos anos se houver esta
transferência de competência», conclui Vítor Palmilha, da CNCP.
«Sol»
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