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sábado, 8 de agosto de 2009

O canto da sereia

A comissão parlamentar de inquérito ao caso BPN terminou produzindo uma síntese perfeita do que são, a maioria das vezes, os trabalhos dos deputados.
No plenário trocam galhardetes e, de quando em vez, uns insultos. Nas comissões, como a do banco nacionalizado, riem-se a bandeiras despregadas com o principal arguido e terminam a mandar piropos à deputada Sónia Sanfona.
Sónia é uma deputada do PS, alta, loura, bonita. É assim que olham para ela os deputados da Oposição, é assim que a tratam, chamando-lhe sereia e princesa. Ela ri, confortada no seu ego, esquecendo que os mesmos deputados da Oposição a acusam de ter feito um mau relatório do caso BPN.
Está a chegar o Verão e chegará rapidamente o dever de votar para escolhermos quem vai governar o país. Seduzidos pelos cantos de sereia que chegam dos vários partidos, os eleitores escolherão deputados sem cuidar de saber quem eles são, porque é mais importante saber quem eles vão suportar nos gabinetes ministeriais.
Na verdade, é a escolha do próximo Governo e das próximas políticas que importa fazer em primeira instância, mas é em listas de deputados que vamos votar. E porque foi sempre assim, porque vai continuar a ser assim, deveria importar saber quem são os deputados que vamos eleger. Deveríamos saber quem eles representam para lhes poder exigir responsabilidades. Deveríamos ter há muito círculos uninominais, mas não temos.
Temos discursos do Bloco Central a prometer que um dia vai ser assim e dos pequenos partidos preocupados com a proporcionalidade, mas todos estão de acordo que é preciso fazer qualquer coisa para aproximar os eleitos dos eleitores. Fica bem no discurso, mas a prática disfarça mal a falta de vontade.
Acontece também que o velho método aponta agora um futuro de pouca estabilidade. Não sabemos quem vai ganhar as eleições (PS ou PSD), mas sabemos que quem sair vencedor vai ter de encontrar parceiros para governar em coligação porque este método não facilita a criação de maiorias. Mas, isso é outra história!
Vamos continuar a ter deputados que representam muito mais os directórios partidários que os eleitores que votaram neles. Importa é quem os escolhe para pôr na lista e ninguém presta contas ao povo que representam. Quem defende os interesses de Vila Real? E do Algarve, do Porto ou de Aveiro? A política é um mundo de negócios em que os eleitores são o elo mais fraco.
Bem sabemos que o que importa agora discutir é a forma de tirar Portugal da crise. Queremos saber que promessas fazem os partidos, e avaliar a possibilidade de concretização, sobre questões económicas e sociais, mas ainda há espaço na cabeça dos portugueses para avaliar o que têm os partidos a dizer sobre a possibilidade de perderem poder em favor dos deputados que representam os eleitores.
Por: Paulo Baldaia

1 comentário:

Anónimo disse...

Alguém,há já alguns dias,aqui no Jornal Alpiarcense, terá alertado para o tom capcioso do "canto da Sereia".
Outros articulistas, pelos vistos,terão manifestado opinião idêntica.