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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

EDP, o verdadeiro escândalo



Escândalo é uma palavra sobre-usada na comunicação social. Primeiro, ocorrências diárias não podem ser consideradas escandalosas, uma vez que perderam o carácter de excepção que faz parte da definição de escândalo; segundo, já não há nada que possa escandalizar uma opinião pública que leva com o chicote todos os dias.
Isto, a propósito do “escândalo” de ontem, que foi a nomeação de meia dúzia de cabeças do PSD e PP para os suculentos cargos no Conselho Geral de Supervisão da EDP, por causa da recomposição do órgão para acomodar o novo sócio chinês.
Mas as nomeações não têm nada de trepidante. Os anteriores conselheiros tinham sido nomeados pelo PS, na altura no poder. Catroga, agora conselheiro-mor, até já era conselheiro. Que hoje, em ciclo de uma nova maioria, sejam escolhidos os preferidos dos dois partidos no poder, não é nada de inusitado. Até se compreende. Catroga, por exemplo, está a ser pago pelo trabalho que teve a fazer o programa eleitoral do PSD.
Verdadeiramente escandaloso é a existência do Conselho Geral de Supervisão.
Trata-se de um órgão da chamada “gestão bícefala”, uma invenção dos tempos de Guterres que tem como único objectivo criar tachos para os boys. O CSG tem funções semelhantes aos antigos conselhos fiscais das sociedades anónimas, mais a função magna de decidir os salários e bónus do Conselho de Administração executivo – as sete pessoas que realmente dirigem a EDP, Mexia à cabeça.
A diferença é o tamanho – são vinte e três lugares, para um órgão que, verdadeiramente, nada tem a decidir, ou toma decisões uma vez por ano – e os custos: o CGS implica instalações luxuosas no centro de Lisboa, carros com motorista, secretarias e (calculamos) cartões de crédito para despesas, viagens e demais floreados devidos a quem está por cima na pirâmide social.
Até agora, o CGS era dirigido por António de Almeira, socialista, amigo de Almeida Santos e inimigo de Mexia. A sua função, paga a peso de ouro, consistia basicamente em chatear o CEO do EDP, validando ou não (a título consultivo) as decisões de gestão.
Existindo o Conselho Geral de Supervisão, um órgão inventado para 23 criar tachos, não pode surpreender que os tachos sejam preenchidos.
Se pode haver outro escândalo que surpreenda, é como a população aceita pacificamente que a roubem (o CSG é pago, em última análise, pelos consumidores) e ainda por cima o façam abertamente, na cara de toda a gente.
Pois é este o charme da liberdade de opinião: pode-se reclamar à vontade, que ninguém vai preso. Mas não serve para nada.

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