Casimira Alves é uma alpiarcense que há muitos anos canta o fado e que sente um enorme orgulho da sua terra e das suas gentes. Tem sempre na sua face um ‘pingo de lágrima’ porque os seus sentimentos estão envolvidos pela sua alma e na sua entrega quanto canta o fado mas que acima de tudo tem um “coração do tamanho do mundo” para ajudar quem dela precisa.
A “Mirita” como também é conhecida nunca
se esqueceu das suas origens. Recorda com emoção quando “passava a maior parte
do tempo no campo” onde seus pais trabalhavam para depois estar quase trinta
anos na França mas sempre com a esperança de um dia voltar à terra que a viu
nascer para poder cheirar a terra das suas raízes, uma terra que Casimira ama
de “alma e coração” como as suas gentes que tanto a estimam.
É nesta terra que a “Embaixadora” faz
questão de brevemente apresentar o seu “CD” porque o local lhe faz recordar
tempos que já não voltam.
Foi
no Cine-teatro de Alpiarça (hoje ‘Centro Cultural Bruno Ramiro’) quando
tinha os seus 7 anos que cantou pela primeira vez para o público e onde ouviu
os longos aplausos que lhes deixaram profundas marcas e recordações.
Uma mulher sedenta de cantar. Os 28 anos
em que esteve parada a saudade que sentiu de cantar fado devorou-a por dentro e
a sua alma não lhe deu descanso até ao momento que voltou aos palcos e ao calor
de quem a ouve.
O profissionalismo com que Casimira Alves
se dedica ao fado tem contribuído muito para o seu sucesso. Sucesso este que a
emociona e que a leva a entregar-se de corpo e alma para quem a escuta e gosta
de a ouvir. Foi com esta entrega que no passado sábado a Mirita ouviu os
aplausos de milhares de pessoas na ‘Arena de Elvas” depois de estar rodeada de
cavalos e toureiros.
Um sucesso que fez com que já estivesse na
companhia dos maiores nomes do espectáculo e actuasse em vários locais para
além dos 5 espectáculos que já deu na França.
Vamos conhecer e saber um pouco mais de
Casimira Alves:
Passou a sua infância com seus pais na França. Foi lá que descobriu o
“dom” de cantar o fado?
A minha infância foi passada em Alpiarça. A maior
parte do tempo no campo onde os meus pais trabalhavam. Só fui para França aos
13 anos de idade. O "dom"de cantar fado, chegou mais tarde. Na minha infância
gostava-se de “Rock e yé-yé”
Fale-nos um pouco de si.
Que posso dizer que possa
despertar interesse nas pessoas para além do que conhecem e sabem de mim?
Sou eu, a Casimira, com várias facetas mas só uma, a minha
Há quem diga que “cantar o fado” não se aprende, nasce com a
pessoa. É verdade?
Eu também creio que o fado
nasce quando nasce uma pessoa (já diz o fado). Por muito que haja escolas de
fado eu continuo a crer que dessas escolas saiem alguns bons cantores de fado.
Ser fadista é expressar em canto o que nos vai na alma...
Há quanto tempo canta a Casimira?
Comecei a cantar com 7 anos. Cantei até aos 13 anos. Durante esses
curtos anos tive a oportunidade de representar Alpiarça e o distrito de Santarém no primeiro Festival da Canção
Infantil (1972) no Palácio de Cristal do Porto. Depois tudo parou durante 28 longos anos. Quando regressei a Portugal, em 2003, estava sedenta e fui
assistir a uma noite de fados que por boa ventura era uma eliminatória do
concurso "à procura da voz para
o fado" (projecto ‘Arribatejo’) que decorria no Café Central na Golegã. Nessa
noite a minha prima inscreveu-me para a eliminatória do mês seguinte. Fiquei apurada para a semi-final e
depois de mesmo para a final. Desde então não parei.
Onde foi a sua
estreia?
Estreei a cantar aos 7 anos em
Alpiarça no Cine – Teatro que hoje, é o Centro Cultural Bruno Ramiro e é por
esta razão que farei a apresentação do meu CD neste sítio (místico) que tanto
me diz, de uma maneira mais intimista.
É verdade que a vida de fadista é a boémia?
Não acho que a vida de
fadista seja boémia. Era, sim, no tempo da Severa e do conde de Vimioso. Contudo
temos de gostar muito para continuar pois o nosso sistema nem sempre dá para
viver desta profissão tão portuguesa e nobre
Tem sido acarinhada pelo povo alpiarcense onde a Casimira tanto
tem cantado?
Sim muito acarinhada e é sempre
com grande emoção e prazer que canto na nossa terra.
Sabemos que está “magoada” com alguma pessoas de Alpiarça, quer
falar sobre isto?
É preferível não falar. As
coisas menos boas da nossa existência temos de esquecê-las. Só temos de
continuar a ser nós mesmos. Vincar a nossa maneira de estar na vida, se achamos
que é a melhor ou que não estamos errados.
Quantos CD’s já vendeu?
Já foram vendidos 1250
CD's
O que o fado significa na sua vida?
Significa muito mais do que
possa ou saiba expressá-lo. Nos momentos sombrios da minha vida "ele"
está presente e solta-me a "alma". Não sei bem como expressar o que
sinto quando canto mas há um velho ditado:"quem canta, seu mal
espanta"...
Fadistas famosos com quem já cantou?
Tive a felicidade e
certamente o privilégio de partilhar o palco com grandes nomes seja em espectáculos
ou noites de fado.
José Cid que me deu alento desde
a minha primeira actuação onde participava como júri da noite e que me tem
convidado a participar em vários espectáculos (foi um grande privilégio).
Depois o D. Vicente da Câmara (grande Senhor) João Ferreira Rosa, Lenita
Gentil, Teresa Tapadas, Marco Rodrigues, Diamantina, António Pinto Basto, Anita
Guerreiro entre outros.
Em que espectáculos que já
participou?
Grande Gala do Fado de
Lisboa (2º lugar); 5 espectáculos com José Cid (T. Novas, Constância, Cartaxo, Santarém,
Aveiro); 5 espectáculos em França (La
Bresse, Le Moulins de Brainans, Oyonnax, Castre,
Lons-le-Saunier); Alpiarça -Festival do melão 2010 e 2011, Alpiagra 2010 e 2011;
AgroVouga-Aveiro e este ultimo sábado em Elvas
Se alguém ou alguma entidade a quiser contratar entra em contacto
consigo ou tem algum agente?
Deve contactar comigo
directamente é mais simples. Ter ‘agente’ seria bom se este se empenhasse em
fazer o trabalho de ‘agente’ mas mais não digo (risos)
O que mudou no Fado,
na última década?
Só mudou o olhar dos portugueses, só isso porque alem fronteiras o fado
sempre foi respeitado e amado.
Existe
um público particular para o fado?
Um publico para o fado?....
Não consigo responder claramente à sua pergunta porque por vezes algumas pessoas
dizem: "eu venho aqui esta noite mas não é que seja apreciador (a) de
fado..." mas depois do espectáculo vêem dar-me os parabéns e dizem
"convenceu-me, adorei etc..." isto acontece com todos os fadistas.
A partir daquele momento onde a
pessoa sente a emoção que o fadista lhe transmitiu (Casimira arrepiou-se por causa
da emoção) essa pessoa passa a ser também fadista.
Na sua opinião, qual a principal
característica de um fadista?
Sensibilidade e paixão
Esse “pingo de lágrima” que lhe corre com frequência pela sua face de
onde ele vem: das profundezas da sua alma ou da essência dos seus sentimentos?
Provavelmente dos dois ou seja
da essência dos sentimentos que se encontram nas profundezas da alma.
Quer dizer alguma coisa aos leitores?
Obrigada por lerem até ao
fim as minhas palavras. Não consegui responder com menos palavras e Deus sabe
que tentei "encurtar" as respostas. Um bem-haja a todos.
António
Centeio
Fotos do álbum de Casimira Alves e Vitor Lopes
1 comentário:
Aqui está uma grande mulher e uma grande fadista digna de embaixadora de Alpiarça. Se a admirava com esta entrevista ainda fico a admirá-la mais.
Parabéns Mirita
LA
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