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sábado, 1 de agosto de 2009

Esta nossa vida é uma miséria franciscana

A vida não está fácil para quem produz as frutas de Verão. Os melões, as meloas e as melancias não estão a fazer sorrir os produtores que fazem cada vez mais contas à vida, sem encontrar soluções. Mário Pereira, candidato pela CDU à Câmara Municipal de Alpiarça e António Filipe, candidato pela Coligação à Assembleia da República estiveram à tarde de sexta-feira, dia 17 de Julho para conversar com os produtores e perceber as suas proecupações.

Ao longo de mais de duas horas, os candidatos e a sua comitiva pararam junto de cada reboque, cumprimentaram cada um dos produtores e ouviram de cada um as mesmas lamentações: «este ano, estamos muito mal, vendemos pouco e barato!» Em poucas palavras, o agricultor alpiarcense Américo Moreira disse quase tudo:«A cada ano que passa, é mais difícil vender estas frutas. Este ano quando os nossos melões e melancias começaram a sair já o mercado estava saturado ou apalavrado com os produtos vindos de Espanha.

É dificil competir assim, partimos logo em atraso». Para além das dificuldades de escoamento, o estrangulamento dos preços e a ausência de regras mais rígidas nesta matéria é uma outra queixa comum:« a melancia está a ser vendida aqui a 9 cêntimos, nas grandes superfícies é vendida a 29 cêntimos; já o melão está a sair entre os 15 e os 18 cêntimos. A verdade é que estes valores que estamos a ser forçados a fazer na venda ao quilo não faz a cobertura dos custos de produção.»

Sensível a estas dificuldades e consciente da actual situação de desepero dos agricultores, António Filipe verificou in loco uma realidade que embora influenciada pelas adversidades climatéricas é também fruto de adversidades provocadas por decisões governamentais e políticas desenvolvidas por superfíes comerciais mais preocupadas com a guerra de preços do que com a qualidade dos produtos e com o consumidor. «A este passo, num futuro próximo, vamos estar perante uma situação de abandono dos campos sem retorno. Quem vai perder com isso não são só os próprios produtores e as suas famílias que ficam sem negócios e sem formas de subsistência, mas também o país e a economia nacional.»

À passagem da comitiva, alguns dos produtores perguntavam, o que vinham fazer e se podiam ter ainda alguma esperança na agricultura. Visivelmente desmoralizados e desanimados com a actual situação, os produtores entendem que estão a trabalhar horas e horas mas que não vão ver frutos desse trabalho:«este ano trabalhamos para aquecer. Não só não vamos ter lucro como nem sequer vamos conseguir pagar os custos.

Quem tem terra sua ainda é capaz de não ficar endividado agora quem tiver que pagar rendas não vai conseguir sobreviver a este mau ano» lamentou Maria do Céu de 38 anos. E de facto, o deputado António Filipe lamenta que o Governo socialista não apoie o sector primário e a agricultura portuguesa: « Há muita falta de apoio aos agricultores, por exemplo na publicitação dos seus produtos e até no que refere à concessão de créditos para fazer face a custos acrescidos e prejuízos elevados».

A acrescentar ao problema nacional do estrangulamento dos preços e da falta de escoa-mento dos produtos, os produtores alpiarcenses entendem ainda que podiam ter melhores condições de venda no mercado da fruta em Alpiarça bem como algum apoio local da própria autarquia.

Quem o diz é Maria do Céu que gostaria de ter uma casa de banho com condições mínimas ali no Mercado e que existissem contentores de dimensões adequadas para que os agricultores não fizessem da ribeira, depósito de lixo.

Uma outra preocupação que afecta os produtores a nível local é a ausência de segurança nocturna no Mercado: «à noite só temos ma hipótese - levar tudo para casa, ou deixar cá e ficarmos cá de noite com as carradas! Facilmente isto seria resolvido se a autarquia colocasse aqui alguém para fazer vigilância nocturna».

Susana Costa

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta é sem dúvida a nossa vida de miséria franciscana....
Miséria franciscana, principalmente nas ideias.
A culpa não é das pessoas porque não lhes foi dada a possibilidade de evoluírem na sua formação e nas suas capacidades de se adaptarem a um mundo moderno.
Um povo que se conforma apenas com “cama, mesa e roupa lavada” não está preparado para enfrentar os combates do século XXI.
Não basta olhar é, preciso ver mais além.
No que diz respeito á cultura do Melão é preciso alterar a sua estratégia. Abandonar o sistema do "vale tudo" e começarem a criar um produto de qualidade que leve os consumidores a preferirem o Melão em primeiro lugar e as outras frutas depois.
O Melão, quando produzido em qualidade noutros tempos, era procurado por muita gente, inclusive, junto das searas onde o compravam para guardar durante bastante tempo (ás vezes até ao natal), agora só dura pouco mais de uma semana.
A produção de Melão era o sustento de muitas famílias de Alpiarça e poderá voltar a sê-lo se a prioridade voltar a ser a qualidade e não um produto que se prova e deita fora.
Os agricultores se ficarem á espera dos políticos para resolver os seus problemas vão com certeza continuar com eles, porque o problema de fundo não se resolve pela via governamental, mas sim pela alteração de mentalidades.
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"A mente deve ter uma porta de vaivém..."