A profunda mutação económica, social, cultural e política que se tem verificado nas últimas décadas e a mudança profunda operada nos programas políticos e nas práticas governativas dos partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas, pode legitimamente suscitar a questão, faz sentido continuar a lutar pelo socialismo democrático?
Sobre esta matéria trava-se um interessante debate no qual se discute se as ideias socialistas não terão caducado no mundo de hoje, mesmo para as correntes políticas que se reclamam dessas ideias.
Colocando o debate noutro plano, poder-se-á perguntar, o que tem havido de socialista na política do governo do Partido Socialista liderado por José Sócrates? Dever-se-á acrescentar ainda outra questão, no quadro do processo multidimensional da globalização e da integração na União Europeia, que margem ficará para a aplicação de programas socialistas?
A resposta a estas questões não se esgota num simples post e ganharia em ser feita a várias vozes, mas desde já adianto que considero que continua a fazer sentido lutar pelo socialismo democrático e ser militante do Partido Socialista.
O socialismo democrático nunca confundiu os diferentes programas eleitorais que apresentou e procurou concretizar, que não representaram a forma única e definitiva de realizar os valores do socialismo democrático.
Sejamos claros, o PS modificou, por exemplo, as suas concepções sobre o papel das nacionalizações na construção do socialismo democrático, mas não abdicou de defender uma sociedade mais livre, mais igualitária e mais solidária.
A questão de fundo é esta: o que deve permanecer são os valores que são a razão de ser da nossa luta e sobre cuja concretização devemos discutir, existindo naturais diferenças de opinião sobre a adequação das políticas a privilegiar e o grau de intensidade da sua concretização.
Tudo o resto, programas, projectos, medidas, é mutável, sujeito a uma análise concreta em função da situação existente. É por isso que o Partido Socialista precisa de ser aquilo que muitas vezes não é, um espaço de debate político permanente com fronteiras abertas. Temos que elaborar permanentemente propostas que representem aproximações cada vez mais exigentes na concretização desses valores.
Na Declaração de Princípios do PS afirma-se que: «Os valores da liberdade, da igualdade e da solidariedade, sempre tem orientado o pensamento e a acção dos socialistas. As lutas contra a exploração, contra a opressão, contra os privilégios no acesso aos bens de cultura e do espírito, contra todas as formas de injustiça e discriminação, contra o fatalismo e todas as formas de submissão que negam ou diminuem o papel do ser humano como sujeito da história, fizeram-se e fazem-se em nome desses valores».
Hoje existindo um governo com maioria absoluta torna-se necessário que o Partido Socialista seja uma entidade viva e uma instância simultaneamente solidária e crítica das políticas do governo, o que não se tem verificado.
Temos de reconhecer que muitas medidas e propostas que foram concretizadas pelos socialistas se revelaram muito discutíveis, foram mal concretizadas, e estavam, ou estão, em contradição com os valores do socialismo democrático. Não podemos, contudo, ignorar que o activo da actuação do governo é francamente superior ao seu passivo, que todas as substituições feitas na composição do governo representaram passos na boa direcção e, que o PS, continua a dar um contributo insubstituível para um futuro viável e mais justo e mais moderno para o País.
Uma grande intelectual, católica e socialista, Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos maiores poetas contemporâneos de língua portuguesa, escreveu, em 1 de Maio de 1975, num poema intitulado “Para Os Militantes do PS”:
«…
Porque não estás só mas continuas
E os outros unem suas mãos às tuas
Pr’a que um mundo mais justo e livre nasça
Por isso avanças sempre e não recuas
Connosco a poesia está nas ruas».
(“O Nome das Coisas”, publicado em 1977, pela Moraes Editores)
Estamos ainda a tempo e existem condições, que todos temos o dever de aproveitar para unir, através do debate, do confronto, do diálogo e da colaboração em torno do Partido Socialista, não apenas todos os seus militantes, mas também todos aqueles para quem este continua a ser um instrumento insubstituível para concretizar os valores do socialismo democrático.
2 comentários:
ESTE PS NÃO É UM PARTIDO SOCIALISTA
Resposta a "Ser socialista hoje", de J. Leitão
Na minha modesta opinião este texto que estou a comentar contém algumas verdades factuais e várias mistificações.
Eis as verdades factuais que o autor identifica, seja em forma de pergunta retórica ou de afirmação destemida (mas logo vemos que inconsequente) do autor: "(...) o que tem havido de socialista na política do governo do Partido Socialista liderado por José Sócrates?"; (...)Temos de reconhecer que muitas medidas e propostas que foram concretizadas pelos socialistas se revelaram muito discutíveis (...) e estavam, ou estão, em contradição com os valores do socialismo democrático." O autor parece não ter dúvidas. Eu também não.
Partindo destas verdades, a "crença" do autor vai imediatamente tentar conduzir-nos para a grande mistificação que faz sobreviver a social-democracia e, em Portugal, o PS; aquela que leva ao engano e ao desespero milhares de portugueses, e que continuará a fazê-lo enquanto não for totalmente compreendida pela grande maioria de nós: "(...) considero que continua a fazer sentido lutar pelo socialismo democrático e ser militante do Partido Socialista (...). Estamos ainda a tempo e existem condições, que todos temos o dever de aproveitar para unir, através do debate, do confronto, do diálogo e da colaboração em torno do Partido Socialista, não apenas todos os seus militantes, mas também todos aqueles para quem este continua a ser um instrumento insubstituível para concretizar os valores do socialismo democrático". Atenção: perceberam todos a intenção do homem?
Esta ideia final do autor parece não se situar no plano da análise racional da realidade e é negada pela verdade histórica do que tem sido, desde 1974, a acção política do PS, claramente comprovada pela prática de poder (com Soares, com Guterres, com Sócrates, com o resto da corte). Essa prática foi sempre contraditória com a tal "Declaração de Princípios" e o tal "socialismo democrático" de que fala o autor do artigo (peço aos que estiverem interessados que dêem uma olhadela por essa Declaração do PS de 1974, para verem bem por onde ficaram os "princípios" lá apregoados. E se o PS não tem, nem nunca teve, a intenção de cumprir estes "princípios", então por que razão eles lá foram colocados e alguns deles continuam a ser apresentados? É tão fácil a resposta...
Para concluir: se o autor do texto segue um raciocínio lógico mas utiliza argumentos que a racionalidade e a experiência histórica nega, então qual é o seu objectivo final?
Julgo que só pode ser o mesmo de sempre do PS e dos seus "crentes": continuar a mentira e o engano.
Em Alpiarça temos a obrigação de perceber estes jogos.
ESTE PS NÃO É UM PARTIDO SOCIALISTA
Resposta a "Ser socialista hoje", de J. Leitão
Na minha modesta opinião este texto que estou a comentar contém algumas verdades factuais e várias mistificações.
Eis as verdades factuais que o autor identifica, seja em forma de pergunta retórica ou de afirmação destemida (mas logo vemos que inconsequente) do autor: "(...) o que tem havido de socialista na política do governo do Partido Socialista liderado por José Sócrates?"; (...)Temos de reconhecer que muitas medidas e propostas que foram concretizadas pelos socialistas se revelaram muito discutíveis (...) e estavam, ou estão, em contradição com os valores do socialismo democrático." O autor parece não ter dúvidas. Eu também não.
Partindo destas verdades, a "crença" do autor vai imediatamente tentar conduzir-nos para a grande mistificação que faz sobreviver a social-democracia e, em Portugal, o PS; aquela que leva ao engano e ao desespero milhares de portugueses, e que continuará a fazê-lo enquanto não for totalmente compreendida pela grande maioria de nós: "(...) considero que continua a fazer sentido lutar pelo socialismo democrático e ser militante do Partido Socialista (...). Estamos ainda a tempo e existem condições, que todos temos o dever de aproveitar para unir, através do debate, do confronto, do diálogo e da colaboração em torno do Partido Socialista, não apenas todos os seus militantes, mas também todos aqueles para quem este continua a ser um instrumento insubstituível para concretizar os valores do socialismo democrático". Atenção: perceberam todos a intenção do homem?
Esta ideia final do autor parece não se situar no plano da análise racional da realidade e é negada pela verdade histórica do que tem sido, desde 1974, a acção política do PS, claramente comprovada pela prática de poder (com Soares, com Guterres, com Sócrates, com o resto da corte). Essa prática foi sempre contraditória com a tal "Declaração de Princípios" e o tal "socialismo democrático" de que fala o autor do artigo (peço aos que estiverem interessados que dêem uma olhadela por essa Declaração do PS de 1974, para verem bem por onde ficaram os "princípios" lá apregoados. E se o PS não tem, nem nunca teve, a intenção de cumprir estes "princípios", então por que razão eles lá foram colocados e alguns deles continuam a ser apresentados? É tão fácil a resposta...
Para concluir: se o autor do texto segue um raciocínio lógico mas utiliza argumentos que a racionalidade e a experiência histórica nega, então qual é o seu objectivo final?
Julgo que só pode ser o mesmo de sempre do PS e dos seus "crentes": continuar a mentira e o engano.
Em Alpiarça temos a obrigação de perceber estes jogos.
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