O nome de Armando Ferreira é conhecido nos meios artísticos mas não é amplamente divulgado, talvez por gostar de se manter escondido a trabalhar. A sua obra mais famosa é sem dúvida a estátua de José Saramago, inaugurada pelo próprio a 31 de Maio de 2009, na terra onde nasceu, Azinhaga do Ribatejo. Mas aos 59 anos, este artista especializado em figuras tem obra espalhada pelo país. Seja na homenagem nacional feita a Maria Lamas, ou no Passos Manuel que está em Santarém.
Mas é na localidade onde nasceu e vive, Alpiarça (distrito de Santarém) que se encontram muitas das suas obras, algumas delas com grande impacto, como a “Alegoria ao Vinho”, representada por uma mulher nua mesmo em frente à igreja, que causou grande polémica, ou a de um cravo forte depois de ter rasgado o ferro, numa homenagem ao herói de Abril Salgueiro Maia, na praça que tem o seu nome. Sem esquecer a estátuas dos ciclistas, bem no centro da vila.
Armando Ferreira tem um outro projeto, que passa por juntar as suas figuras de gesso num espaço público, onde possa trabalhar ao vivo para que os jovens o vejam e possam aprender. Falta saber se a autarquia de Alpiarça está interessada, porque há outras localidades apostadas em pegar na ideia.
Eusébio vai ter uma estátua gigante
Numa manhã de Maio do ano passado, Armando Ferreira acordou com vontade de realizar um sonho antigo. O escultor começou de imediato a estudar para um dos projetos mais arrojados da sua carreira: homenagear Eusébio da Silva Ferreira.
Alguns meses e esboços depois, apareceu uma maquete em gesso, que demonstra a grandiosidade do conjunto que será de bronze. Eusébio terá 8 a 9 metros de altura, na sua famosa pose de remate, com uma pantera negra a correr ao seu lado, e tudo isto assente numa base circular com 20 metros de diâmetro, que representa a sua fama pelos vários cantos do mundo.
Quem visita o artista em Alpiarça, sejam amigos ou instituições interessadas em apoiar o projeto, não passa indiferente a uma obra que já não está apenas na cabeça do homem que esculpiu José Saramago a ler num banco de jardim, onde o Prémio Nobel convida quem quiser a sentar-se a seu lado na terra onde nasceu, a Azinhaga.
O mestre Armando Ferreira, de 59 anos, é pouco dado a entrevistas ou a fotografias, e gosta de refugiar-se no sujo do gesso do seu atelier, na pacata vila ribatejana onde nasceu. E mesmo tendo transformado Alpiarça na capital da escultura, com várias obras suas espalhadas por todo o lado, não deixa de se manter escondido na sua concha, como gosta de dizer.
Sobre Eusébio, diz ser “uma figura incontornável do país, que precisa de ser homenageado de forma condigna”, e explica: “Se o Marquês do Pombal, que agradou a meia dúzia de pessoas, pode ter uma estátua de 8 metros na principal rotunda de Lisboa, porque é que Eusébio, que fez felizes milhares de famílias portuguesas e agradou a milhões de pessoas por todo o mundo, não pode ter idêntico destaque? Acho que é a da mais elementar justiça que o país o homenageie, ainda por cima quando se comemoram os 50 anos da sua chegada a Portugal”.
Para que uma obra desta grandeza possa avançar, Armando Ferreira precisa de apoios. Tem várias instituições que já lhe garantiram apoio, mas gostava de sentir uma vontade expressa do país, seja ao mais alto nível, seja por intermédio da Câmara Municipal de Lisboa ou por parte do Benfica. E o clube da Luz até já se mostrou naturalmente interessado: “A Câmara de Lisboa e o Eusébio ainda não viram, mas o Benfica já tem conhecimento do projeto e dois dos seus representantes mostraram interesse, mas ainda espero uma resposta do clube, que deveria ser breve. Faz todo o sentido que o clube de sempre do Eusébio esteja de braço dado com isto”. O escultor gostaria de ter o trabalho pronto até ao final do ano e a sua elaboração não lhe levará menos de 8 meses.
Como todos os artistas da sua área, até já tem uma ideia de onde poderia o conjunto ficar instalado: “Ligo esta homenagem a um espaço que diga respeito a tudo e todos. O ideal seria numa daquelas grandes rotundas que ficam próximas do Estádio da Luz, mas também no Parque das Nações ou num outro qualquer espaço digno”.
Além disso, seria cumprir um objetivo de longa data. “O Eusébio e a guerra de África, um pela positiva e a outra pela negativa, foram das coisas mais marcantes da minha vida. Na vida temos momentos para tudo, e achei que agora seria a altura ideal para realizar este sonho. Ele merece mais do que aquela homenagem que lhe fizeram no Coliseu. Tem de ficar para sempre ligado ao país”, revela.
«Record»
2 comentários:
Não devemos esquecer a escultura que está frente ao edifício dos Bombeiros Municipais de Alpiarça que também foi feita por este escultor cá da terra e se me permitem a opinião, esta é certamente a escultura cá da terra que está mais carregada de simbolismo e é o exemplo perfeito de que uma imagem (escultura) não precisa de legendas quando a sua simplicidade e objectividade diz tudo.
Neu
Também não devemos esquecer a Estátua que simboliza o Povo de Alpiarça, que o Movimento Alpiarça é a Razão/ PS nos seus 12 anos de maioria na Autarquia da nossa terra teve (e continua) escondida,
É uma ofensa brutal à memória do nosso povo esconder uma obra que está paga por todos nós, e que esta classe política em nome dos valores de Abril tenha tomado posições como no tempo da ditadura de Salazar.
Não compreendo também todo este silêncio sobre a referida Estátua por parte do novo executivo CDU.
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