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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Umas pazes muito estranhas

Eram sete da manhã daquele domingo claro de Junho de 1966. Mário lá estava na esquina combinada. Vasco da Gama Fernandes, que viria mais tarde a ser presidente da Assembleia da República, chegou à hora marcada, com uma pontualidade britânica. Seguiram um velho automóvel, rumo a uma quinta isolada, algures no Ribatejo. Aí, afluíram vários oposicionistas. Idos das várias zonas do país, todos militantes do MDP/CDE, para mais uma reunião clandestina.
Mário sempre fora do contra, esteve ao lado de Humberto Delgado, Henrique Neto e Alberto Costa, nas lutas contra a ditadura.

Incompatibilizou-se, por razões políticas, com o presidente da Câmara da sua terra e cortaram relações. Eram quase da mesma idade e tinham andado juntos na escola primária. A situação manteve-se, assim, por muitos anos.

O autarca foi obrigado a abandonar o lugar no 25 de Abril e substituído por uma Comissão Administrativa. Acusado de ter escondido um oficial contra-revolucionário, foi encarcerado em Caxias.

Mário acabou por se tornar militante socialista e esteve na linha da frente, na luta contra o PREC, num concelho vizinho. Pagou caro por isso. Denunciado por alguns “esquerdistas”, um dia bateram-lhe à porta, já a madrugada ia alta. Veio à janela e viu a tropo armada. Um jovem alferes miliciano apresentou-lhe um mandato de captura emitido pelo COPCOM, um dos famosos assinados em branco.

Preso, foi conduzido à dita cadeia. Ao dirigir-se para a cela que ficava no fim de um longo e semi-escuro corredor, ouviu uma voz que, rapidamente identificou: «Ó Mário, se tu também aqui estás, é porque o comunismo já está implantado em Portugal».

As grades separavam-nos. Contudo, ficou comovido e estendeu a mão ao adversário e, agora, companheiro na reclusão. Não pronunciou qualquer palavra, seguiu em frente acompanhado de um guarda, para o “quarto do hotel de 3 metros por 2”.

O ex-autarca, isolado, sem noticias há mais de um mês, não sabia o que se passava no exterior. Ficou muito surpreendido por ver alia um homem que sempre fora de esquerda (mas da esquerda democrática, digo eu) no mesmo sítio onde ele estava, por sempre ter admirado Marcelo Caetano.

Não fosse esta insólita situação, e estes nossos vizinhos, possivelmente, nunca teriam reatado relações. Umas pazes estranhas, mas bonitas.

João Maurício

1 comentário:

Anónimo disse...

Deixem-se destas m..... lamentáveis!
Façam política a sério. Apresentem argumentos decentes e propostas que interessem ao futuro de Alpiarça.
Ou será que pensam que esse anti-comunismo primário e ofensivo da inteligência das pessoas vai conseguir evitar que a CDU ganhe as eleições?!
Acham que conseguem amedrontar as pessoas com estas bacoradas? Acham que conseguem que as pessoas associem o Mário Fernando, o Carlos Jorge, o Mário Peixinho, a Vera matias, o João Pedro, o Mário Santiago, a Joana Serrano e todos os candidatos da CDU a estas tretas?
Eu sou apoiante da CDU (como se deve facilmente perceber) e até estou a dar-vos um conselho sincero, que vos beneficiará; porque, ao contrário, se continuarem a basear a vossa campanha no anti-comunismo só vão prejudicar o debate democrático, mais nada.
Os alpiarcenses não continuarão vocês a enganar por mais tempo.