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domingo, 6 de junho de 2010

CRISES E LIDERES

Artigo de Opinião
Por: Anabela Melão


Esta crise pede desesperadamente um líder.
Ora, há os que crêem que nascem dotados, predestinados para mudar o mundo e para epopeicos destinos. Dizem assistir-lhes características inatas: energia, inteligência, auto confiança, persistência, e capacidade para influenciar. Se assim fosse, bastaria acalentar o “dom” e catalizá-lo para uma direcção estrategicamente definida. E havia líder.

Ora, há os que defendem que são as circunstâncias específicas e os contextos familiares e sociais que potenciam as bases para revelar a arte de liderar. E saberíamos quem serão os líderes.

Ora, há os que assumem um certo determinismo pessoal e optam por acreditar que o acesso à liderança é algo democratizado. Serão ou não lideres.

Cavaco Silva foi, por acaso, tal como Rui Rio, um inesperado líder. Emergiu do Congresso da Figueira da Foz, marcado para ser um líder temporário e recorrível, como Rio, também, de resto. Ambos são a prova de que os líderes emergem subitamente e de que até os próprios desconhecem ter tal qualidade. Outros emergem apesar do meio, tal é este desfavorecido, à partida. E aqui temos Pedro Passos Coelho, que atravessou o deserto, a maior custo que Mário Lino.

Certo, parece-nos, é que temos entre mãos um problema geracional. Os líderes não nascem como “grandes” líderes, mas podem revelar, à partida, desde crianças, sejam a família e o meio bons observadores, maiores capacidades para aglutinar vontades colectivas. A genética, as experiências familiares, a educação e a cultura têm um papel fundamental e condicionam o desenvolvimento da personalidade e do carácter de um indivíduo, é sabido. Mas isso não significa que quem está à frente de uma consola tem mais possibilidades de ser um novo grande líder que o menino que joga à bola. Podem até desenvolver capacidades de liderança viradas para diferentes sentidos. O que me preocupa é que, a pretexto de uma envolvente de consumismo, de materialismos, se desperdicem os afectos, e se deixe de dar o colo de irmãos, primos, pais, e, sobretudo, o dos avós. Não me convencem que um serão à lareira, ouvindo histórias de família, de arrebatados heroísmos, de como se superaram sacrifícios em tempos difíceis, e dos sonhos que faltam cumprir aos que nos precederam, sejam menos válidos que horas à frente de telemóveis, computadores ou televisões. Os nossos pequenos estão a sofrer uma deseducação pela informática e pela mecanização que os afastou da palavra e a eloquência é uma arma valiosa nas mãos de um líder.

“Contrariamente à opinião de muitas pessoas, os líderes não nascem assim. Os líderes fazem-se através do esforço e trabalho árduo.” alegava Vince Lombardi (um treinador de referência no futebol americano). Harold Geenen, CEO da IT&T afirmava que “A liderança não pode na verdade ser ensinada. Apenas pode ser aprendida”.

A importância de, neste momento, se falar de liderança decorre de estarmos em crise. E situações de crise exigem liderança directiva. A atenção e necessidade profissionais têm de ser redireccionadas, desde cedo, pela família e pelos professores, para a avaliação da profundidade, da qualidade e do potencial de liderança (independentemente do grau de liderança), e da sua adequação e resposta a dados cenários. Com base nesta convicção, o carácter e a personalidade de uma criança-pessoa são as qualidades morais mais determinantes, evidentes e consensuais, e aquelas sem as quais nenhum líder se revela.

Liderança é, na maioria dos casos, um atributo pouco intangível e que se não define com exactidão, mas que se sente quando se manifesta. Como o “sopro de Deus”. Nascido ou desenvolvido, um líder será sempre alguém muito especial e raro.

“Os sentimentos elevados vencem sempre no final; os líderes que oferecem sangue, trabalho, lágrimas e suor conseguem sempre mais dos seus seguidores do que aqueles que oferecem segurança e diversão. Quando se chega a vias de facto, os seres humanos são heróicos.” (George Orwell).

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