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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Estradas da Cultura

Por: Lino Mendes

De certo modo ignorados do país real, dos nossos montes e vales e das nossas vilas e aldeias brotam grupos artísticos e culturais de inegáveis potencialidades, e em muitos casos mesmo de muita qualidade. Mas, claro, santos da terra não fazem milagres.
Aqui há umas décadas, esses agrupamentos eram a animação dos “festejos populares”que se realizavam na terra ,mas entraram um tanto no esquecimento quando os artistas de nomeada e por vezes com valor, refira-se, passaram a ser o cabeça de cartaz ,para cuja presença por vezes todo o lucro não chega ,quando não absorvem mesmo uma boa fatia do orçamento municipal.
Mas vá lá, não vamos ser críticos de tudo e mais alguma coisa, só porque as mesmas não estão em conformidade com o que pensamos. Mas uma situação existe que contesto e com a qual não alinho, que é o facto de chegar a um recinto-- claro que há excepções,-- deparar com dois palcos, um com todos os requisitos, tapado, espaçoso e outro, claro que destapado, de piso irregular e outras carências, mas que importava isso se era para a Banda, o Grupo de Folclore ou de Música Popular Portuguesa da terra ou dos arredores. E o primeiro, claro, para o artista famoso, que possivelmente ainda escolheu a marca de sabonete, as garrafas de bebida que queria no camarim, o género de refeição que se pretendia.
Que o artista famoso imponha lá as condições que entender mas até por isso,é tempo, penso eu, dos grupos locais que tenham qualidade para poderem exigir, marquem a sua posição,”conquistem” a dignidade que lhe é devida. E já não falo em “cachets”, mas na dignidade com que se é recebido, com que se é tratado. ´É preciso dizer através do comportamento, que um subsídio que é concedido a uma associação não é uma esmola, mas sim a contrapartida para um trabalho em prol das populações. É, aliás com muita satisfação que vejo os autarcas do meu concelho tratar as associações como parceiras.
Apenas dois casos:
---Um clube de futebol convidou o Rancho de Montargil (então infantil) para ir actuar no seu aniversário, e à hora combinada lá estava uma camioneta de carga para fazer o transporte. Contactei de imediato os responsáveis, perguntei-lhes se era esse o transporte com que deslocavam os futebolistas, acrescentando que se dentro de uma hora não estivessem para o serviço um autocarro ,ou algumas carrinhas tapadas e/ou automóveis, ficava sem efeito o serviço que, e é bom que se diga, pelo qual nada receberíamos.
É evidente que fomos!
---O outro caso acontece com o mesmo Rancho, mas já adulto e com incontornável representatividade. Estávamos em Troyes (França),ia actuar a Orquestra Ligeira do Exército( excepcional) ,e o locutor Nunes Forte solicitou aos os nossos componentes ,já trajados, que se sentassem, durante alguns momentos no chão, dando um certo colorido ao espaço frente ao palco .Claro que acedemos, mas como passada uma hora nada mais nos tinha sido dito, disse aos jovens que se levantassem e retirassem. Furioso, o Nunes Forte procurou-me logo pedindo satisfações, e vá lá ainda tive a pachorra de lhe dizer que sim senhor, eles voltariam ao lugar, se quando depois o Rancho actuasse os elementos da Orquestra ocupassem o mesmo lugar.
Acrescente-se que o Maestro da Orquestra expressou a sua solidariedade para connosco e o Director da RDP Internacional apressou-se a pedir-nos desculpa pelo sucedido.
Tudo isto para dizer que é cada Grupo que tem que lutar pela sua dignificação. Mas como infelizmente há sempre grupelhos que até pagam para ir por exemplo à Televisão, e nesta onde não sei se haverá alguém que saiba de Folclore, o barato é que interessa.

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