Zeca Pinhão sempre foi um homem que soube gozar os prazeres da vida e especialmente a boa mesa. Conheci-o como: alguém nada comprometido com os bens materiais, onde para ele pagar dez ou vinte contos por uma refeição, era-lhe indiferente. Desde que lhe desse prazer, ….. O dinheiro pouco lhe interessava. Também o conheci como um «passeante da noite» onde levava as noites nas cavaqueiras com este ou aquele e na casa de quem soubesse falar com ele e o compreendesse.
É esta a imagem que tenho de Zeca Pinhão.
Nunca o conheci a trabalhar mas sim a “meter a mão” na gaveta da “caixa registadora” da sua loja de onde retirava dinheiro para os prazeres da vida, não dando cavaco a quem quer que seja do que tinha feito e para que se destinava.
Adorava ir passar as noites a Lisboa com o seu condutor privado (Rui Avelino) onde saboreava a noite lisboeta depois de um bom jantar na casa de políticos influentes ou no “Gambrinus”.
Tinha um lado bom e sabia reconhecer os seus verdadeiros amigos. Na altura do Natal comprava as melhores e mais caras bebidas espirituosas para oferecer aos amigos com influência no poder e na sociedade. O seu empregado (Rui Avelino) era o seu condutor privado. Os dois juntos corriam Lisboa inteira para entregar as suas lembranças de Natal. A família Soares estava na lista, Almeida Santos, Dr. Coutinho e outros nomes influentes e concedidos eram outros privilegiados.
A titulo de curiosidade e para quem não saiba ( conforme se prova nos imensos comentários publicados neste jornal) quando do funeral deste alpiarcense, a presença de Mário Soares e restantes família como os mais conhecidos políticos da altura, estiveram presentes no funeral de Zeca Pinhão.
Como informação destacada, ainda hoje quando os “Soares” visitam Alpiarça, é obrigatório uma visita à campa do “Zeca”.
Mas também sei que após o “25 de Abril” o Zeca Pinhão se tornou um fanático pelo “Partido Socialista” ao ponto de quem precisasse dos seus favores só os disponibilizava se quem necessitava assinasse uma “ficha de militante” para com o “Partido Socialista” e lhe entregasse devidamente preenchida e assinada como efectuasse o pagamento anual das respectivas quotas.
Também sei que o seu grande desgosto após o “25 de Abril” foi quando Vasco Gonçalves nacionalizou a Banca e Seguros, porque Zeca Pinhão tinha na altura milhares de contos investidos em acções. Quando da nacionalização todo o património que tinha foi por água abaixo. De tal forma que palavras como “Vasco Gonçalves, “Otelo Saraiva de Carvalho”, “Comunistas” “UDP’s” eram proibidos de falar na sua presença. Voltava as costas a quem falava nestes nomes para se encostar a um dos pilares da entrada da igreja, fumando cigarros em cima de cigarros. Vi-o muitas vezes a acender um cigarro com aquele que estava a chegar ao fim.
Mas também sei que para muitos alpiarcenses, “Zeca Pinhão” sempre foi um “parasita da sociedade”.
Se não fosse seu irmão Alcides Pinhão a gerir a firma “Pinhão e Pinhão, Lda.” e seu pai e mãe (proprietários da “Pensão Renatão”) a dar-lhe “comer e roupa lavada” Zeca Pinhão estava lixado.
A “Pinhão & Pinhão” era uma das mais avançadas para a época. De tudo um pouco comercializava - roupas, sapatos, chapéus, entregas ao domicilio, tecidos ao metro, seguros, correspondente bancário, agente da famosa marca de motorizadas “Vespa” ( chegou a ser o maior vendedor a nível nacional destas scooters, tendo ganhado gratuitamente algumas viagens a Itália por tanto vender), distribuidor do “BP “gás”, comissionistas de vinhos e de outras tantas coisas que era preciso escrever um livro para descriminar aquilo que os “Pinhões” comercializavam.
Os seus empregados, que vinham das pequenas aldeias trabalhar para a firma começavam quase todos a sua actividade na “Pensão Renatão” seguindo depois de “apurados" para o mais diverso comércio dos “Pinhões”.
Muitos destes “aprendizes” cresceram e fizeram-se homens. Quase todos ficaram em Alpiarça como aqui constituíram família e onde continuam a viver os seus filhos. “Rapazes” estes que todos conhecemos e sabemos quem são ser pessoas honradas.
Mas também sabemos que Zeca Pinhão pouco ou nada fez por Alpiarça.
Zeca Pinhão foi um homem polémico, introvertido e muito controverso enquanto vivo.
Por ironia do destino continua a sê-lo como se pode ler pelo que tem sido publicado neste jornal.
Por: Alfredo
3 comentários:
Alfredo esqueceu-se da grande loja de electrodomésticos porém conta-nos aqui o que de facto foi o Zeca Pinhão para os que têm hoje 50/55 anos e para os mais antigos?
Não há ninguém que nos levante o véu?
Pouco tempo antes de falecer ouvi Joaquim Alcobia Matias (1.º presidente da câmara eleito democraticamente) a comentar que o Zeca Pinhão tinha sido uma peça importante na luta travada entre a viúva de José Relvas e a Câmara Municipal pela disputa da herança legada ao município.
Conta-se que a viúva de Relvas teria um amante de seu nome Joli e que ambos quase que ganharam a causa a favor da viúva. Outros afirmam que na altura foram «desviadas» imensas obras de arte como quadros e outras coisas mais...
Quem nos conta algo mais?
Mexam esses neurónios!
http://www.99polls.com/profile_131937
Aqui temos mais um excelente post que desenvolve alguns aspectos a que eu chamaria "subsídios" para a verdade histórica, desta figura carismática e ao mesmo tempo polémica que foi o cidadão Zeca Pinhão.
Temos a agradecer a todos aqueles que aqui trouxeram e, pretendam ainda trazer, os seus testemunhos que enriquecerão, sem sombra de dúvida, a biografia real deste Alpiarcense, cujo nome foi perpetuado numa praceta polémica que faz inteiramente jus ao nomeado, por razões óbvias.
Uma biografia séria de alguém, não é apenas falar das partes que abonam o biografado.
Uma biografia séria, é apontar a verdade. As suas virtudes e os seus defeitos.
É essa ajuda que pretendemos dar a quem, no futuro, queira escrever a verdadeira história de vida deste Ilustre Alpiarcense.
O Virtual
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