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domingo, 9 de janeiro de 2011

Mariquização: um problema da sociedade contemporânea

Para os jovens actuais, os polícias são agentes do CSI. Gastam dez minutos a recolher pelos com uma pinça, passam horas numa espécie de esquadra irrepreensivelmente limpa a espreitar organismos num microscópio. Ao contrário dos polícias do nosso tempo, nunca apalpam as familiares das vítimas, que o regulamento não deixa
Que jovens está a nossa sociedade a formar? Se tudo correr bem, jovens responsáveis e aplicados, na medida em que serão eles que, dentro de 20 ou 30 anos, estarão a trabalhar para pagar as pensões de reforma à minha geração. Mas, e embora seja conveniente que venham a ser adultos dóceis, para trabalharem o mais possível sem protestar, haverá mesmo necessidade de lhes incutir aquilo que só pode ser designado por mariquice? Um cidadão consciente deve distinguir bem um homossexual (e a sua justa luta por direitos iguais) de um mariquinhas (que não merece respeito nenhum). São duas realidades muito diferentes, que não devem ser confundidas. Avanço com o meu próprio exemplo: não sou homossexual, mas dou por mim muitas vezes a ser um mariquinhas. Consigo, ainda assim, diagnosticar, na nossa sociedade, um excesso preocupante de mariquice.
Quando eu era jovem (que diabo, não foi assim há tanto tempo), a televisão transmitia uma imagem da polícia segundo a qual os agentes da autoridade eram brutos afáveis - mas bastante mais brutos do que afáveis. O Kojak dava uns tabefes aos bandidos, o Zé Gato até com os colegas armava zaragatas e havia um senhor guarda n' A Balada de Hill Street que mordia. Hoje, essa imagem sofreu uma alteração grotesca. Para os jovens atuais, os polícias são agentes do CSI. O leitor já terá visto a série: os agentes gastam dez minutos de episódio a recolher pelos com uma pinça, passam horas numa espécie de esquadra irrepreensivelmente limpa a espreitar organismos num microscópio, levam uma tarde inteira a esfregar cotonetes em manchinhas de sémen que brilham no escuro.
Ao contrário dos polícias do nosso tempo, nunca apalpam as familiares das vítimas, que o regulamento não deixa. Têm conhecimentos de psicologia, física, química, botânica, biologia e anatomia. Designam os pássaros pelo nome científico, em latim. São uma espécie de superchoninhas. Enquanto os jovens de hoje acompanham com interesse as conversas sobre ADN e células epiteliais, o leitor e eu estamos a contorcer-nos no sofá à espera que um daqueles agentes dispa a bata e dê um tiro em alguém, nem que seja no médico legista.
A única altura em que os polícias do CSI seviciam uma testemunha para obter informação é quando dissecam um escaravelho qualquer que estava entretido a debicar um cadáver. Se disparam uma arma é sob condições de absoluta segurança, dentro de uma câmara insonorizada, para não aleijar os ouvidos, e só para investigar se o disparo provoca na bala determinados risquinhos iguais aos de outras balas. O mariquinhas clássico não pode ver sangue; estes não podem fazer sangue.
Tenho quase a certeza de que os saudosos bandidos de antanho não tinham epiteliais. É até duvidoso que tivessem ADN - e, se tinham, era um tipo de ADN que se recusava a fornecer informações à polícia, como é do mais elementar bom senso. O mundo precisa urgentemente de voltar a ter delinquentes mais espertos e polícias mais burros.
«Ricardo Araújo Pereira/Visão«

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