Editorial jornal “O Ribatejo”
Moita Flores meteu Santarém quase inteirinha no bolso. Silvino Sequeira estatelou-se ao comprido em Rio Maior. Paulo Fonseca conseguiu uma viragem histórica na terra dos pastorinhos. Sónia Sanfona devolveu de mão beijada o emblema comunista que voltou a ser Alpiarça. Fernanda Asseiceiro desalojou os independentes de Alcanena que espigaram durante oito anos de uma cisão socialista. José Veiga Maltez conseguiu a proeza de aplanar a Golegã e ficar à frente do único executivo autárquico monocolor no país. Já em Tomar a governação está tão difícil para Corvêlo de Sousa como o país para José Sócrates, só mesmo à custa de muito diálogo.
O mapa autárquico do distrito voltou assim a sofrer alterações de monta, embora mantendo-se maioritariamente rosa no conjunto dos 21 municípios. Se os políticos locais e os directórios partidários souberem ler o sucedido, perceberão que os eleitores já deixaram de ser aquela massa clubística cega, aquela simpática e moldável carneirada de outrora. Ao longo de sucessivos actos eleitorais fomos todos aprendendo a saber avaliar melhor as ofertas políticas, como também a exigir mais dos nossos políticos e, do mesmo modo, a premiar ou a penalizar com mais facilidade na hora do voto.
Até aqueles políticos experientes e com obra reconhecida, como Silvino Sequeira, que colocou Rio Maior no mapa nacional do desporto, terá percebido agora que um município não é um couto privado para onde se entra e sai e volta a entrar a belo prazer. Os eleitores não gostam e só por esse motivo, ou em grande parte por essa razão deram a vitória à principiante Isaura Morais, o rosto feminino da coligação PSD/CDS. Já a Norte, foi o PSD de Ourém que, no entra e sai de Catarino para Frazão, abriu a janela de oportunidade a Paulo Fonseca, a quem se reconhece grande persistência e profissionalismo político.
Tal como as trapalhadas do PS de Alpiarça que se permitiu alimentar protagonismos e vaidades pessoais ajudou e muito o PCP a reconquistar o seu bastião. Sónia Sanfona tem agora uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, ao perder simultaneamente o lugar que teve no parlamento e a ilusão de ter a Câmara. Ao contrário, a sua colega Fernanda Asseiceiro garimpou com êxito em Alcanena.
O caso do estrondoso sucesso, mais do que justificado, de Moita Flores em Santarém e do seu amigo José Maltez na Golegã explica-se pela obra e pela personalidade dos protagonistas.
Uma mundividência esclarecida e visionária que soube mobilizar vontades e ultrapassar a fronteira dos seus municípios. O efeito Luísa Mesquita destroçou o PCP que perdeu o seu vereador em Santarém, como o PS se perdeu na penosa oposição que foi na Câmara e na lista mal colada com que enfrentou Moita Flores. Mas isso já é história.
Vale acrescentar que, daqui a quatro anos, mais de metade dos actuais presidentes não vai poder voltar a candidatar-se, por força da lei de limitação de mandatos. São doze Câmaras, mais uma, porque Moita Flores diz já que não se voltará a candidatar. É pois este o tempo para percebermos também onde estão e quem são os potenciais delfins.
Artigo enviado por um leitor deste jornal
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