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quarta-feira, 17 de junho de 2009

O papel (ingrato) das forças de segurança nas sociedades, modernas.

Artigo de Opinião


As forças de esquerda acreditam no “homem bom” e, por isso defendem que as sociedades modernas não precisariam de forças militares e de segurança. E se o homem não for “homem bom” entendem ainda que a sociedade não pode “fazer-lhe mal” punindo-o. E se ele cometer crimes, este tem direito a uma “vida digna” na prisão e que o castigo seja o mais suave possível, mesmo que as suas vitimas tenham ido para o “outro mundo” ou, sobrevivendo “carreguem a cruz” do crime sofrido, porque a culpa não é dele, mas sim da sociedade quem tem a obrigação de o aceitar como ele é e mantê-lo.

Já os partidos de direita, defendem outros valores e outras práticas, talvez lembrando-se do seu passado ideológico e comportamental. Entendem que o homem só será um “homem bom” se for “forçado” a isso, quer pela educação quer pelos seus valores da socialização, incluindo a religião, bem como a disciplina e uma justiça eficaz.

Vivemos assim entre duas ideologias que nesta matéria não entendem que há “homens maus” e que, por educação/formação ou falta dela, não sabem ou não querem “coabitar” em sociedades democráticas que, utopicamente, deveriam ser perfeitas. É óbvio que num mundo tão desigual, estão reunidas as condições para uma sociedade de conflitos, sendo os “criminosos” os agentes modernos dessas “lutas”.

A “brandura” perante estes “homens maus” começa logo na família, continua na escola e vai até outras forças e instituições que têm também a obrigação de “educar” os “homens maus”, mas preferencialmente antes que eles se “convertam” em “inimigos” da sociedade a que pertencem. Dispenso-me de enumerar os “culpados” mas neles também incluo aqueles que tiveram e muitos continuam a ter, a “brilhante ideia” de mandarem construir “bairros problemáticos”, normalmente nos arredores das cidades, porque está provado que é um erro sociológico grave.
São tantos os exemplos, mas são maiores e mais graves nos arredores de Lisboa, Porto e Setúbal.

Mas infelizmente, os problemas passam-se em qualquer lugar, mesmo nas pequenas povoações já existem crimes impensáveis no passado recente, por força das alterações que se foram operando na nossa sociedade. Perderam-se valores educacionais e sociais e esta “onda de crimes” não tem apenas como “culpada” a crise económica, mas sim uma crise social muito mais abrangente, incluindo-se também uma crise de autoridade. Obviamente que não se pode/deve confundir autoridade com ditadura, mas nas sociedades democráticas, a autoridade tem que ser forte, respeitada e respeitadora e defensora das pessoas e bens e das instituições.

No meio de tudo isto, temos os políticos entretidos com as “guerrilhas” ideológicas e partidárias, por um lado, e as forças de segurança por outro. Estas (as forças de segurança) têm dados alguns “tiros nos pés”, ao longo da vida da nossa democracia, mas acabam por ser o “fiambre da sanduíche”, isto é, entaladas que estão entre os políticos que em vez de as dotarem com os meios adequados, e por vezes as atacam, desautorizando-as ou desmotivando-as, e os criminosos que vão crescendo em número e cada vez mais “fortes” nos meios e nas suas práticas. Assim, surpreende-me que ainda haja homens/mulheres que querem ser polícias numa época em que não compensa face ao elevado risco que correm.
Arriscam a própria vida e depois correm também o risco de serem eles os “culpados” de atacarem e prenderem os “homens maus”. Por vezes, até a própria população se vira contra as forças de segurança, tomando partido dos “homens maus”. Veja-se, por exemplo, o elevado número de agressões às forças de segurança nos últimos tempos (até invasões de esquadra já se verificaram), atitudes inimagináveis numa sociedade democrática, mas que são uma realidade crescente.
Será possível a “sobrevivência” dos regimes democráticos sem umas forças de segurança fortes, motivadas e bem apetrechadas, mas responsáveis? Só por pura utopia se pode acreditar que os “homens maus”, mais ainda quando actuam em redes e “gangs” não destruirão, mais cedo ou mais tarde, as sociedades democráticas.
Custa a entender que este é um problema de todos aqueles que defendem uma sociedade moderna e democrática e que não se confinando ao espaço do nosso país, atinge mais uns do que outros? Mais policias? O problema não se resolve por aí, porque é impensável ter um agente em cada esquina ou como “guarda-costas” de cada cidadão. Ou será que é a vitima a culpada do crime e do seu crescimento? Este é, pois, um problema supra partidário e que diz respeito a todos nós, independente da raça ou etnia.

Serafim Marques/Economista

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