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terça-feira, 15 de junho de 2010

O carro de luxo e as laranjas oferecidas de Álvaro Cunhal

A agenda de Álvaro Cunhal tinha sempre inscritas várias datas de romagens comunistas. O secretário-geral nunca faltava às homenagens aos mártires comunistas ou a datas revolucionárias. Tanto podia ser mais um aniversário da fuga de Peniche, o 18 de Janeiro na Marinha Grande ou mais um ano sobre a morte de Catarina Eufémia. Cunhal deslocava-se nessas romagens periodicamente ou sempre que havia um motivo para celebrar que exigia a dignidade da presença do secretário-geral.
Baleizão, onde está o busto da ceifeira Catarina Eufémia morta por um tiro do GNR Carrajola durante uma repressão aos trabalhadores alentejanos, era ponto certo, e os velhos comunistas da terra ainda hoje relembram a sua presença e o facto de o acompanharem durante a visita à região.
Cunhal trabalhava durante essa viagens preparando os discursos. Houve uma empresa que resolveu oferecer ao secretário-geral um carro de alta gama para que pudesse fazer as suas viagens de um modo mais confortável e seguro, mas "ele nunca pôs os pés nesse carro" porque nem lhe passava pela cabeça afrontar os trabalhadores com ostentação e modo de ser que não eram seus. Noutra vez, quando regressava de Alpiarça deram-lhe um saco de laranjas. Cunhal não o abriu e, chegado à sede do PCP, em Lisboa, entregou a fruta para ser distribuída.
«DN»

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