A Reserva Natural do Paul do Boquilobo foi a primeira área protegida portuguesa a integrar a Rede Mundial da Biosfera, em 1981, “mas se fosse avaliada agora, seria desclassificada”, confessou Tito Rosa, presidente do ICNB, na sessão de abertura da comemoração do Dia Mundial das Zonas Húmidas, assinalado a 2 de Fevereiro, no Equuspolis, Golegã.
O problema não é novo e toda a biodiversidade da reserva está ameaçada pela poluição do rio Almonda. As instituições públicas tardam em agir e os prevaricadores vão passando impunes. No entanto, a adesão do Município de Torres Novas às Águas do Ribatejo, que permitirá a construção de uma nova ETAR em Riachos e a remodelação da rede de saneamento, por exemplo, deverá ser um passo importante em direcção à resolução do problema. Mas, também convém não esquecer os malefícios provocados pela rega intensiva e o uso de pesticidas na agricultura.
A comemoração do Dia Mundial das Zonas Húmidas decorreu no Equuspolis, na Golegã, precedendo a abertura do novo espaço da Reserva naquele edifício. Lá irão funcionar os serviços administrativos e um posto de atendimento onde será facultada toda a informação a quem pretende visitar o Paul.
Tito Rosa, do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, enalteceu a parceria com a Câmara Municipal da Golegã, explicando que a nova porta de entrada da Reserva será muito importante para o seu modelo de gestão: “São necessários instrumentos para a gestão adequada da sua manutenção, coisa que não tem acontecido. Queremos hoje assinalar um virar de página nesse sentido, abrindo os nossos esforços a um novo caminho no âmbito da visitação das áreas protegidas. Nesse sentido, propusemos à Câmara da Golegã que nos acolhesse e fosse nosso parceiro para recuperar a visitação do Paul do Boquilobo”. “Estou certo que ganharemos imenso com a instalação dos nossos serviços na Golegã”, rematou.
João Carlos Farinha, director do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas e Zonas Húmidas do ICNB, também salientou que não adianta conciliar esforços neste processo “muito importante” para a reserva, enquanto o problema da poluição no Almonda não for resolvido. No entanto, mostra-se convicto que será ultrapassado dentro de dois ou três anos.
Sobre o novo espaço, onde em tempos funcionou o ateliê do escultor Rui Fernandes, João Carlos Farinha explicou que irá permitir melhores condições de visitação e investigação, salientando que “as pessoas devem conhecer o que existe na Reserva para depois a acarinharem e protegerem”.
Mostrou-se ainda muito agradado com a ciclovia que irá ser construída pela Câmara entre a lagoa da Alverca e a Reserva e adiantou que o centro de recepção de fauna selvagem e o centro de interpretação, já na Reserva, irão ser beneficiados. “Mas, melhorar a qualidade da água é essencial, porque irá mudar tudo. Não vale a pena termos grandes acções de gestão e recuperação de habitats, enquanto não se resolva o problema da poluição”, concluiu.
Aves indicam alterações de habitats
O Dia Mundial das Zonas Húmidas teve este ano como tema “Florestas, a água e as zonas húmidas”. Num auditório muito bem composto por profissionais da área,
João Rabaça, do departamento de Biologia da Universidade de Évora, abordou as características das zonas ribeirinhas e a importância das aves para a compreensão do funcionamento das comunidades aquáticas: “As aves são excelentes indicadores das alterações de habitats”.
Por seu lado, Ana Mendes, do Instituto de Agronomia, deu a conhecer vários exemplos de projectos de restauro de zonas húmidas, como o paul da Goucha, em Alpiarça, ou a ribeira de Gandum, em Montemor. Veiga Maltez aproveitou e lançou o repto a Ana Mendes para auxiliar o município no projecto de reordenamento das margens do Almonda, na Azinhaga, que foi prontamente aceite.
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