Por: Anabela Melão |
Confesso: estou a pensar "dar um tempo" à minha ainda nem iniciada relação com a política. Mandar às urtigas a politiquice barata (na arte da política mas nem por isso no resto ...). Esperava assistir a uma actividade lógica e racional entre adultos e vejo-me entre "cenas de cachopos" - como diria o meu avô. Joguinhos tipo Lego em que apenas se movem as peças mantendo-se. Espadachins palacianos a lembrar "Também tu, Brutus?". Cusquices capazes de fazer corar as "tias de Cascais"! Alvovitices (e refiro-me mesmo a "alcova" no sentido literal)que justificam a promoção de gente absolutamente imprestável (embora reconhecendo que terão "qualidades"!).
Ando há uns tempos para falar nisto, mas ciente de que isto me vai custar os olhos da cara - e só! porque não tenciono ter qualquer carreira política - esperei um dia em que o meu mau génio estivesse ao rubro para botar cá para fora umas quantas verdades que já me estão pelo goto (e que acho que estão mais ao nível do esgoto). Há gente que nunca fez mais nada na vida que estar na política - quero lá saber disso! - desde que a exercessem com dignidade e competência... e deixassem de a praticar sentadinhos nos sofás dos Passos Perdidos, ou, em entre copos. O espaço onde normalmente escolhem quem vão fazer sobressair e cair....
Constato que, mais coisa menos coisa - e como os partidos se fazem com pessoas, naturalmente imperfeitas, na convicção judaico-cristã - com algumas cambiantes, há sempre umas "ovelhas" ou umas "cabras", as que pertencem ao rebanho, e as "outras" - as "ranhosas"! - as eternas candidatas a ostracizados, dissidentes, independentes, etc...
Pergunte-se aos políticos, como Cícero perguntou a Catilina “Quo usque tandem politicus (no lugar de Catilina) patientia nostra abutere?” (Até quando, ó político abusarás da nossa paciência?) Pergunto eu: se, em vez deste Parlamento com as suas "costumeiras contumélias", isto é, mesuras, salamaleques e outras vénias, tivéssemos um Senado, haveria melhorias - na arte de fazer política ou, pelo menos, na oratória - ou nem por isso? É que é tal a falta de nível de prosápia, literacia e cultura - vejam-se os textos dos debates da Assembleia da República - que estou em crer que estes senhores deixam no parque de estacionamento de São Bento o que têm de melhor (...os carros).
Falta arte de negociar, de conversar e até de desconversar. E numa selecção aparentemente elitista - mordomias e títulos são às palettes - é pouca a excelência na verbalização das suas ditas intervenções. As leis tornam-se, cada vez mais, obras conceptuais, excessivamente teóricas, inintelegíveis ao homem comum. Destes senhores que fazem as leis, parecem poucos os que entendem a língua mater, a escrevem, a falam, ou balbuciam, sequer, em condições. São doutores, engenheiros e outras variáveis, na sua maioria oriundos da farinha amparo, que transmitem uma verborreia constrangidamente medíocre. Que saudades da eloquência de Almeida Santos ou de Mário Soares?.
Se houvesse um Senado, este velaria pela redacção cuidada das leis, pela sua inteligibilidade, seira um guardião das vírgulas estratégicas, das triplas remissões, das contradições, etc., etc..
Bem sei que o anedotário parlamentar português é mais subtil que a délicate blague française, ou o tradicional e formal british mood, mas o que eu gostava mesmo era que S.P.Q.R. - Senatus Populusque Romanus: o Senado e o Povo Romano, valesse, com a devida adaptação, para Portugal, o que valia para a Roma antiga: que o Senado vinha antes do Povo. Aqui, o Parlamento nem vem antes, nem depois, nem ao lado. Vem como e quando calha e quando encalha! Houvessem, ao menos, uns mais apurados e selectivos critérios de competência e qualidade!! Claro que a ideia de se defender a criação de um Senado é pura ficção, mas Júlio Verne também ficcionou o que hoje é realidade, não é verdade?
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