Desaparecido há 33 anos, Francisco Sá Carneiro é um dos nomes mais evocados na vida política portuguesa. Mas estará o legado do fundador e líder histórico social-democrata ainda no ADN do seu partido? "O PSD de Sá Carneiro está vivo", garantiu Pedro Passos Coelho no dia da tomada de posse do governo. "Comparar os ideais sociais-democratas que estiveram na origem do partido com a filosofia neoliberal que o PSD actualmente professa é uma diferença de 180 graus", contrapõe António Capucho, um próximo de Sá Carneiro que não poupa críticas ao caminho traçado nos últimos anos pelo PSD.
A questão da herança de Sá Carneiro e da sua doutrina não é de resposta única - entre os sociais-democratas alega-se também que nunca o partido esteve tão perto do líder histórico como agora. Hugo Soares, deputado e líder da JSD, defende que os "valores que fizeram a social-democracia de Sá Carneiro são os valores do PSD de hoje. Não há vários PSD".
Na oposição, ou dentro do próprio partido, há quem diga que sim, que há vários PSD's e que o actual está longe do original. Só ao longo deste ano, o fundador e líder histórico do PSD tem sido evocado pelo partido, pelo governo e pela oposição para justificar medidas de austeridade, para contornar crises políticas na coligação e ainda como termo de comparação ao actual primeiro-ministro Pedro Passos Coelho - muitas vezes acusado de se estar a distanciar cada vez mais dos ideais sociais-democratas professados pelo líder histórico. Mário Soares acusou-o mesmo de estar a "trair o pensamento de Sá Carneiro".
Para António Capucho os caminhos percorridos actualmente pelo partido "não têm nada a ver com a génese do PSD". Para o histórico social-democrata a liderança até tem agora "algum pudor" em falar sobre Sá Carneiro, acusando quem o faz de "usurpar a memória" do fundador.
O líder da juventude do PSD não pensa da mesma maneira: "A transformação que o país exige é muito similar com a transformação que Sá Carneiro ambicionava fazer quando foi eleito primeiro-ministro". Também para Carlos Carreiras, social-democrata que preside à Câmara de Cascais, um dos pontos de ligação "forte" entre a actuação do governo e do legado de Sá Carneiro "é a necessidade de fazer reformas no país".
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