Segurança Social em risco se "desemprego a 13% durar sete anos"
Um dos autores de um documento que analisou a Segurança Social portuguesa na década de 90 alerta para uma das consequências da taxa de desemprego actual. Diz ainda que se perdeu o "timing" para fazer as mudanças certas no sistema.
O "pai" do livro branco da Segurança Social alerta que o sistema pode entrar em colapso se a taxa de desemprego continuar aos níveis actuais até sensivelmente 2020.
"O que vai liquidar rapidamente a sustentabilidade e a liquidez da Segurança Social é os próximos cinco, seis, sete anos com este desemprego ingerível a 12,5% ou 13%”, refere Carlos Pereira da Silva, em declarações à Renascença.
O também professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) garante que alertou para os perigos de colapso do sistema na altura em que o Governo liderado por José Sócrates introduziu o factor de sustentabilidade.
"Desde 2005, quando foi feita esta reforma, eu manifestei-me sempre céptico, porque todos os pressupostos em que se baseava a sustentabilidade tinham como hipótese básica o crescimento da economia de 2% e um desemprego na ordem dos 5,5%.”
Tempo para fazer certas mudanças já passou
Carlos Pereira da Silva elogia o esquema sueco, que, nos anos 90, transitou para um modelo em que é feita uma distinção entre as várias contribuições que patrões e trabalhadores fazem.
“Cerca 16% do salário é descontado para uma conta do Estado, que vai financiar a pensão de velhice”, explica à Renascença o professor do ISEG, acrescentando que essa conta “tem um rendimento de acordo com a produtividade da economia”.
“À idade da reforma, as pessoas convertem esse capital que lá têm, numa pensão que tem em linha de conta a esperança de vida para além da idade da reforma”, conclui.
O modelo sueco é elogiado, mas Carlos Pereira da Silva considera que já não pode ser aplicado aqui em Portugal. “O tempo em que nós poderíamos fazer certas mudanças teria sido há 15 anos”, lamenta.
Quando questionado sobre os motivos pelos quais não foram feitas as mudanças, o "pai" do livro branco da Segurança Social olha para os responsáveis políticos. Não os acusa de negligência, nem de falta de senso, mas deixa entender que quem o ouviu não teve real noção das suas previsões.
“As pessoas candidataram-se a cargos políticos para dar boas notícias, numa altura em que não havia problemas de endividamento e que a economia crescia de forma razoável”, lamenta.
O professor do ISEG é considerado o “pai” do livro branco da Segurança Social, um documento que fez uma análise à Segurança Social portuguesa nos anos 90
Sem comentários:
Enviar um comentário