GUIÃO PARA UMA OUTRA NOVELA

Numa manhã de Agosto pela fresquinha, um grupo de trabalhadores de uma empresa de publicidade começa a concentrar-se no Largo d’ Os Águias.

Um, dois, três…doze!Colocam resguardos no chão e vá de começar abrir buracos na parede.Um a um, vão chegando os mirones.

Aquilo será para quê?

Vão deitar a casa abaixo?

Isto é que deve ser ganhar bom dinheiro, a trabalhar ao fim de semana e esta hora…Conversa puxa conversa, até que chega um conhecido comentador da terra, célebre por dizer alto e bom som “estes gajos deviam era andar a vergar a mola”, mas que vive de expedientes e negociatas, sim eles é que deviam trabalhar, ele não…

O dito cujo, do alto da sua sapiência afirmou: Então vocês não estão a ver que aquilo trás água no bico.

Vê-se logo que é um placard de propaganda!

Chama-se outdoor e custa perto de 300 contos, fora o cartaz e a respectiva colagem!

Disso percebo eu!

Mas havia qualquer coisa que não batia certo.

As pessoas que ali estavam afinal eram todas conhecidas e que se saiba não trabalham para nenhuma empresa de publicidade.

O Chico-esperto volta a atacar.

Quem lhes disse a vocês que estes homens ao fim de semana não fazem uns biscates?

Hum, não acredito.

Abertos os buracos, vem uma viatura com uma estrutura em cima que o grupo de homens, entretanto apoiados no andaime, começa a elevar…

Afinal a casa não vai ser deitada abaixo.

Os gajos vão fazer uma marquise naquele sítio?

Vê-se logo que esta gente não é do ofício.

Marquise?

Então não é bom de se ver que aquilo é um estendal de roupa?

A multidão não pára de aumentar.

Uns vão-se concentrando em pequenos grupos e trocam opiniões entre si. No grupo mais numeroso, onde se inclui o tal que já compra tudo feito e tem escritório no Largo dos Águias, organiza-se uma rede de apostas.

Cinco aérios a cada um.

Recolhidas as apostas, era preciso alguém ir perguntar aos homens o que estavam a fazer e tirar as dúvidas de uma vez por todas.

Agora é que a porca torce o rabo.

Vais tu que és mais novo, não vai tu que és o mais velho, era o que faltava, eu não dou confiança a estes gajos, vai lá tu se quiseres!

Tá bem, eu vou.

Tarde demais.

Os homens entretanto foram-se embora.

Tás a ver esta malta não está a ganhar à hora.

Tá bem tá.

Se fosse à hora isto durava até ás três da tarde…

Como manda a tradição, a notícia foi-se espalhando.

E como quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre mais um ponto…

Então não queres saber o que eu acabei de ver ali nos Águias?

Estava um grupo de homens nos Águias a abrir buracos na parede do … e não é que desata a deitar um liquido esquisito da parede?

Um deles estava fumar, aproxima-se a aquilo começa a arder tudo!

O quê?

Há petróleo no Largo dos Águias?

Nisto, vinha a passar o mete nojo, para os amigos o Mè-Jó, que, sem que os outros se apercebam, ouve a conversa e, num repente vai a casa buscar a bicicleta e trás um garrafão, já a pensar no passeio que irá dar com a sua Alzira, também conhecida por Alzi- Mé -Jó, direito á Foz do Arelho…com gasolina á borla.

Chegou ao local a para seu espanto, não escorria nada dos buracos que entretanto até já estavam tapados.

Isto foi obra do Alminha.

Pudera, com gasolina à borla, o homem ficava sem negócio.

Passaram-se os dias e as versões sobre o sucedido também se iam sucedendo.

Conversa puxa conversa e o assunto chega ao Pau de Canela (para aqueles que não conheçam bem a nossa terra, o Pau de Canela é assim uma espécie de esplanada dos Águias, só que mais fino).

Ó tia Jó-Jó não diga nada a ninguém, mas aconteceu uma coisa muito estranha ali daquele lado (elas têm dificuldade em pronunciar o termo Águias.

Não é que tenham alguma coisa contra, mas dali daquele lado ás vezes junta-se povo…).

Andavam ali a perfurar aquela parede para instalar um aparelho de aloiramento (é uma nova tecnologia de coloração capilar, descoberta nos EUA mas entretanto vendida ao preço da uva mijona pelos chineses.

Trata-se de uma sofisticada tecnologia que torna as louras ainda mais louras, as que não são louras em louras iguais ás outras, só que sem bigode…) e passa um rapaz, não tinha mais de 12 anos, numa bicicleta e, zás, atira uma pedra contra o vidro que os homens estavam a colocar…tás a ver aquele quadro ali que até parece uma moldura?

Aquilo era para suportar o vidro… agora isto vai demorar uns dias, talvez semanas, a vir o vidro da China.

Só que a coisa pode dar problema.

Também montaram um aparelho destes em Almeirim (sim, em Almeirim chega sempre tudo primeiro que a Alpiarça…), veio uma rabanada de vento, caiu uma árvore e o vidro também se partiu.

Só que o vidro que os chineses mandaram não era tão bom como o original.

O aparelho aloirar, aloirava, só que fazia estalar o verniz das unhas.

Uma pessoa ficava com as unhas numa lástima, até parecia que tinha a andado a lavar a louça!

Na mesa do lado, como quem não quer a coisa, Micas Patacão, para os amigos a Mi-Pá-Tá, muda a cadeira de posição e ainda conseguiu ouvir parte da conversa:

O Quê?

Vão instalar uma máquina de lavar louça que até arranja as unhas?

Hum… deve ser só para quem é sócio dos Águias…

Será que têm licença?

Não me digas que puseram lá aquilo e não disseram nada ao homem?

Grande bronca!

Isto há gente para tudo.

Mas que grande falta de respeito.

Pensam que aquilo é deles ou quê?

O assunto assumiu tamanha dimensão que o empreiteiro encarregue da obra provocou a falência da empresa, foi de férias para o Algarve (estava previsto ir para o México mas esta epidemia da gripe H não sei quantos obrigou-o a tomar precauções e ficar pelos ALL Garves) e quando voltar vai abrir uma nova empresa mas com maquinaria diferente.

Os vidros passarão a vir directamente da feira de Carcavelos.

São de marca e ficam muito mais baratos.

E desta forma, a obra ficou por acabar.

Andavam por ali umas pessoas estranhas (daquelas que comiam criancinhas e davam uma injecção atrás da orelha aos velhos e que tinham uma lista de pessoas a abater para depois confeccionarem a carne no pavilhão do p) a mirar aquela obra inacabada…

E se nós aproveitássemos esta moldura e fôssemos lá por um cartaz da CDU?

É pá nem sabes o que me aconteceu!

Táva nos Águias e ouvi uma conversa que me deixou de boca aberta:

Os comunistas estão a pensar enforcar umas pessoas na moldura que está lá na parede…

Hé!

Não pode ser!

Pode, pode.

Só ainda não começaram porque têm receio que a moldura não aguente o peso dos corpos e comece a dar de si.

Numa bela noite, aproxima-se do local uma camioneta de cor creme (de modelo parecido com aquela que anda a tirar placards da CDU, só que essa é branca…), voltam os andaimes e começa a chegar gente.

São ainda mais do que aqueles do tal domingo.

De repente, ouve-se um clarão (os clarões não se ouvem, vêem-se…mas a imaginação não tem limites…) e, eis que surge, enrolada num manto branco uma… lona.Uma lona?

Já sei, é para eles porem no chão para não deixarem marcas de sangue dos enforcados.

Começam a desenrolar a lona que trazia umas fotos…

Já sei

São as fotos dos gajos que eles vão enforcar!

, começam a subir pessoas para o andaime e a puxar a lona…

Olha são as fotografias dos candidatos da CDU!

Eu não te disse?

Passa para cá o dinheirinho da aposta que a vida custa a todos.

Escusado será dizer que o Pau de Canela estava a transbordar e a disputa pelos melhores lugares ia dando chatice.

Não deu chatice mas arranjou problemas de saúde.

Que o diga Milu Lufa-Lufa que, de tanto se torcer para apanhar o melhor ângulo, ficou com um torcicolo.

Nada que não se resolva.

Amanhã ás 5 da manhã vou ao centro de saúde e arranjo uma consulta (ai…já meti água.Não se pode falar disto!Peço desculpa).

Os mais afoitos, incluindo alguns casais que tinham jurado a pés juntos que nunca mais iam aos Águias, naquela noite abriram uma excepção e lá foram beber um cafezinho, que assim sempre passavam mais despercebidos…

De então para cá, as noites da Alpiarça passaram a ficar marcadas pelos passeios a pé, a cavalo, de bicicleta, de casais acompanhados ou não pelos filhos.

A CDU não perdeu tempo e vá de tirar partido da situação.

Por baixo do placard colocaram um mealheiro para donativos

.

O Chico – Esperto não meteu férias e continua a dominar as discussões.

Eu não lhes disse?

Gastaram aqui uma fortuna!

Ó Chico olha que aquilo foi trabalho voluntário.

Mão-de-obra, material…

Tá bem tá. Eu sei do que falo.

Aquilo veio tudo da China só que eles tiveram um problema…

Conta, Conta!

A lona que veio da China trazia as fotografias todas com os olhos em bico e os gajos tiveram que mandar fazer outra na Feira de Carcavelos.

Isto um dia tem que ser denunciado!

«Por: Alberto Maravilha».