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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Os impreparados


 Faz impressão ver o Governo anunciar aumentos de impostos quase todas as semanas. Novas tabelas de IRS. Avaliações de casas a eito para fazer disparar o IMI. O fim de subsídios, associações, fundações (poucas) e outra tralha também. O fim de deduções e benefícios fiscais. Mais privatizações e concessões que desafiam as regras. Faz impressão ver Vítor Gaspar a rapar, a rapar, a rapar tudo o que mexe e ainda respira e depois a corrigir, a emendar, “a mitigar” diz ele, a recuar, a balbuciar estudos, previsões (furadas) e estimativas (furadas) quando chega à Europa rica vindo da Europa pobre. O problema deste Governo começa aí. O problema do país vem de trás, claro, e teve com Sócrates o ponto mais alto da fanfarronice. Mas o problema deste Governo nasceu no dia em ganhou corpo. Passos Coelho chegou ao poder às apalpadelas. Chegou porque já ninguém confiava em Sócrates, não porque ele, Passos, fosse melhor, soubesse mais, tivesse uma ideiazinha qualquer. Passos posicionou-se, foi bem posicionado, só isso; o resto estava colado a cuspo. A escolha de herr Gaspar para o Ministério das Finanças caiu dos céus europeus. Ele seria a estrela que nos indicaria o caminho, garantiria a confiança dos mercados, a bênção de Francoforte. Passos conhecia-o? Tinham estudado a situação do país? Tinham avaliado o programa, as medidas, os efeitos, os riscos? Nada, claro, mas com uma agravante: estamos falidos. Os erros hoje sentem-se logo na pele. Tudo – tudo dói. Passos e Gaspar navegam à vista. Vivem em ajustamento permanente. Ajustam-se às dívidas, ajustam-se às exigências da troika, ajustam-se um ao outro (deixam Portas sozinho), ajustam-se também um pouco à rua -- os portugueses são o único povo do mundo que trata a TSU por tu. A “austeridade expansionista” que nos entala não é apenas um disparate económico, é uma ratoeira mortal que empobrece o país, agrava a dívida do Estado (119% do PIB e a subir), leva as empresas à falência e esmaga as famílias. Pior: reduz a hipóteses de podermos seguir outro caminho.
 Por André Macedo/DV

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