A história do "Verdadeiro Olheiro" faz-me lembrar uma outra, passada em Santarém em finais dos anos 70.
Os factos são distintos e a analogia será apenas pela forma metafórica do "Verdadeiro". Junto à Igreja da Marvila e praça Visconde Serra do Pilar - Santarém, com o Cabaceiro à vista e na mesma linha o Teatro Rosa Damasceno, existia um pequeno Restaurante - Bar (há pouco em obras, para fim que desconheço) chamado: " O Chefe"; onde se podia comer uns petiscos, muito bem confeccionados pelos donos da casa, trazendo ali comensais de todo o lado, nomeadamente das povoações ribeirinhas.
Juntavam-se então ali, os apreciadores da boa mesa tradicional, regada com um bom “tintol” da casa; chegando a competir saudavelmente com "O Quinzena": taberna com tradição e fama dos petiscos e também do bom vinho, ali para os lados do antigo Matadouro Municipal.
Um dia, por motivos alheios à vontade dos fregueses e amigos do bom garfo, o casal que há já algum tempo manifestava sinais de fadiga e falta de pachorra para aturar os maus pagadores que sempre se esquecem da carteira na hora de pagar, resolve vender "O Chefe".
Com o Restaurante-Bar à venda, começam a chegar os interessados, fazendo bicha na disputa de tão rentável negócio com uma carteira de clientes invejável e um nome já considerado na praça.“O Chefe”, assim conhecido, era visto como uma árvore das patacas. Bastava abanar, recolher e encher o saco!
Eis então que aparece o candidato ideal. Um jovem dinâmico, empreendedor que, na opinião do velho “Chefe” oferecia as melhores condições e garantias para o negócio, mantendo o nome e prestígio da casa por mais uma geração.E logo ali, sob juramento e palavra de “Chefe” ficaria acordado o retiro definitivo do homem que dera alma e fama àquela casa que era já um ex-líbris da cidade.
Assim, com a palavra dada e um aperto de mão, o negócio foi fechado e o acordo de cavalheiros selado com um tinto especial para todos, à conta da casa.…Dois anos mais tarde, ao passar com redobrado cuidado por uma ruela antiga e estreita da cidade, em manhã de finais de Dezembro, parei o carro, desembaciei bem os vidros para me certificar de que não estava a ter visões. À minha frente podia ler, para meu espanto e cepticismo, na porta e montra de um pequeno rés-do-chão, com sinais de uma vetustez respeitável, os seguintes dizeres: “Nesta casa está O Verdadeiro Chefe”.
Por: Português PT
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