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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Cadernos de Etnografia e Folclore

Por: Lino Mendes

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A questão que por vezes nos é colocada é como classificar os “grupos de folclore”, como saber quais são os melhores. Mas a resposta é simples ,pois não há nem pode haver “classificações” em folclore, dado que não se pode comparar o que não tem comparação possível. De região para região e mesmo de terra para terra, o folclore é caracterizado pelas diferenças Ou será ,por exemplo, que pode haver comparação entre o “cante alentejano” e um “corridinho”? Haverá, naturalmente, os grupos que se vêem com mais agrado, mas isso não está em causa em termos de qualidade Teremos, isso sim, que dividir os mesmos entre os que são ou querem ser representativos, e os que não o são e nem o querem ser ,sendo que estes últimos usam abusivamente a designação de folclore. Têm, é certo, todo o direito de existir, até pela “ocupação de tempos livres” que promovem, poderão até ser considerados como “grupo de danças e cantares”--- mas têm o seu espaço próprio. E é por isso mesmo que quando convidado o representante da Federação se desloca a um Festival o faz com objectivo de analisar o mesmo (Festival, na sua organização)e não com o de analisar cada grupo de per si.
Depois, onde existe um júri capaz de analisar na especificidades diversas regiões? Em qualquer parte do mundo, até , essa será sempre uma missão impossível! Diversas Bandas Filarmónicas executando a mesma “partitura”,podem ser “classificadas”, mas em Folclore jamais. Aliás, mas isto é uma opinião meramente pessoal, não me agradam os “concursos em cultura”.
São por isso condenáveis os chamados “concursos de folclore”,por vezes até com prémios para”o trajo mais bonito”, a “ melhor coreografia”,e sei lá que mais. É que o folclore não se inventa, não expressa qualquer dose de criatividade. Recolhe-se ,estuda-se , divulga-se, e preserva-se. Em apreciação, isso sim, está em jogo a honestidade do trabalho realizado, de maneira a que o grupo seja então o retrato possível da região que representa
Há grupos que fazem uma pesquisa a nível concelhio ou mesmo distrital, com o que eu não concordo, em especial se nesse mesmo espaço geográfico existirem outros grupos. No caso de Montargil, com o qual eu trabalho há quarenta anos, a recolha, a representatividade tem apenas a ver com a respectiva freguesia.
Falando agora de “trajos” e porque o povo nunca se “fardou” , considero errado que um grupo vista todo por igual. É que se o mesmo deve ser o retrato possível de um povo, a diversidade deve ser considerada. Certo que não defendo mas também não contesto que alguns grupos façam a opção de determinados trajos---do que são exemplo os grupos do Minho, agora está errado que ao rodar a saia esta deixe ver as pernas, tenham ou não tenham saiotes ou conotes vestidos. Ou será que há cem anos isso acontecia?
O Folclore é também e necessariamente ,espectáculo, mas sempre com base na “demonstração” da “tradição”.
Quero dizer que não me considero dono da verdade absoluta , embora haja princípios e valores que não têm discussão

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