“Se isto continua assim, visto um oleado e vou pedir trabalho ao empreiteiro que anda aqui a fazer as obras”, desabafa ao nosso jornal Maria José Cantarrilha, proprietária do restaurante “Tapadão”, na Tapada.A pequena aldeia sobrevive praticamente do movimento de quem atravessa a ponte D. Luís I, entre os concelho de Almeirim e Santarém, e ficou praticamente “estrangulada” desde o seu encerramento a 20 de Dezembro passado.“Eu servia uma média de 17 refeições por dia. Hoje, sirvo zero. Como é que eu vou manter as portas abertas, pagar as minhas contas e o salário dos empregados?”, interroga-se a dona do restaurante.
Poucos metros mais à frente, a situação é idêntica no salão de cabeleireiro de Natércia Ramos.
“Muitas das minhas clientes são de Santarém, e algumas até vinham duas vezes por semana. Com a ponte encerrada, é óbvio que não querem ir dar a volta” pela ponte Salgueiro Maia, explica a cabeleireira, acrescentando que o seu negócio não sobrevive apenas com a pouca clientela local.
“O meu medo é que se acostumem a ir a outros salões”, adianta Natércia Ramos.
O cenário é igual para o restante pequeno comércio da aldeia, que está bastante descontente com o encerramento da ponte.
“Para colocar um tapete de alcatrão e iluminação, não era preciso cortar o trânsito, bastava que a circulação fosse feita de forma alternada”, avançou ao nosso jornal um morador.
De uma forma geral, os residentes queixam-se de falta de informação sobre os motivos que levaram a Estradas de Portugal a decretar a interrupção da circulação automóvel por um período de três meses, e estão desconfiados que os trabalhos vão estender-se além do tempo previsto.
Até porque a placa colocada mesmo à entrada do local de obra é explícita: “prazo de execução: 6 meses”.
Recorde-se que a ponte D. Luís foi alvo de uma intervenção de fundo há dois anos, concluída em Maio de 2008.
Em tempos de crise, os residentes na Tapada fazem contas ao combustível que se gasta a mais para dar a volta pela ponte Salgueiro Maia.
“Antes, 30 euros por mês chegavam para o meu marido ir trabalhar. Agora, são 70 ou 80, o que já pesa bastante”, explica uma moradora.
Em relação aos transportes públicos, a população elogia a boa vontade e a disponibilidade da Rodoviária do Tejo para minorar os incómodos, mas criticam o facto de não existirem ligações directas a Santarém.
Os autocarros vêm à Tapada e deixam os passageiros em Almeirim, onde têm que esperar por ligação para a capital de distrito.
A este rol de queixas, os habitantes acrescentam ainda duas inquietações.
Uma relaciona-se com o socorro e o tempo de chegada ao hospital, em caso de emergência médica, tendo em conta a distância adicional que as ambulâncias têm que percorrer.
A outra liga-se ao facto da povoação correr o risco de ficar isolada, caso venha a ocorrer uma cheia que corte as estradas para Almeirim ou Alpiarça.
E outra das questões que está a causar transtornos acrescidos é o atravessamento dos autos sem carta, que, por lei, estão proibidos de circular no troço do IC10 e atravessar a ponte Salgueiro Maia.
O que deixa duas alternativas, para chegar a Santarém: ou a ponte Rainha D. Amélia, em Muge, concelho de Salvaterra de Magos, ou a ponte da Chamusca, por onde a volta é maior ainda.
Na Tapada, há o caso de uma residente que trabalha na zona industrial de Santarém, obrigada a percorrer cerca de 40 quilómetros para chegar ao emprego.
Mas há que considerar também os condutores de Santarém que passavam na D. Luís para chegar a Almeirim ou Alpiarça, e vice-versa, obrigados a percorrer muito mais quilómetros para chegar ao destino.
«O Ribatejo»
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