O ministro das finanças alemão, Wolfgang
Schäuble, defendeu esta semana que os orçamentos nacionais possam ser
vetados pelo comissário europeu dos Assuntos Financeiros. Ou seja, o
ministro alemão defende que alguém não eleito se possa sobrepor aos
representantes eleitos de um povo. E que seja ele a decidir o mais
importante instrumento político de um País, decidindo, independentemente
da vontade dos cidadãos, o que será feito com o seu dinheiro. E isto
num momento em que vários países assistem a um autêntico assalto fiscal.
"No
taxation without representation", foi o mote para o que viria a ser a
revolução americana. O que Schäuble propõe, e é coerente com o que a
Alemanha tem defendido, é um golpe de Estado contra as democracias,
criando uma junta de tecnocratas que retira à democracia representativa
uma das suas principais funções: determinar o que se faz com os recursos
de uma comunidade. Não há duas formas de dizer isto: o poder alemão
quer destruir as bases fundamentais das democracias europeias. Em vez do
federalismo democrático, em vez dos eurobounds e de uma integração
cambial e financeira com pés e cabeça, defende uma ditadura orçamental
que torne os cidadãos europeus em súbditos. Em contribuintes sem o
direito de decidir o que fazer com os seus impostos.
A posição
alemã, ao contrário do que aconselham todas as evidências, continua a
apostar na redução da dívida dos países europeus (muito inferior à de
grande parte dos grandes blocos económicos), e não no crescimento. E nem
a probabilidade de rebentar com a Grécia, fazendo, mais uma vez, cair
ali a primeira peça do dominó europeu, travará Merkel e o seu ministro.
Recusam um prazo suplementar para os gregos, proposto pelo FMI. A
Alemanha aposta no seu crescimento económico à custa de uma hecatombe
económica da Europa (aposta que, como no passado, lhes sairá cara) e não
está disposta a parar perante nenhum obstáculo. Nem perante as regras
da democracia.
Não se trata de nenhuma posição anti-allemã. É
apenas uma constatação de facto: a Alemanha, que já foi um dos
principais motores da construção europeia, é hoje a principal inimiga da
Uniãõ Europeia. E nas suas cada vez mais indisfarçáveis tentações
imperais põem em risco as democracias dos países europeus, o euro, a
União e, com tudo isto, sessenta anos de paz. Travar a cegueira alemã é
obrigação de todos europeístas e democratas, na Alemanha e em toda a
Europa. Antes que seja tarde.
Fonte:Expresso
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