Por: Anabela Melão
Parece que iniciámos o ano sem sono. Não porque todos tenhamos marchado em altas festanças de madrugada mas porque, pura e simplesmente, segundo o estudo realizado online pela empresa britânica YouGov junto de 6694 pessoas maiores de 18 anos, em sete países (Reino Unido, França, Alemanha, Portugal, Polónia, República Checa e Hungria), que foi encomendado pelos laboratórios farmacêuticos Lundbeck a fim de perceber o impacto das alterações do sono na Europa. O Público dá conta de que, por causa da crise actual, a pergunta em questão pretendia determinar se a mesma chega para afectar o sono dos inquiridos.
Já sabemos que a depressão aumentou em Portugal e que surge como um dos danos colaterais das condições de incerteza que envolvem a nossa vida, assim como já se sabe que aumentou o número de recaídas de alcoólicos em tratamento e até que aumentou o número de divórcios.
Ninguém fica impávido e sereno a ver o País cortado às fatias, desesperançado, triste e rendido a uma crise que o ultrapassa já que se insere num conjunto de consequências da economia mundial a que nenhum país pôde escapar.
Claro que também podíamos dizer que somos muito dados a este tipo de sucumbência, de nostalgia, sem esquecer que “saudade” é uma palavra sem tradução em nenhuma língua que não a nossa – o que talvez justifique o fenómeno de vermos portugueses com saudades de tempo que em nada nos deveriam deixar qualquer saudade. De facto, o inquérito revela que os portugueses, logo a seguir aos polacos, são os que pior têm dormido nos últimos 12 meses por causa da crise. O que não é de estranhar quando a insegurança atinge os grandes fundamentos estruturais de uma família como pagar a renda ou o empréstimo da casa, o colégio das crianças, a alimentação, os estudos e por aí fora.
Consta que nas consultas de insónia, a crise surge como uma causa recorrente do desassossego dos portugueses. Ora, sabe-se que a falta de sono acumulada se repercute na vida das pessoas e das famílias, exponenciando o risco de outras patologias, como as doenças cardiovasculares, a diminuição do sistema imunitário, a diabetes de tipo 2, etc., e gerando ciclos de irritabilidade, diminuição do desempenho no trabalho, falta de concentração, esquecimento, baixos níveis de energia, cansaço, sonolência durante o dia. A que não se pode esquecer ainda que ultimamente aumentou o número de acidentes pelo facto de as pessoas adormecerem a conduzir aumentando assim também a sinistralidade rodoviária.
Entre as soluções apontadas oiço falar de medicação (6% dos britânicos, 8% dos polacos, 5% dos checos e 7% dos húngaros) aos chás de ervas e medicamentos que não exigem receita (31% dos checos), passando pelo consumo de álcool, em aumento de consumo de bebidas alcoólicas (1 britânico em cada 7 – 14% e 10% dos alemães). 44% dos portugueses declaram que alteraram aspectos do seu estilo de vida para tentar melhorar a qualidade do sono - tal como 46% dos polacos, 36% dos franceses e 50% dos húngaros.
É um estudo publicado pelo Público que dá que pensar. Sem querer enveredar pelos comprimidos ou pelas mézinhas proponho que enchemos o peito de esperança e arregacemos as mangas. Porque enfiar a cabeça na areia só serve mesmo para as avestruzes.
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